Muse e o simbolismo presente na capa de Black Holes and Revelations


O Muse é um trio britânico de rock formado em 1994 por Matthew Bellamy (guitarra e vocal), Christopher Wolstenholme (baixo e vocal secundário) e Dominic Howard (bateria). Seu estilo é difícil de ser definido. Podemos dizer que eles experimentam de tudo, indo do rock sinfônico ao alternativo, além do flerte com o pop em seus últimos trabalhos. 

Acontece que Matthew é dono de uma mente perturbada e genial - sim, essas coisas estão totalmente relacionadas. O frontman da banda tem uma fixação em toda teoria conspiratória que se possa imaginar: aliens, dominação mundial, controle de mentes, etc. Todos esses temas se encontram muito presentes na carreira da banda, e muitas vezes passam despercebidos. 

O assunto que quero abordar nesse texto é especificamente sobre a capa de um dos álbuns da banda e o simbolismo por trás da mesma. O registro em questão é o Black Holes and Revelations (2006), quarto disco do Muse, que traz algumas das músicas mais famosas da banda como “Starlight”, “Supermassive Black Hole” e “Knights of Cydonia”.

A capa traz quatro homens de terno sentados em volta de uma mesa em algum lugar deserto. Foi criada pelo designer gráfico inglês Storm Thorgerson (1944-2013), conhecido por seus trabalhos emblemáticos com o Pink Floyd, sendo o autor da famosa capa do The Dark Side of the Moon

Thorgerson afirma ter tirado inspiração para a capa do BH&R das faixas do próprio álbum. “Knights of Cydonia” e “Invincible” seriam músicas muito calcadas numa melodia que remete ao galopar de um cavalo, e isso o fez pensar nos Quatro Cavaleiros do Apocalipse. De origem cristã, os Quatro Cavaleiros são descritos no livro bíblico de Apocalipse por meio de uma visão do Apóstolo João, e seriam eles: Peste, Guerra, Fome e Morte. 



Apesar de ser um conceito interessante, ainda não parecia completo para Thorgerson. O Muse não deveria ter na capa de seu álbum quatro males tão mediáveis, e sim males contemporâneos como a própria banda. Assim, o artista inglês dispôs ao redor de uma mesa quatro homens de terno representando por sua vez a paranoia, o narcisismo, a intolerância e a ganância, males que assolam a sociedade atual na visão de Thorgerson. O terno que cada homem usa também corrobora com aquilo que seu personagem representa. 

- Paranoia: usa um terno estampado inteiramente por olhos, se mostrando sempre atento a tudo que acontece ao seu redor. 

- Narcisismo: usa um terno com vários espelhos, fazendo com que ele nunca consiga se ver tanto quanto deseja.

- Intolerância: usa um terno repleto de símbolos religiosos, forte crítica às religiões que por muitas vezes se mostram contra valores atuais da sociedade.

- Ganância: usa um terno dourado, fazendo alusão à riqueza. 

A capa original trazia o solo de Bardenas, na Espanha, muito mais claro do que o solo da versão final. Por insistência de Matthew Bellamy o chão foi colorido para algo mais vermelho, que se assemelhasse ao solo de Marte. A imagem do planeta Terra ao fundo reforça a ideia de que o momento não acontece no nosso corpo celeste (apesar dele também estar presente ao fundo da primeira versão da capa).

Isso tudo é dito pelo próprio Storm Thorgerson no seu livro The Raging Storm, publicado em 2011. Mas além do que ele diz, o que podemos teorizar quanto a “interação” dos Cavaleiros na capa do álbum? 

Percebam que a Intolerância olha fixamente pra Ganância. Isso poderia representar o quanto as religiões buscam a riqueza atualmente. Já a Ganância, por sua vez, vira o rosto pra olhar para a Paranoia, o que poderia dizer que quanto mais bens a pessoa possui, mais paranóica ela fica com a possibilidade de perdê-los. E o aparelho preso à lateral da cabeça da Intolerância? Ela poderia querer tirar a Paranoia do seu campo de visão, e acreditar que não está sendo vigiada por ninguém. Mas qual seria o motivo do Narcisismo e da Paranoia se encararem? E quantas das sentenças anteriores estariam corretas? 

O Muse possui em Black Holes and Revelations, além de um CD de qualidade, uma capa que nos diz muito mais do que imaginamos, possibilitando até hoje debates e teorias sobre seu significado. 

E você, o que acha que essa imagem pode representar? 


Por Eduardo Palini

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