Orchid: Crítica de The Mouths Of Madness (2013)


A onda de bandas novas que adotaram como proposta repetir a sonoridade das décadas de sessenta e setenta não apenas chegou ao seu ápice, como também já passa a apresentar alguns sinais de cansaço e saturação, principalmente por conta da expressiva quantidade de novos nomes surgidos nos últimos anos. Porém, alguns grupos definitivamente conseguem se sobressair em meio à inumana quantidade de lançamentos mensais, e os americanos do Orchid fazem parte de um deles.

Dois anos depois do elogiado Capricorn, o quarteto de San Francisco dá prosseguimento à sua discografia com The Mouths Of Madness, mais uma ode ao occult rock / doom metal de quatro décadas atrás, que a exemplo do debut e do ótimo EP Heretic (de 2012), foi produzido por Will Storkson, porém agora sob a tutela da Nuclear Blast (que inteligentemente também trouxe para o seu cast o Kadavar e o Graveyard).

A faixa que dá nome ao disco inicia o trabalho, deixando bem claro que não houve mudanças severas na identidade musical da banda (não que fosse algo necessário, claro), alternando entre um sujo riff típico de hard setentista e passagens mais soturnas e cadenciadas. Seja como for, os californianos permanecem embriagados de sua fonte mais óbvia, que é o Black Sabbath dos primórdios (leia-se 70-78), desde a forma como os instrumentos funcionam em conjunto, passando pela voz e, principalmente, as estruturas das composições. E esses fatores se mostram ainda mais evidentes no stoner esfumaçado de "Marching Dogs Of War" e, de forma ainda mais escancarada na introdução de "Silent One", “baseada” sem dó nem piedade no clássico “Into The Void”, do Master of Reality. Porém, a faixa se desenvolve além disso e resulta em um dos melhores trabalhos do Orchid, agregando diversas influências ao longo dos mais de sete minutos de música.

Indo por um lado mais psicodélico, "Nomad" mostra uma banda procurando outros caminhos além dos mais óbvios, com andamento e melodias que remetem ao hard viajante do limiar da década de sessenta com os frutíferos anos que viriam a seguir, enquanto a arrastada "Mountains of Steel" soa um pouco mais experimental, inclusive com um notável interlúdio jazzístico de piano e sintetizadores perfeitamente encaixado. Em seguida, "Leaving It All Behind" é um dos momentos mais tranquilos em The Mouths of Madness, carregada de melodias que flertam novamente com as influências mais psicodélicas do grupo, o mesmo acontecendo na lenta proclamação blues de "Loving Hand Of God".

"Wizard of War", a faixa que deu nome ao EP em vinil lançado pela banda alguns meses atrás, é a única do registro (que teve tiragem limitadíssima) a figurar nesse full-length e se mostra uma composição simples, com um incessante e repetitivo riff, como o heavy metal em seu início. Bem diferente de "See You On the Other" Side, música responsável por encerrar o álbum, aonde os americanos se livram de mais algumas amarras e buscam inspiração em várias outras fontes, tornando a audição alguns patamares muito mais interessante, e mostrando como o Orchid pode alçar voos muito mais altos, por mais excelentes que sejam os seus registros.

Analisando como um todo, The Mouths of Madness é uma progressão mais do que natural da sonoridade apresentada pela banda desde Capricorn: é notável uma maior segurança ao inserir diferentes elementos, agregar um leque maior de influências, e, o mais importante, chegar á sua identidade musical, por menos revolucionária que seja. E o Orchid definitivamente não o é, mas entre o turbilhão de bandas inspiradas pelo som das décadas de 60 e 70, os americanos conseguem de fato se destacar (a exemplo de algumas outras), lançando trabalhos bem equilibrados e, principalmente, visando o seu próprio desenvolvimento, mesmo sendo bem sutil. Pelo menos por enquanto.

Nota 8,5



Faixas 
1. Mouths Of Madness
2. Marching Dogs Of War
3. Silent One
4. Nomad
5. Mountains Of Steel
6. Leaving It All Behind
7. Loving Hand Of God
8. Wizard Of War
9. See You On The Other Side



Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Eu pirei nesse álbum. Bom demais! Divide com Kvelertak e Ghost o posto de meus preferidos do ano até o momento, com grandes chances de tornar-se o predileto.

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  2. Parabéns, Rodrigo! Gostei pra caralho do jeito claro que escreveste, dá pra entender bem.. e vou pegar o som imediatamente pra ouvir. Tua descrição me lembrou algo de Golden Void..
    abraço

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  3. Bom demais!

    Excelente banda de um estilo que eu sou muito fã, que é o estilo Vol.4 de fazer música.

    Espero que eles não "evoluam" demais e sempre tenham esta pegada Black Sabbath 70-78.

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  4. Banda maravilhosa, mas ainda coloca na frente os lançamentos do Black Capricorn e do Kadavar como os melhores até o momento de 2013.

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  5. Escutei pouquíssima coisa dessa banda. Vou pegar para conferir.

    Falando nisso, que tal uma lista com bandas cuja sonoridade remete aos anos 60/70? Seria muito legal e nos apresentaria bandas que por ventura não conhecemos.

    Fica a sugestão.

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  6. Apoio a ideia Alípio

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  7. Olá, procurei na net mas não encontrei este álbum para vender. Ao menos no Brasil não.

    Alguém sabe se vai sair alguma versão nacional?

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  8. Muito bom!
    Só consegui escutar agora em novembro.

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