Um dos maiores nomes do rock progressivo atual, os poloneses do
Riverside sempre se destacaram no cenário graças ao foco em composições
um pouco mais simples, focadas nas melodias e na exploração do
sentimento musical, sem descambar para o exibicionismo e masturbação sem
sentido. Com uma sucessão de discos que apresentam raros pontos baixos,
a banda chega ao quinto trabalho (se não contarmos os dois EPs Voices
in My Head e Memories in My Head – excelentes, por sinal) cercado de
grandes expectativas, principalmente pela dúvida sobre qual caminho eles
seguiriam três anos depois de Anno Domini High Definition.
Shrine of New Generation Slaves foi gravado e produzido pelo próprio quarteto nos estúdios Serakos, no seu país natal, e, novamente contando com a direção de arte do grande Travis Smith, o trabalho gráfico intrigante auxilia em muito para a imersão musical que o disco pede.
“New Generation Slave” abre o álbum de forma impressionante, com Mariusz Duda e sua voz comprimida cantando melodias simples, uma letra mundana, para o ouvinte se identificar (e porque não, simpatizar) imediatamente com o personagem da música. Aliás, os pensamentos expressos nesta faixa resumem todo o conceito que gira em torno do disco: pessoas que estão tão presas ao seu cotidiano e ao seu trabalho, que nem percebem que vivem uma espécie de servidão moderna – os escravos da nova geração. Logo em seguida, “The Depth of Self-Delusion” traz ao longo dos sete minutos uma evolução musical e lírica que simplesmente afoga você de vez na atmosfera do trabalho, procurando cada detalhe em uma das melhores faixas da carreira dos poloneses. O primeiro single e vídeo do disco, “Celebrity Touch”, é mais uma grata surpresa, ao mostrar o Riverside experimentando um direcionamento mais ligado ao hard rock setentista, carregado de riffs grudentos e passagens memoráveis de teclado, lembrando razoavelmente o que o Pain of Salvation fez nos últimos dois discos, sem perder suas características principais.
E se a faixa anterior pode causar um certo estranhamento inicial, “We Got Used to Us” os traz de volta para um terreno seguro: uma belíssima balada, uma das mais finas interpretações da banda como um todo, que apela para os arranjos simples nessa que é uma das composições mais carregadas do quarteto. Um pouco mais espacial e um tanto quanto moderna, “Feel Like Falling” estranhamente aproxima o Riverside da sonoridade intrincada do Muse. Sim, isso mesmo, talvez com uma dose muito menor da megalomania dos ingleses, mas ainda assim há uma incômoda semelhança, que combinados à sua própria identidade trouxeram resultados interessantes e controversos. Porém, “Deprived” remonta a normalidade novamente, uma longa faixa melancólica e atmosférica, com interessantes passagens instrumentais que remetem diretamente a bandas como Opeth e Porcupine Tree e hipnotizam facilmente o ouvinte.
“Escalator Shrine”, a epopeia que beira os treze minutos, é uma homenagem justa e com propriedade para o rock progressivo clássico. Passeando tranquila e naturalmente ao longo das infinitas influências, do flerte com a música oriental, as ótimas passagens de jazz, o prog metal soturno, e, principalmente, o sentimento de contemplação que bandas como Pink Floyd e King Crimson conseguiam entregar em seus tempos áureos, principalmente nas seções instrumentais da música. A curta e bonita faixa acústica “Coda” soa como uma redenção, de alguém que permaneceu muito tempo preso à sua própria vida, mas finalmente consegue abrir os olhos e descobrir a infinitude de opções e caminhos que cada um tem.
O Riverside lança este que é um dos seus trabalhos mais consistentes, e mantém a sua curva criativa não apenas a níveis impressionantes, mas mostra que os poloneses continuam em plena ascensão, e ainda tem muito a acrescentar a sua sonoridade, mesmo com a identidade já estabelecida. Shrine of New Generation Slaves é um disco equilibrado, surpreendente, que prende a sua mente de forma singular, colocando-o como protagonista do próprio conceito, um tema forte e subjetivo, que faz com que você reflita sobre a própria vida enquanto acompanha cada segundo da obra. Um álbum que, se ouvido da maneira correta, com foco e concentrado, é capaz de marcar a pessoa de forma profunda. E assim como a própria banda coloca nos versos de encerramento, não irá sentir como se estivesse caindo em um espaço vazio.
Nota 9
Faixas:
1 New Generation Slave
2 The Depht of Self-Destruction
3 Celebrity Touch
4 We Got Used to Us
5 Fell Like Falling
6 Deprived (Irretrievably Lost Imagination)
7 Escalator Shrine
8 Coda
Por Rodrigo Carvalho
Shrine of New Generation Slaves foi gravado e produzido pelo próprio quarteto nos estúdios Serakos, no seu país natal, e, novamente contando com a direção de arte do grande Travis Smith, o trabalho gráfico intrigante auxilia em muito para a imersão musical que o disco pede.
“New Generation Slave” abre o álbum de forma impressionante, com Mariusz Duda e sua voz comprimida cantando melodias simples, uma letra mundana, para o ouvinte se identificar (e porque não, simpatizar) imediatamente com o personagem da música. Aliás, os pensamentos expressos nesta faixa resumem todo o conceito que gira em torno do disco: pessoas que estão tão presas ao seu cotidiano e ao seu trabalho, que nem percebem que vivem uma espécie de servidão moderna – os escravos da nova geração. Logo em seguida, “The Depth of Self-Delusion” traz ao longo dos sete minutos uma evolução musical e lírica que simplesmente afoga você de vez na atmosfera do trabalho, procurando cada detalhe em uma das melhores faixas da carreira dos poloneses. O primeiro single e vídeo do disco, “Celebrity Touch”, é mais uma grata surpresa, ao mostrar o Riverside experimentando um direcionamento mais ligado ao hard rock setentista, carregado de riffs grudentos e passagens memoráveis de teclado, lembrando razoavelmente o que o Pain of Salvation fez nos últimos dois discos, sem perder suas características principais.
E se a faixa anterior pode causar um certo estranhamento inicial, “We Got Used to Us” os traz de volta para um terreno seguro: uma belíssima balada, uma das mais finas interpretações da banda como um todo, que apela para os arranjos simples nessa que é uma das composições mais carregadas do quarteto. Um pouco mais espacial e um tanto quanto moderna, “Feel Like Falling” estranhamente aproxima o Riverside da sonoridade intrincada do Muse. Sim, isso mesmo, talvez com uma dose muito menor da megalomania dos ingleses, mas ainda assim há uma incômoda semelhança, que combinados à sua própria identidade trouxeram resultados interessantes e controversos. Porém, “Deprived” remonta a normalidade novamente, uma longa faixa melancólica e atmosférica, com interessantes passagens instrumentais que remetem diretamente a bandas como Opeth e Porcupine Tree e hipnotizam facilmente o ouvinte.
“Escalator Shrine”, a epopeia que beira os treze minutos, é uma homenagem justa e com propriedade para o rock progressivo clássico. Passeando tranquila e naturalmente ao longo das infinitas influências, do flerte com a música oriental, as ótimas passagens de jazz, o prog metal soturno, e, principalmente, o sentimento de contemplação que bandas como Pink Floyd e King Crimson conseguiam entregar em seus tempos áureos, principalmente nas seções instrumentais da música. A curta e bonita faixa acústica “Coda” soa como uma redenção, de alguém que permaneceu muito tempo preso à sua própria vida, mas finalmente consegue abrir os olhos e descobrir a infinitude de opções e caminhos que cada um tem.
O Riverside lança este que é um dos seus trabalhos mais consistentes, e mantém a sua curva criativa não apenas a níveis impressionantes, mas mostra que os poloneses continuam em plena ascensão, e ainda tem muito a acrescentar a sua sonoridade, mesmo com a identidade já estabelecida. Shrine of New Generation Slaves é um disco equilibrado, surpreendente, que prende a sua mente de forma singular, colocando-o como protagonista do próprio conceito, um tema forte e subjetivo, que faz com que você reflita sobre a própria vida enquanto acompanha cada segundo da obra. Um álbum que, se ouvido da maneira correta, com foco e concentrado, é capaz de marcar a pessoa de forma profunda. E assim como a própria banda coloca nos versos de encerramento, não irá sentir como se estivesse caindo em um espaço vazio.
Nota 9
Faixas:
1 New Generation Slave
2 The Depht of Self-Destruction
3 Celebrity Touch
4 We Got Used to Us
5 Fell Like Falling
6 Deprived (Irretrievably Lost Imagination)
7 Escalator Shrine
8 Coda
Por Rodrigo Carvalho
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.