Ghost Reveries (2005): entre o oculto e o sublime, o álbum que redefiniu o Opeth


Lançado em 29 de agosto de 2005, Ghost Reveries é o oitavo álbum do Opeth e marca um ponto de virada fundamental na carreira da banda sueca. É o primeiro disco com o tecladista Per Wiberg como membro oficial e o último com o baterista Martin Lopez e o guitarrista Peter Lindgren. O álbum consolida a fusão entre o death metal progressivo característico do grupo e elementos de rock progressivo setentista, psicodelia e atmosferas sombrias, resultando em uma obra complexa, sombria e emocionalmente poderosa.

Ghost Reveries é um disco conceitual em espírito, ainda que não de forma rigidamente narrativa. O álbum explora temas como culpa, espiritualidade, perda e redenção, costurados por uma estética que mistura o peso opressivo do metal extremo com passagens etéreas e introspectivas. As composições, todas assinadas pelo vocalista e guitarrista Mikael Åkerfeldt – apenas duas, “Beneath the Mire” e “The Grand Conjuration”, possuem a parceria de Wiberg -, são longas e meticulosamente estruturadas, com mudanças de tempo, dinâmica e textura que evocam tanto o King Crimson quanto o Morbid Angel.

Faixas como "Ghost of Perdition", com seus quase 11 minutos, sintetizam o DNA do Opeth: riffs brutais se alternam com dedilhados acústicos e vocais limpos melancólicos, criando uma jornada sonora densa e cinematográfica. "The Baying of the Hounds" segue a mesma linha, misturando riffs pesados e dissonantes com um refrão marcante e melódico, além de explorar o uso expressivo dos teclados de Wiberg, que adicionam um clima espectral à composição. Já "The Grand Conjuration" mergulha em riffs hipnóticos e repetitivos, com uma atmosfera quase ritualística e letras que evocam ocultismo, tornando-se uma das faixas mais enigmáticas e pesadas do disco. "Isolation Years", que encerra o álbum, é uma balada triste e atmosférica que mostra o lado mais sensível da banda.

A produção, feita pela própria banda e por Jens Bogren, é limpa e equilibrada, permitindo que cada instrumento respire mesmo nas passagens mais densas. O uso mais proeminente de teclados adiciona uma nova camada de riqueza e profundidade ao som do Opeth. As influências de rock progressivo são mais evidentes do que nunca, mas o peso e a agressividade do death metal ainda estão presentes em momentos-chave, criando um contraste que se tornou a assinatura da banda.


Ghost Reveries
é considerado um dos melhores álbuns da banda, ao lado de Blackwater Park (2001) e Still Life (1999). Ele representa a transição definitiva entre a fase mais extrema e a mais progressiva do Opeth, pavimentando o caminho para discos como Watershed (2008) e Heritage (2011), este último abandonando completamente os vocais guturais. Além disso, a entrada na Roadrunner Records expôs a banda a um público mais amplo, sem que isso comprometesse sua integridade artística. Pelo contrário: Ghost Reveries é um exemplo raro de um disco acessível e, ao mesmo tempo, artisticamente ambicioso.

Ghost Reveries é um álbum monumental, que equilibra técnica e emoção, peso e delicadeza, luz e sombra. Uma jornada emocional profunda e sombria, guiada pela visão singular de Mikael Åkerfeldt. Para fãs de metal progressivo e música atmosférica, trata-se de uma obra essencial – um verdadeiro marco do século XXI.

O álbum estava fora de catálogo no Brasil há exatos 20 anos. Isso foi corrigido com o relançamento feito pela Wikimetal em uma edição em CD slipcase e encarte com as letras. Aproveite e coloque essa obra-prima na sua coleção.

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