High on Fire: 10 anos de Blessed Black Wings

Matt Pike é um ícone da música lamacenta, e isto está estampado neste disco, que é um verdadeiro clássico perdido do gênero. Consagrado por ter sido o guitarrista do Sleep, viu a sua banda cair em ruínas no fim dos anos 90 devido a uma briga com a gravadora, que não estava disposta a lançar um álbum (Dopesmoker) contendo apenas uma música de 60 minutos. A desconstrução de um riff repetitivo em uma hora, da forma mais lenta, agonizante e humanamente possível.

Enquanto seus companheiros de Sleep montaram o projeto experimental Om, Mike decidiu continuar nessa linha stoner/doom formou o High on Fire em 1998, onde também assumiu os vocais. O disco aqui destacado é o terceiro registro da discografia da banda, sucedendo o então aclamado Surrounded by Thieves, de 2002. É o único com o baixista Joe Preston (Sunn O))), ex-Melvins), além de contar com o renomado Steve Albini na produção.

Albini é sempre lembrado por conseguir trazer o melhor som para uma banda, sem deixar de lado as características próprias dela. E é isso que ele consegue também aqui, tendo resultado um clima seco e intenso por todas as frentes. Ao contrário do álbum anterior, aqui o High on Fire não fica totalmente preso ao doom; o som é mais nítido e há momentos mais ágeis, beirando ao sludge-metal em certos pontos.

"Devilution" inicia o registro explicando o motivo das comparações com o Motörhead: a voz de Mike tem grunhidos semelhantes a de Lemmy. Além disto, o baixo e guitarra constroem uma parede sonora que é um soco na cara como só o veterano trio poderia criar. Mas no meio disto tudo, há também um clima mais negro e arrastado semelhante ao que o Slayer fez em "South of Heaven". Já "The Face of Oblivion" soa menos incendiária, não suave o suficiente para ser uma balada.

O álbum cresce a cada audição e não soa monótono, principalmente por fugir de alguns clichês do estilo, como os traços semi-acústicos típicos do Converge em "To Cross the Bridge", por exemplo. Merece ainda destaque a faixa-título, que apresenta 7 minutos épicos, bestiais e apocalípticos; os riffs pesados de "Anointing of Seer"; além da potente instrumental "Sons of Thunder". Um disco que consegue ser explosivo e marca os caminhos que a banda seguiria nos ótimos trabalhos posteriores.


Por Giovanni Cabral, do Trajeto Alternativo 

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