Quadrinhos: Morgan Lost 1 e 2, de Claudio Chiaverotti (2020/2021, Editora 85)


A oferta de títulos da Sergio Bonelli Editore aumentou consideravelmente no Brasil nos últimos anos. Muito além de Tex, fomos apresentados a séries inéditas e outras que foram retomadas em nosso mercado, em um movimento que envolveu várias editoras. Um dos melhores exemplos desse cenário renovado é Morgan Lost, que é, ao mesmo tempo, um dos mais interessantes quadrinhos da editora italiana e um dos títulos menos comentados desse contexto todo.

Escrito por Claudio Chiaverotti, Morgan Lost conta a história de um caçador de serial killers. O cenário da trama é um mundo alternativo altamente burocratizado, localizado no tempo entre as décadas de 1940 e 1950. A arquitetura desse mundo equilibra a estética das primeiras décadas do século XX com elementos do Egito Antigo, e a cidade onde a história se passa, chamada Nova Heliópolis, é um pródigo berço de assassinos seriais gerados, em sua maioria, pela forma como a sociedade está organizada.

Um ponto que chama a atenção imediatamente em Morgan Lost é a colorização. Como Morgan é daltônico e só enxerga em tons de cinza e vermelho, as páginas replicam a sua visão, e o resultado acaba sendo algo bastante original e dá um toque único para a série. No início da leitura isso funciona como uma curiosidade, mas com o passar do tempo é impossível imaginar o mundo de Morgan Lost sem essa colorização específica.



A série está sendo publicada no Brasil pela Editora 85 em edições que reúnem dois números originais italianos, no formato 16x21 e com 196 páginas. A série está na sexta edição no Brasil, ou seja, já foram reunidos pela Editora 85 os doze primeiros números, exatamente a metade das vinte e quatro edições italianas que completam a história.

Assim como ocorre em diversas séries da Bonelli, Morgan Lost alterna diferentes artistas a cada nova história, mas devo dizer que os quatro ilustradores que trabalharam nos dois primeiros volumes conseguiram manter uma unidade estética. São eles: Michele Rubini, Giovanni Talami, Giovanni Freghieri e Val Romeo. Há pouquíssimas diferenças de estilo entre os quatro.

A primeira história de Morgan Lost apresenta a origem do personagem e as características peculiares do seu universo, como um telejornal extremamente popular focado em noticiar, com riqueza de detalhes, os crimes cometidos pelos serial killers. E, a partir deste início, a série embala em uma dinâmica que foca em um assassino serial por edição. Os roteiros são muito bem escritos, como é de costume nos títulos da Bonelli, e Chiaverotti sempre surpreende o leitor com reviravoltas inesperadas, o que é um grande acerto. As histórias equilibram ação e investigação, não economizam momentos de violência gráfica e proporcionam uma excelente leitura, especialmente para pessoas que tem interesse no fenômeno dos serial killers, como é o meu caso.


Os encadernados da Editora 85 foram muito bem feitas, como de costume, e trazem orelhas com ilustrações, guardas com texto de apresentação e introdução (na primeira edição) e reprodução das capas originais. O material foi traduzido por Júlio Schneider, velho conhecido dos leitores Bonelli e que traduziu dezenas – eu diria até mesmo centenas – de títulos da editora.

Morgan Lost é um quadrinho que merecia mais atenção. Mesmo na confraria de leitores da Bonelli, sempre muito fieis aos títulos da editora italiana, ele é menos comentado que os títulos mais populares. Porém, é um quadrinho com potencial para alcançar um público muito maior do que os já convertidos fãs de fumetti. Os dois primeiros encadernados são ótimos, e não vejo a hora de devorar todas as edições que já saíram no Brasil.

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