
E o Coven, você sabe quem é? Era uma banda norte-americana que lançou um disco clássico em 1969 chamado Witchcraft Destroys Minds & Reap Souls, que tinha uma foto de um ritual com uma mulher nua cercada de caveiras e velas no seu encarte. Que tinha uma loira como vocalista, que, dizem, mergulhou valendo no ocultismo e nunca mais foi vista. Sem o Coven e seu primeiro álbum, toda essa cena de occult rock que vemos hoje em dia com nomes como Ghost, Year of the Goat, The Devil’s Blood e mais um monte de gente, provavelmente não existiria.
E o Blood Ceremony, já ouviu falar? Eu conto. Eles são do Canadá e estão na ativa desde 2006. A banda é formada por Alia O’Brien (vocal, flauta e órgão), Sean Kennedy (guitarra), Lucas Gadke (baixo) e Michael Carrillo (bateria). Eles já gravaram três discos. A estreia batizada apenas com o nome saiu em 2008. Em 2011 foi a vez de Living with the Ancients. E o mais recente, The Eldritch Dark, saiu no final de maio pela Rise Above e pela Metal Blade.
O que essas três bandas têm em comum? Muito. O Blood Ceremony é o ponto de intersecção entre o Jethro Tull e o Coven. Do primeiro, pegou uma boa parcela da sonoridade, o flerte com o folk e, claro, a presença da flauta. Do segundo, traz laços fortes com a temática das letras, sempre falando sobre temas sombrios, soturnos, ocultos. Em suma: pactos, sacrifícios e rituais embalados em uma música agradável, cheia de melodia e guiada por uma flauta doce hipnótica. O Blood Ceremony é o filho que o Jethro Tull e o Coven tiveram em seu primeiro encontro.
Tendo na vocalista e flautista Alia O’Brien a sua figura principal, o Blood Ceremony chama a atenção pela capacidade de criar canções cativantes e com belos arranjos. Optando por uma estética bem setentista, com timbres que remetem ao início daquela década, a banda proporciona uma viagem no tempo. A flauta de Alia marca presença em todas as composições, dando um toque único à uma sonoridade por si só já interessante. É a cereja do bolo. E uma cereja da qual conhecemos o gosto, já que os trechos instrumentais parecem saídos diretamente de algum disco perdido do Jethro Tull. A forte presença do órgão também colabora para evidenciar ainda mais esse tempero vintage, trazendo à tona influências como Uriah Heep e Deep Purple.
Com categoria e talento, o Blood Ceremony entrega outra vez um disco muito bom, gostoso de ouvir e agradável em sua totalidade. Um disco que não nasceu com a pretensão de mudar nada, apenas proporcionar boa música. E nesse quesito, que é o que importa, The Eldritch Dark é bastante pródigo. “Witchwood” abre o play com um riff saído das catacumbas e é uma das melhores músicas do disco. A atmosférica “Lord Summerisle” parece um outtake do clássico The Magician’s Birthday, disco de 1972 do Uriah Heep. “Ballad of the Weird Sisters” desenvolve-se sem pressa, com belas linhas vocais e passagens instrumentais bastante ricas. “Faunus” é uma espécie de folk blues instrumental onde a flauta de O’Brien reclama o seu protagonismo. E a coisa toda segue com um desfile de fortes canções, em um conjunto homogêneo onde é difícil apontar destaques individuais.
Se você nunca ouviu falar do Blood Ceremony, chegou a hora de conhecer a banda. Ouça The Eldritch Dark e descubra um dos nomes mais singulares do occult rock. E aproveite a ocasião para ir atrás também do Coven e seu clássico Witchcraft Destroys Minds & Reap Souls (1969) e para redescobrir a sensacional discografia do Jethro Tull, repleta de pérolas perdidas em discos que fazem parte do guia prático de como o rock deve soar.
Discão!
Nota 8
Faixas:
1 Witchwood
2 Goodbye Gemini
3 Lord Summerisle
4 Ballad of the Weird Sisters
5 Eldritch Dark
6 Drawing Down the Moon
7 Faunus
8 The Magician
Por Ricardo Seelig
Já havia escutado umas 2 ou 3 músicas desse disco e achado interessate. Tô devendo ouvir o disco inteiro, porque deve valer a pena.
ResponderExcluirO disco é bom, mas na minha opinião é bem inferior ao "Living with the Ancients". Pra falar a verdade, o "Living..." é um dos melhores álbuns pós-2000 que eu ouvi.
ResponderExcluirBlood Ceremony é uma excelente banda.
Discaço!!
ResponderExcluirBoa resenha cara, esse revival vem crescendo por aqui e tem alguns caras que entendem do assunto fazendo valer o lance, com um alcance pequeno, mas sem baixar a cabeça.
ResponderExcluirSe quiser conhecer um pouco da minha correria pelo Stoner, Doom e afins nacional, dá uma sacada aqui - https://www.facebook.com/pages/Stoned-Union-Doomed/674475515904441 - e nisso aqui também - http://arrastadoedesacelerado.blogspot.com.br/ - Valeu.