Lançado em 6 de abril de 1987, Electric é um ponto de virada na carreira do The Cult — e, para muitos fãs, a obra que consolidou a banda britânica como um verdadeiro ícone do hard rock. Após o clima gótico e psicodélico de Love (1985), o grupo liderado por Ian Astbury (vocais) e Billy Duffy (guitarra) fez uma guinada radical: abandonou as atmosferas etéreas para mergulhar de cabeça em um som cru, direto e elétrico, como o próprio título do álbum anuncia.
Grande parte da transformação sonora de Electric pode ser atribuída ao produtor Rick Rubin, que na época era mais conhecido pelo seu trabalho no hip hop (Run-D.M.C., Beastie Boys) e logo viraria referência também no rock e metal (Slayer, Red Hot Chili Peppers). Rubin incentivou a banda a simplificar os arranjos e buscar uma sonoridade mais próxima do AC/DC do final dos anos 1970, com riffs secos, batidas marcadas e vocais intensos.
O resultado é um disco que soa como um renascimento: saem os sintetizadores e as reverbs oníricas; entram os riffs musculosos, a bateria enxuta e uma pegada quase blues-rock em algumas faixas. "Wild Flower" abre o álbum com um riff pesadão e um groove irresistível, mostrando logo a que veio essa nova fase da banda. "Lil' Devil", com letra provocante e andamento simples, é um exemplo claro da estética “menos é mais” que Rick Rubin promoveu. "Love Removal Machine" talvez seja a música mais emblemática do disco, com um riff que parece primo distante de “Start Me Up” dos Rolling Stones, mas com a agressividade de um Motörhead. Um verdadeiro hino de estádio. "Electric Ocean" e "Bad Fun" são canções menos lembradas, mas que sustentam a energia do álbum e mostram que o The Cult sabia flertar com o boogie e o blues sem perder o punch do hard rock. E a versão para a clássica "Born to Be Wild", do Steppenwolf, foi uma escolha ousada e que não agradou a todos, mas que faz sentido dentro do espírito rock and roll despojado do disco.
Electric foi recebido com certa surpresa por críticos e fãs na época, mas acabou se tornando um marco não só na discografia do The Cult, como também dentro do hard rock dos anos 1980. Ele antecipou um movimento de retorno ao rock de garagem, ao som mais “de rua”, em contraste com a produção polida e bombástica que dominava a cena naquele período. Muitos consideram Electric como o disco que separa o Cult gótico do Cult “arena rock”. Essa nova encarnação da banda abriu portas nos Estados Unidos e ajudou a pavimentar o caminho para o sucesso de Sonic Temple (1989).
Electric é um disco que transpira atitude. Pode não ter a complexidade lírica ou a ousadia sônica de outros trabalhos da época, mas compensa com intensidade, autenticidade e, claro, riffs memoráveis. Ele é ao mesmo tempo um tributo às raízes do rock e uma reinvenção corajosa de uma banda que não teve medo de quebrar expectativas.
Se você gosta de rock cru, direto ao ponto, com a energia de um trovão e a alma de uma jaqueta de couro surrada — Electric é obrigatório.
Discaço. Um dos melhores do gênero. Gostei tanto que comprei o disco do Zodiac Mindwarp pensando que tinha a mesma pegada. Não. Mas tinha sua versão do Born to Be Wild. Țão sem graça quanto a versão do The Cult.
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