Adele Laurie Blue Adkins é um fenômeno. Um fenômeno pop que tem como principal qualidade a sua voz. O timbre, a rouquidão sutil, a força do vocal de Adele, quando embalada em canções inspiradas, é capaz de arrebatar multidões em todos os cantos do planeta.
Foi o que aconteceu com 21, seu segundo disco, lançado no início de 2011. Puxado pelo single “Rolling in the Deep”, o trabalho se tornou o álbum mais vendido do século XXI, superando Back to Black, de sua conterrânea Amy Winehouse. Com estimados 40 milhões de discos e 50 milhões de singles vendidos em toda a sua carreira, o sucesso de Adele foi tamanho que, praticamente sozinha, a cantora injetou doses generosas de combustível na moribunda indústria fonográfica. E tudo isso em uma época onde a grande maioria do público não compra mais discos.
São quatro anos de diferença entre 21 e 25, o novo disco da inglesa. Quatro longos anos, diga-se de passagem. No período, Adele virou mãe com o nascimento do seu primeiro filho, fez um cirurgia nas cordas vocais e se afastou dos holofotes, aparecendo apenas com a gravação da música tema de 007: Operação Skyfall.
Por isso, a expectativa, tanto de fãs quanto da indústria, é gigantesca em torno de 25. Um disco aguardado com ansiedade, e do qual se espera uma performance tão forte quanto 21. Tanto que, na data do seu lançamento mundial (hoje, 20/11), 25 não está disponível em nenhum serviço de streaming - nada de Spotify, nada de Deezer, nada de Apple Music. Tem que comprar o item físico mesmo pra poder ouvir o álbum, em uma estratégia agressiva para uma época onde o streaming substituiu quase totalmente a mídia física, seja ela um LP ou um CD.
Há alguns problemas nas onze faixas de 25. Talvez o principal deles seja o que podemos chamar de uma espécie de “desprezo pelo fator Rolling in the Deep”. O que isso quer dizer? O seguinte: 21 também era um álbum repleto de baladas, assim como 25. No entanto, o seu primeiro e principal single era uma canção agitada, com um irresistível acento soul e com um refrão feito na medida para ser cantado por multidões. Junto com ela, havia faixas como a releitura para “Lovesong”, do The Cure, que inseriam variedade no repertório, fazendo com que 21 fosse capaz de transmitir emoções variadas no decorrer de sua audição: alegria, tristeza, esperança, bem estar.
Mora aí o calcanhar de Aquiles de 25. O novo álbum de Adele é homogêneo em demasia. E isso se dá pelo fato de suas faixas serem muito semelhantes entre si. O que temos são onze baladas densas, invariavelmente levadas ao piano e com a inglesa soltando a voz nos refrãos. Funciona com “Hello”, funciona com “When We Were Young”, e começa a parar de funcionar conforme o disco vai caminhando por suas faixas. Essa impressão se intensifica também pelo fato de não haver em 25 refrãos com a força de “Set Fire to the Rain” e “Someone Like You”, canções que também foram marcantes em 21.
É claro que tudo é muito bem feito, a produção é sublime, só tem fera na jogada, em todos os aspectos. Os vocais são tecnicamente perfeitos, não há falhas nesse quesito. A música, no entanto, não se resume à técnica, não é pura matemática. Falta em 25 o fator que foi fundamental na equação que transformou 21 em um sucesso mundial: a emoção. Foi a emoção transmitida por Adele nas canções daquele disco que causaram a identificação de milhões de pessoas, que sentiram essa emoção bater forte em seus corações. E isso não acontece em 25. Não quer dizer que as canções sejam ruins, mas elas, sem dúvida, não são tão acolhedoras e arrebatadoras quanto no trabalho anterior. E essa diferença, para uma artista que construiu a sua música e carreira muito pela capacidade de tocar o coração dos fãs, faz uma diferença danada no resultado final.
Todos esses fatores fazem com que a audição de 25 acabe se tornando muito cansativa. As canções apresentam praticamente os mesmos elementos, sempre com versos que conduzem a um refrão onde Adele solta a voz. É tudo muito preso à fórmula das “baladas emocionantes”, mas com um problema fundamental: essas baladas não emocionam, apenas cansam. As coisas até funcionam de maneira isolada, como é o caso de “Hello” e da deliciosa “Million Years Ago”, mas quando ouvidas em conjunto torna-se um parto chegar até o final do trabalho.
Isso acaba fazendo com que a voz de Adele, que é belíssima, soe cansativa. Os versos calmos que levam a refrãos onde a inglesa solta a voz são executados de tal maneira que lá pela faixa 6 ou 7 você não aguenta mais ouvir a menina cantar, o que é uma pena.
25 vai vender muito. Tá saindo no final de novembro, vai pegar todo o mercado de Natal. Muita gente talvez até reative o saudável costume de dar discos de presente motivada por esse título. Isso é bom. Mas o álbum poderia ser muito melhor se tivesse uma pluralidade maior, se arriscasse mais e não ficasse sempre dando voltas ao redor da mesma ideia.
Abaixo da expectativa, infelizmente.
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