Eu, você, Nick Hornby e as listas de melhores do ano


O escritor inglês Nick Hornby é como eu e você: adora fazer listas. O autor de Alta Fidelidade, Um Grande Garoto e Febre de Bola (entre outros livros) tem compulsão por criar top 5’s para praticamente tudo: discos de bandas que começam com A, filmes sobre ETs, maiores vitórias do seu time do coração (o Arsenal, de Londres), e tudo mais que se possa imaginar.

A prática desse saudável esporte fica evidente em Alta Fidelidade, livro publicado em 1995 e que foi adaptado para o cinema em 2000. Na história, o personagem central Rob Fleming (que no filme teve o sobrenome mudado para Gordon e foi interpretado por John Cusack) vive criando listas, desde empregos dos sonhos até as melhores faixas de aberturas de discos.

Eu também faço isso. E, confesse, você também é um adepto. É divertido, traz à tona ideias e ideiais, e, mesmo que as escolhas mudem toda vez, é legal pra caramba.

Estamos vivendo algo semelhante neste exato momento, com a chegada do final do ano e a divulgação das listas de melhores de 2015 por todo e qualquer veículo da imprensa musical. E agora mesmo, no início de dezembro, e não lá em janeiro, como seria de se supor. A explicação é simples: as edições de dezembro de revistas como Uncut, Rolling Stone e Mojo, onde essas listas são publicadas, chegam às bancas no final de novembro e no início deste mês. E porque, afinal de contas, tá todo mundo louco pra saber quem está nestas listas.

Eu sou maluco por esse tipo de coisas. Adoro esses top 50, top 10, top não sei o que. Utilizo essas listas como ferramentas para descobrir novos sons, novos discos, novos artistas. Não perco meu tempo discutindo se um ou outro álbum deveria ou não estar presente. Na maioria das vezes, não tenho stress com em relação às escolhas. Prefiro abrir a cabeça e entrar em contato com novos sons, sempre.

Aqui vale também um parágrafo pra falar um pouco a respeito de como algumas dessas listas são feitas. Muitas delas servem como artifícios para reafirmar o posicionamento de uma publicação, a linha editorial de um site. O melhor exemplo é a da NME. As escolhas da redação da New Musical Express sempre irão trazer artistas que não estarão presentes em outros levantamentos do tipo. E, na imensa maioria das vezes, não terão um medalhão em primeiro lugar, mas sim um artista recente e idolatrado por um nicho - neste ano, o primeiro posto ficou com a Grimes. Já a lista da Rolling Stone refletirá mais o mercado como um todo, levando em conta não apenas a qualidade do álbum em si, mas também o impacto que ele teve na indústria - 25, da Adele, tá lá no segundo posto da RS, e foi totalmente ignorado pela NME. E assim por diante.

De modo geral, o que temos são versão diferentes, leituras distintas, sobre um mesmo tema. Se você fizer um levantamento, verá que em cada um desses top 50 pelo menos metade dos títulos presentes se repetem em todas as listas. Os outros 25 postos são a margem onde cada publicação trabalha o seu posicionamento, o seu modo de pensar, colocando um outro título diferente e inusitado para dar mais personalidade para o resultado final. E, claro, tudo culmina com a joia da coroa, que é entregue para o primeiro posto. Nesse 2015, alguns discos que estão presentes em praticamente todas as listas são os novos do Kendrick Lamar, Father John Misty, Sufjan Stevens, Tame Impala, Jamie xx e outros, apenas variando de posição de acordo com cada veículo.

E há também uma questão um pouco mais nebulosa, nunca confirmada, mas sempre especulada: a compra de espaço. Sempre se falou sobre o fato de um determinado álbum constar ou não entre os melhores de uma publicação passa também por uma negociação comercial, com o veículo recebendo uma grana pra dar destaque para um título específico, colocando-o lá nas cabeças e recomendando o trabalho sem dó aos seus leitores. Hoje em dia, com a popularidade e as tiragens das revistas caindo ao mesmo tempo em que as audiências dos sites crescem, não sei se essa jogada ainda é feita - na verdade, nem tenho como confirmar se alguma vez foi feita, é só especulação mesmo.

Enfim, ofato é que é divertido ler as listas de melhores do ano. Elas são excelentes ferramentas para conhecer novos sons, novos artistas. E confeccionar a sua própria também é legal pra caramba. A minha tá quase pronta, e a de vocês?

Enquanto defino as posições de cada disco no meu top do ano, aproveito pra mandar um abraço pro Nick e um convite pra você: vá até os comentários, poste o seu top 10 de 2015 e divida as suas impressões sobre esse ano com a gente.

Comentários