Lançado em 5 de maio de 1978, Powerage é um dos álbuns mais subestimados — e ao mesmo tempo mais reverenciados — do AC/DC. O disco marca uma transição importante na carreira da banda australiana: é o primeiro com o baixista Cliff Williams e o último produzido com total envolvimento de Harry Vanda e George Young (irmão mais velho de Angus e Malcolm). Musicalmente, representa o início da maturidade sonora do grupo, com letras mais sombrias, arranjos mais encorpados e uma performance visceral de Bon Scott.
Diferente do impacto imediato de High Voltage (1976) ou
do sucesso estrondoso de Highway to Hell (1979), Powerage
conquista pelo conteúdo cru e direto. É um disco de hard rock sem filtro, onde
a crueza da produção só reforça a intensidade das músicas. As guitarras de
Angus e Malcolm Young estão afiadas como nunca, enquanto Bon Scott entrega
performances vocais repletas de alma, cinismo e ironia — elementos que viriam a
definir sua persona.
“Rock ‘n’ Roll Damnation” abre o álbum de maneira excelente,
e se transformou no maior clássico do disco e um dos maiores hinos da banda. "Down
Payment Blues" é um blues arrastado e poderoso, onde Bon Scott canta sobre
frustração financeira com sarcasmo e realismo. Já "Riff Raff" é puro
dinamite, com uma das introduções mais explosivas da banda e um dos riffs mais
icônicos da carreira de Angus. "Sin City" traz uma pegada mais
cadenciada e letras que expõem a decadência e o fascínio de Las Vegas, em um
retrato sujo e honesto do sonho americano. "What's Next to the Moon"
mostra o lado mais lírico da banda, com metáforas mitológicas para uma história
de abandono amoroso — talvez a letra mais elaborada de Bon. E "Kicked in
the Teeth" fecha o álbum com energia bruta, misturando punk e blues em uma
explosão final.
Apesar de não ter emplacado hits massivos como outros discos do AC/DC, Powerage é frequentemente citado por músicos e críticos como o melhor álbum da banda. Keith Richards, Eddie Van Halen, Joe Perry e Slash já o apontaram como um dos favoritos. É o disco que os músicos ouvem quando querem entender o que faz do AC/DC uma banda tão visceral. Além disso, Powerage é o trabalho que solidificou a química entre os irmãos Young e definiu a fórmula que seria aperfeiçoada nos álbuns seguintes. É um álbum que respira autenticidade e que serve como ponto de referência para o hard rock direto, sem enfeites, que o AC/DC ajudou a moldar.
Powerage é um disco que exige tempo e atenção, mas
recompensa cada audição com camadas de atitude, honestidade e musicalidade
crua. Não é apenas um ótimo álbum do AC/DC — é um manifesto sonoro de uma banda
que estava encontrando seu ponto de equilíbrio entre potência e personalidade.
Para muitos fãs, é o verdadeiro coração da era Bon Scott.
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