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Lançado em 15 de maio de 1990, Bloodletting é o terceiro álbum do Concrete Blonde e, sem dúvida, o ponto mais alto da carreira da banda liderada pela vocalista e baixista Johnette Napolitano. Um disco sombrio, introspectivo e carregado de emoção, Bloodletting mergulha em atmosferas góticas e letras confessionais, refletindo a dor, o desejo e a angústia de forma visceral – tudo isso amarrado por uma sonoridade que equilibra o rock alternativo com ecos do pós-punk e do gothic rock.
Enquanto os dois primeiros álbuns da banda (o homônimo Concrete Blonde, de 1986, e Free, de 1989) já mostravam uma sonoridade alternativa interessante, foi com Bloodletting que o Concrete Blonde encontrou sua identidade definitiva. A produção – a cargo de Chris Tsangarides e da própria banda – trouxe uma atmosfera mais densa, influenciada pelo rock gótico britânico, mas com o peso emocional característico da cena alternativa americana.
O álbum abre com a faixa-título, “Bloodletting (The Vampire Song)”, onde Napolitano assume a persona de uma mulher vampira, sedenta por mais do que sangue – fome por amor, por intensidade, por significado. A letra é teatral, quase literária, e revela a influência de temas góticos que permeiam todo o disco.
O maior sucesso do álbum – e de toda a carreira do Concrete Blonde – é “Joey”. Uma balada dolorida e comovente sobre um amor marcado pelo alcoolismo e pela destruição emocional, a canção apresenta uma das performances vocais mais intensas de Napolitano. Sua voz rouca, potente e desesperada transforma “Joey” em uma espécie de hino trágico. É uma música que não envelhece, justamente porque toca em feridas universais. O impacto de “Joey” foi tão forte que a levou ao topo das paradas da Modern Rock Tracks nos Estados Unidos e ao Top 20 na Billboard Hot 100 – um feito raro para uma banda com uma sonoridade tão soturna.
Além da poderosa “Joey”, o álbum é recheado de momentos marcantes. “Caroline” é melódica e melancólica, enquanto “Tomorrow, Wendy” encerra o disco com uma meditação sombria sobre morte e resignação – uma colaboração com Andy Prieboy (ex-Wall of Voodoo), que compôs a faixa originalmente. O uso de temas mórbidos aqui não soa gratuito, mas como desabafo, como uma tentativa de encontrar sentido no meio do caos. Outros destaques incluem “The Sky Is a Poisonous Garden”, com sua batida tribal e influência do rock gótico, e “Lullabye”, que beira o folk sombrio.
O grande diferencial de Bloodletting está na figura de Johnette Napolitano. Poucas vocalistas dos anos 1990 conseguiram transmitir tanto sentimento bruto quanto ela. Sua entrega é absoluta, sua voz é imperfeita de forma perfeita – sempre à beira do colapso emocional, mas firme o suficiente para guiar o ouvinte por essas histórias de dor e redenção. A guitarra de James Mankey é cheia de texturas e detalhes que fazem a diferença, enquanto a bateria de Paul Thompson, ex-Roxy Music, dá solidez à sonoridade singular do trio. Vale mencionar a participação de Peter Buck, guitarrista do R.E.M., que toca bandolim na bela “Darkening of the Light”.
Bloodletting se tornou um clássico cult, reverenciado tanto por fãs do rock alternativo quanto por amantes da estética gótica. Em um período em que o grunge ainda se aproximava do mainstream, o álbum antecipava o clima soturno e introspectivo que dominaria a década seguinte. Mesmo com seu relativo sucesso comercial, o Concrete Blonde nunca buscou concessões – e isso torna Bloodletting ainda mais especial.
Trinta e cinco anos após seu lançamento, o disco continua atual: cru, emocionalmente honesto e artisticamente corajoso. Um marco dos anos 1990 e um dos melhores álbuns góticos do rock americano.
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