Review: The Baggios - Brutown (2016)


O rock brasileiro vive uma ótima fase já há alguns anos. A quantidade de boas bandas em diferentes pontos do país anima e impressiona. Basta tirar a preguiça do ouvido, pesquisar um pouco e se divertir com as mais variadas abordagens sonoras.

Os sergipanos do The Baggios estão entre as minhas preferidas. Formada em 2004 na cidade de São Cristóvão, o duo que conta com o o vocalista/guitarrista Julio Andrade e o baterista Gabriel Carvalho possui uma sonoridade que parte do rock e vai ao encontro, simultaneamente, do blues e de sonoridades regionais, formando um painel musical original e cativante.

Com três discos na bagagem - The Baggios (2011), o ótimo Sina (2013) e o recém-lançado Brutown (2016), além do ao vivo 10 Anos Depois (2015) -, o The Baggios mostra em seu novo disco uma maturidade onipresente e uma profundidade sonora maior. A participação do baixista e tecladista Rafael Ramos tem muito a ver com isso, fazendo com que a banda possa dar alguns passos além das limitações geradas pela relação guitarra e bateria, abrindo novos horizontes e tornando reais caminhos sonoros até então impossíveis de serem trilhados. Uma evolução natural e que já foi vivida por formações similares como o Black Keys, por exemplo, que assim como o Baggios partiu da crueza do blues rock para a variedade maior de seus trabalhos mais recentes.

Brutown traz doze faixas e foi produzido por Felipe Rodarte e pela própria banda. Gravado no estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, o álbum traz diversas participações especiais: Emmily Barreto (do Far From Alaska) canta em “Estigma”, Jorge Du Peixe (Nação Zumbi) em “Saruê”, Fernando Catatau (Cidadão Instigado) toca guitarra em “Soledad”, Felipe Ventura (Baleia) coloca o seu violino em “Soledad" e “Miquim" e a dupla dos Autoramas, Gabriel Thomaz e Erika Martins, faz backing vocal em “Desapracatado”. A bela capa foi criada por Neilton Carvalho, guitarrista do Devotos do Ódio.

Outro ponto que merece menção é a abordagem social e política presente em várias músicas. A violência dos grandes centros urbanos é cantado em “Estigma" e na faixa-título, enquanto a tragédia de Mariana (MG) e o massacre do Bataclan (Paris) são retratados na linda “Sangue e Lama”.

As canções do disco impressionam o ouvido. Esbanjando maturidade, o The Baggios entrega um tracklist cheio de ótimas músicas, onde é até mesmo difícil encontrar destaques individuais. As já citadas “Estigma" e “Brutown" chutam o balde logo no início, com metais comendo soltos na primeira e uma longa introdução levando ao bater de cabeça na segunda. “Sangue e Lama” é um blues dono de uma beleza inebriante, enquanto o violino e o arranjo criado por Felipe Ventura são a cereja do bolo na linda “Miquin”. “Medo" vem com um solo de teclado na parte central que é uma delícia, enquanto o groove dá o tom na sacolejante “Vivo Pra Mim”.

Brutown é o melhor disco do The Baggios. E isso é um feito e tanto por um motivo bem simples: os álbuns anteriores já eram muito bons. Temos aqui uma banda que sabe o que quer, com ideias originais e claras que levam a sua música por caminhos cheios de personalidade.

Sem dúvida, um dos grandes discos lançados no Brasil este ano. Até agora, o grande álbum de rock disponibilizado por uma banda brasileira neste 2016.

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