Review: Jack The Joker - Mors Volta (2016)


Metal progressivo é o nome dado ao subgênero que uniu as experimentações musicais do rock progressivo dos anos 1970 com o peso e distorção do heavy metal dos anos 1980. Nessa categoria estão juntas bandas com sons tão díspares quanto Symphony X e Opeth, clássicas como Dream Theater e inovadoras como Mastodon. O desafio é agregar ao metal elementos como o jazz, folk e música erudita e daí sair um resultado coeso, o que nem sempre ocorre, fazendo com que o estilo seja conhecido principalmente pelos seus excessos. Porém, o gênero também conta dentre suas características com a habilidade técnica de seus músicos, além da criatividade e inovação de seus compositores.

O paradigma do prog metal foi definido nos anos 1990 por bandas dos Estados Unidos e Europa. Embora nunca tenha sido um estilo massificado, conquistou seu nicho de fãs e influenciou diversos artistas ao longo dos anos. O Brasil não chegou a produzir um grande nome no gênero, embora características do prog estejam presentes nas duas mais famosas bandas nacionais, Angra e Sepultura. É certo que há uma grande quantidade de grupos de progressivo de inquestionável qualidade, mas ainda assim não há um grande representante nacional do estilo. Lacuna que pode ser preenchida com o trabalhando da banda cearense Jack The Joker.

Será cedo para dizer que a banda está aí para suprir essa lacuna? Após o ouvir o segundo e mais recente disco dos caras, creio que não. 

Jack The Joker é um quinteto surgido em Fortaleza. A banda lançou seu debut In the Rabbit Hole em 2014 e surpreendeu tanto pelo virtuosismo técnico de seus integrantes quanto pela altíssima qualidade das composições: intrincadas, complexas, ora mais extremas e pesadas, ora mais suave e acústicas, mas sempre coesas, sem se perder na virtuose de seus músicos. A banda vem divulgando seu trabalho principalmente através da internet. Seus discos estão disponíveis em plataformas de streaming, You Tube, download, venda física, além de intensa atividade no Facebook oficial onde divulgam seus shows, lançamentos e vídeos.


Dois anos após a estreia, a banda lança seu segundo disco, Mors Volta. Dizem que o segundo álbum é um teste. Os primeiros discos, em geral, são reuniões de composições que foram amadurecidas ao longo dos primeiros anos de ensaio e apresentações de uma banda, já o segundo chega com menos tempo e mais exigência para compor um trabalho inteiro, fechado e redondinho para lançamento. É quando a banda mostra a que veio, mostra seu poder de composição e capacidade de manter ou até superar a qualidade inicial. Jack The Joker passa no seu teste? Com louvor.

Mors Volta é superior a seu antecessor, mostra um banda com sua identidade definida, mas sem abandonar a criatividade com composições ainda mais coesas. A banda escolheu investir em peso e groove que permeiam todo o álbum, dando um ar de jam a certos trechos e chegando a ser quase dançante na canção "Brutal Behavior". É difícil dizer, no meio tantos músicos talentosos, quem se sai melhor, como os guitarristas Lucas Colares e Felipe Facó, milimetricamente técnicos, ou a capacidade do vocalista Raphael Joer, que consegue ir do gutural ao agudo, mas é preciso destacar a cozinha formada por Vicente Ferreira, cuja bateria executa dos movimentos complexos aos mais simples com precisão e o baixo de Lucas Arruda, que injeta groove com seus slaps nos momentos certos de cada canção.

O disco impressiona desde seu início com as viradas de bateria que lembram muito a introdução de "The Wolf is Loose" do Mastodon, mas que segue numa pegada que lembra essa fase mais pesada de prog metal que o Symphony X vem mostrando desde Paradise Lost, com a diferença que o Jack The Joker tem mais ritmo e menos interesse em compor baladas. O que não quer dizer que a banda não tenha um lado mais melódico. 

Se em seu primeiro disco já haviam mostrado bom gosto ao enxertar instrumentos acústicos em algumas composições, em Mors Volta ela se guarda para o final. "Venus & Mars", canção de encerramento, é a mais ambiciosa do disco, tem 24 minutos de duração e busca um síntese de toda a musicalidade apresentada pela banda: peso, groove, jams instrumentais, virtuosismo correndo solto, somados à adição de trechos acústicos belíssimos com flautas e violões construindo momentos contemplativos na canção, sem dúvida a melhor composição do disco. Tudo isso embrulhado numa capa cuja arte me remete ao primeiro álbum do Black Sabbath, além de uma altíssima qualidade de gravação. Basta uma audição atenta ao trabalho e todos os instrumentos se mostram claros e límpidos aos ouvidos, ressaltando o talento de cada músico.

Jack The Joker é uma banda que faz bonito e tranquilamente pode ser colocada ao lado dos grandes nomes do metal progressivo como Dream Theater, Opeth e Symphony X, sem ficar devendo em nada aos clássicos. Só o que falta agora é o mundo e os headbangers do Brasil conhecerem esse nome promissor do metal brasileiro.





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