Forever Young: a duradoura influência do Alphaville na música pop


O título da coletânea da banda alemã Alphaville faz menção à “primeira colheita” de singles do grupo, um dos mais populares da cena synthpop dos anos 1980. First Harvest 1984-92 abre com “Big in Japan” e fecha com “Forever Young”, dois dos maiores hits do grupo e dois clássicos do pop oitentista. Entre ambas, outras pérolas da receita certeira do quarteto, composta por ingredientes como elementos eletrônicos, sintetizadores melódicos e letras filosóficas.

Formado em 1982 na cidade Münster, o Alphaville possui uma carreira longa e que segue gerando frutos. A banda entrou em um hiato após o seu quinto álbum, Salvation (1997), mas retornou em 2010 com Catching Rays on Giant e, desde então, lançou mais dois trabalhos, Strange Attractor (2017) e Eternally Yours (2022). Da formação clássica, apenas o vocalista Marian Gold permanece.

First Harvest, na verdade, foi a terceira compilação de canções do quarteto. Ela foi antecedida por Alphaville Amiga Compilation, lançada apenas na então Alemanha Oriental em 1988, e por Alphaville: The Singles Collection, que foi lançada somente nos Estados Unidos no mesmo ano. First Harvest chegou às lojas em março de 1992 e foi a primeira coletânea reunindo o material da banda a ser disponibilizada mundialmente, além de possuir um tracklist muito mais amplo que as duas anteriores, com quinze faixas vindas dos álbuns Forever Young (1984), Afternoons in Utopia (1986) e The Breathtaking Blue (1989). “Big in Japan” aparece em duas versões: a gravação original e uma versão mix de 1992, com mais de seis minutos de duração.

A música do Alphaville se caracteriza por uma mixagem pesada para os padrões do pop, característica recorrente na cena synthpop da década de 1980. As melodias vocais sempre cativantes de Marion Gold estão entre os principais pontos altos da banda, e se repetem tanto em canções dançantes como nas mais reflexivas, os grandes exemplos sendo justamente os dois maiores hits do grupo, “Big in Japan” e “Forever Young”. O trabalho de sintetizadores é excelente, cheio de sutilezas e detalhes que remetem a uma espécie de Kraftwerk menos robótico e mais pop. O bom gosto instrumental é uma constante, e isso fica evidente em canções como “For a Million”, que chega a ter até um tempero latino. Já a ótima “A Victory of Love”, com seu clima sombrio e Marion cantando em tons mais graves, pode até ser confundida com algo do Depeche Mode pelos desavisados. O trio Bernhard Lloyd, Frank Mertens e Ricky Echolette, todos tecladistas, entrelaçam seus instrumentos em texturas e arranjos muito bem feitos.

O Alphaville foi muito popular no Brasil, com “Forever Young” fazendo parte da trilha da novela De Quina pra Lua, transmitida entre 1985 e 1986. “Big in Japan” e “Dance With Me” foram incluídas em dezenas de compilações ao longo dos anos, ao lado de sucessos de outros artistas.

A influência do Alphaville na música pop é notável, tendo deixado uma marca significativa no synthpop dos anos 1980, gênero no qual a banda desempenhou um papel fundamental na definição de seu som característico com uma abordagem pioneira no uso de sintetizadores e programações. O Alphaville destacou-se ao empregar tecnologia de forma criativa e adotar uma produção cuidadosa, o que se tornou uma influência para outros artistas que desejavam criar músicas eletrônicas envolventes e atmosféricas. Além disso, suas letras poéticas e filosóficas transcendem a superficialidade muitas vezes associada ao pop, conferindo uma profundidade singular ao gênero e inspirando outros artistas a seguirem um caminho semelhante.

First Harvest 1984-92 mostra que o legado do Alphaville vai muito além de “Big in Japan” e “Forever Young”, como demonstram pérolas como “Sounds Like a Melody”, “The Mysteries of Love”, “Jerusalem”, “Dance With Me”, “The Jet Set” e “Red Rose”, o que faz dessa compilação um título obrigatório para quem ama o pop dos anos 1980.


Comentários