Review: Miles Davis – A Tribute to Jack Johnson (1971)


Lançado em 24 de fevereiro de 1971, A Tribute to Jack Johnson é um dos álbuns mais curiosos de Miles Davis. O disco foi composto por Miles como trilha para um documentário sobre a vida do boxeador Jack Johnson. Vale mencionar que o próprio trompetista era um praticante e entusiasta do box.

O álbum traz apenas duas músicas, ambas com mais de vinte e cinco minutos de duração e presentes, cada uma, em um dos lados do LP original. As gravações aconteceram nos dias 18 de fevereiro e 7 de abril de 1970, em Nova York, e, segundo Davis, a inspiração veio da questão política e racial da saga de Johnson, primeiro boxeador negro a conquistar o cinturão de campeão mundial dos pesos pesados. Além disso, o próprio Miles declarou que o álbum foi bastante influenciado pelo rock e pelo funk da virada dos anos 1960 para a década de 1970, o que fez com que muitos críticos definissem o disco como o trabalho de Miles Davis onde o rock foi ao encontro do jazz.

Além do trompetista, tocam em A Tribute to Jack Johnson os guitarristas John McLaughlin (que mais tarde fundaria a Mahavishnu Orchestra, combo seminal do jazz fusion) e Sonny Sharrock, os tecladistas Herbie Hancock (um dos músicos mais influentes do jazz e figura central no desenvolvimento do jazz funk) e Chick Corea (fundador do Return to Forever, outro grupo lendário de jazz fusion), o clarinetista Bennie Maupin e os bateristas Jack DeJohnette (um dos maiores bateristas da história do estilo) e Billy Cobham (também da Mahavishnu Orchestra e com uma carreira solo muito influente).

Como todo álbum inovador, com grande apelo experimental e que foge do padrão convencional de música, A Tribute to Jack Johnson teve vendas modestas, porém foi muito bem recebido pela crítica, que o considerou um dos melhores trabalhos de Miles Davis. O disco é um dos álbuns que definiu o jazz rock, tanto que a ideia de Miles era formar “a maior banda de rock que já existiu” para gravar o álbum.


A primeira faixa, "Right Off", foi construída a partir de vários takes e um solo que Davis gravou em novembro de 1969. Ela também contém um riff baseado em "Sing a Simple Song" de Sly and the Family Stone, com destaque aos dezoito minutos e quarenta e quatro segundos. Já a segunda canção, "Yesternow", em grande parte foi construída em torno de uma versão ligeiramente modificada da linha de baixo de "Say It Loud - I'm Black and I'm Proud", clássico de James Brown. Em ambas, o grande destaque é John McLaughlin, que faz a sua guitarra explorar diversas texturas e riffs e brilha intensamente.

Em 2003 foi lançado o box The Complete Jack Johnson Sessions, reunindo em cinco CDs todas as sessões de gravação que originaram o álbum. Um verdadeiro documento musical sobre um dos trabalhos mais incríveis de Miles Davis.

A Tribute to Jack Johnson é um disco que sempre dividiu opiniões. Para os mais puristas, faz parte do grupo de álbuns como Bitches Brew (1970) e On the Corner (1972), onde Miles, ao modernizar a sua música e fundir o jazz a outros gêneros como o rock e o funk, desvirtuou o gênero. Para os mais vanguardistas, é uma das maiores provas da genialidade do trompetista, amplamente aclamado como um dos músicos mais influentes do século XX. E para quem nunca ouviu jazz ou nunca conseguiu entender o gênero, pode funcionar como uma porta de entrada justamente pela grande proximidade com o rock.

Em todos os casos, é um álbum que não passa despercebido, seja ouvido por quem for.


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