Cannibal Corpse e a brutalidade suprema de Tomb of the Mutilated (1992)


Tomb of the Mutilated (1992) é um dos álbuns mais icônicos do Cannibal Corpse e do death metal como um todo. Terceiro disco da banda, ele elevou ainda mais o nível de brutalidade, lirismo grotesco e extremidade sonora que já eram marcas registradas do grupo. O disco continua a evolução sonora da banda, com uma abordagem ainda mais brutal e técnica do que seus predecessores, Eaten Back to Life (1990) e Butchered at Birth (1991). A produção ficou novamente a cargo de Scott Burns, um dos grandes nomes do death metal da época, que conseguiu capturar o peso e a crueza da banda com mais clareza do que nos discos anteriores.

Paul Mazurkiewicz (bateria) mantém um estilo frenético e intenso, com blast beats e mudanças de tempo agressivas. Alex Webster (baixo) se destaca com linhas rápidas e técnicas, consolidando seu papel como um dos baixistas mais habilidosos do death metal. Bob Rusay e Jack Owen (guitarras) entregam riffs cortantes e solos caóticos que contribuem para o clima mórbido e opressor do álbum. Já Chris Barnes (vocais) aprofunda ainda mais seu gutural cavernoso, tornando as letras macabras ainda mais impactantes.

O álbum abre com "Hammer Smashed Face", sem dúvida, a música mais famosa do trabalho e da própria banda, além de uma das mais icônicas do death metal. Com um riff de abertura esmagador e uma estrutura violenta, essa faixa se tornou um hino do gênero, até aparecendo no filme Ace Ventura (1994). "I Cum Blood" é outro clássico, com um riff inicial sinistro e uma letra extremamente gráfica que sintetiza a brutalidade do Cannibal Corpse. "Addicted to Vaginal Skin" vem cheia de mudanças de ritmo e um clima de horror absoluto. "Entrails Ripped from a Virgin’s Cunt" é possivelmente a música mais controversa do álbum, com um dos títulos mais explícitos da banda e um instrumental que combina velocidade e peso de forma insana.

As letras de Tomb of the Mutilated foram um dos principais pontos de polêmica do disco. A abordagem extrema e gráfica sobre assassinato, necrofilia e mutilação fez com que o álbum fosse censurado ou até mesmo banido em alguns países. Chris Barnes, responsável pelas letras, levou o horror gore ao extremo, criando histórias dignas de filmes slasher. A banda sempre argumentou que o conteúdo lírico é uma forma de arte inspirada em filmes de terror, mas isso não impediu protestos e censura, especialmente na Alemanha, onde o álbum foi banido.


A arte macabra do álbum foi criada por Vincent Locke, um colaborador frequente do Cannibal Corpse. O conceito original partiu de Chris Barnes, que transmitiu a Locke a ideia de dois zumbis "devorando um ao outro". O artista enfrentou desafios na composição da peça, especialmente na perspectiva e no posicionamento dos corpos. Inicialmente, a arte foi considerada insuficientemente gráfica pelo presidente da Metal Blade Records, Brian Slagel, que pediu uma versão mais sangrenta. Em resposta, Locke adicionou lacerações profundas no rosto, pescoço, coxas e pulsos da zumbi feminina. Além disso, a encarnação original da arte não incluía os tons azulados e acinzentados da pele dos mortos-vivos; inicialmente, os cadáveres eram completamente brancos. Chris Barnes admitiu ter ficado afetado ao ver a arte pela primeira vez, descrevendo-a como "pornografia zumbi". O guitarrista Jack Owen relembrou o momento como um ponto de virada para a banda, quando percebeu que haviam finalmente "ido longe demais" e temeu que não conseguissem escapar das repercussões. O álbum chegou a ser lançado com uma capa alternativa, menos chocante mas que mantém o apelo macabro característico da banda.

Mesmo com a censura e as críticas, Tomb of the Mutilated se tornou um marco do death metal. Ele ajudou a definir o som brutal do Cannibal Corpse e consolidou a banda como uma das mais importantes do gênero. Além disso, influenciou inúmeras bandas de death metal e grindcore, que seguiram explorando temas extremos e instrumentais intensos. Hoje, o álbum é visto como um dos maiores clássicos do death metal, sendo constantemente referenciado e revisitado pelos fãs do gênero. A brutalidade sonora e lírica, a performance técnica e a energia caótica fazem dele um dos discos mais impactantes da história do metal extremo.

Tomb of the Mutilated não é um álbum para os fracos de estômago, mas para quem busca o death metal em sua forma mais crua e extrema, ele é simplesmente essencial.


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