O que o Kiss e Justin Bieber têm em comum?

Era o início da década de 1970. Alice Cooper já havia aberto a porta do circo dos horrores, fazendo de suas apresentações experiências chocantes para o público e um prato cheio para a crítica descer o malho. Seguindo os passos do velho Coop, o Kiss fez barulho na cena nova-iorquina até então dominada pelo New York Dolls, levando algo que já era escandaloso para o próximo nível.

A princípio, os quatro mascarados que subiam ao palco cuspindo fogo e sangue foram espinafrados. Uma resenha publicada no Seattle Daily Times em 27 de maio de 1974 dizia o seguinte: “Eu espero que estes quatro mascarados, cujos nomes pouco importam, estejam guardando algum dinheiro para o futuro, pois eles não durarão por muito tempo.” Pois é, o tempo provou justamente o contrário.

A questão é que, desde os primórdios, o Kiss entendia: all press is good press — o famoso “falem mal, mas falem de mim.” Consciente de que os fãs é que mandam, a banda deixava sempre nas mãos deles o ultimato. E dessa maneira, sobreviveram sendo odiados quase na mesma proporção que são amados, provando que o oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença.

Tendo isso em mente, avancemos rumo ao século XXI, onde grandes astros da música pop, assim como o Kiss no passado, mobilizam tanto adoradores quanto haters. Managers de Justin Bieber e muitos outros reconhecem o mesmo que Gene Simmons e companhia: diante da incapacidade de agradar a todos precisam encontrar meios de não serem sumariamente ignorados pela mídia, que é o elo entre o artista e aqueles que podem amá-lo ou odiá-lo.

Fazendo menção à célebre frase de George Bernard Shaw, “the secret to success is to offend the greatest number of people”, a diferença reside apenas na maneira com a qual um e outro atraem os olhos da imprensa. Não há registros de Gene Simmons pichando muros ou fumando maconha em público, por exemplo.

Por quê é importante ter haters? Simples: só o fato de existirem — seja manifestando o seu ódio em silêncio ou extravasando através de textos e vídeos que no fim das contas são clipping para assessorias de imprensa — assegura que o artista está na boca do povo.

Durante algum tempo o clipe de "Baby", canção que revelou Bieber, foi, simultaneamente, o vídeo com mais visualizações e mais opções "Não gostei" no YouTube. Isso é estar na boca do povo.

Todo mundo tem um lado crítico. Todo mundo vai emitir uma opinião. Esperto é o artista — ou o manager — que enxerga isso e os milhões de dólares caindo do céu mais à frente.

Por Marcelo Vieira

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