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Balls to the Wall (1983): o disco que solidificou a alma do Accept e abriu as portas do mundo para a banda

Balls to the Wall (1983) não é apenas o álbum mais famoso do Accept, mas o momento em que a banda alemã finalmente entendeu como transformar sua identidade pesada e direta em algo capaz de atravessar fronteiras. Há um equilíbrio raro entre força, simplicidade e ambição, e é isso que faz o álbum resistir tão bem ao tempo. O Accept vinha de Restless and Wild (1982) , obra fundamental para a gênese do speed e do power metal europeu. Mas aqui o grupo mira outro território: riffs mais amplos, refrões de arena e uma sonoridade que, sem perder agressividade, abraça uma ideia clara de impacto. Balls to the Wall é metal tradicional com consciência de mundo, e isso já aparece na faixa-título. A música virou hino por causa do riff que cola instantaneamente, do ótimo refrão e da interpretação inconfundível de Udo Dirkschneider. Mas a letra, frequentemente mal interpretada, fala de libertação, resistência e direitos humanos. É a mistura de provocação visual com discurso social que dá ainda mais...
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O retorno do Guns N’ Roses com os novos singles “Atlas” e “Nothin’”

O Guns N’ Roses voltou a lançar músicas novas, mas a história não começa em 2025. As sementes de “Atlas” e “Nothin’” estão enterradas lá atrás, nas intermináveis sessões de Chinese Democracy (2008), quando Axl Rose parecia disposto a construir uma obra impossível, feita de incontáveis demos, versões, rearranjos e ideias que nunca chegavam ao fim. Quase duas décadas depois, essas músicas finalmente emergem não como relíquias, mas como declarações de que o Guns ainda respira. “Atlas”, antes conhecida entre colecionadores e fãs como “Atlas Shrugged”, já circulava em versões demo há anos. A faixa original tinha a mistura típica da era Chinese Democracy : camadas digitais, texturas densas, uma grandiosidade quase barroca. A versão lançada agora, porém, é outra história. Retrabalhada com a presença de Slash e Duff, “Atlas” ganhou musculatura. O riff, seco e direto, corta toda a nebulosidade do passado e recoloca o Guns no terreno que sempre lhe pertenceu. Slash assume a linha de frente com...

Band on the Run (1973): caos, fuga e a obra-prima que redefiniu Paul McCartney

Band on the Run (1973) é o momento em que Paul McCartney finalmente para de fugir da própria sombra. Depois de anos enfrentando comparações inevitáveis com os Beatles e críticas pouco generosas à sua produção inicial pós-fab four, McCartney encontrou, em meio ao caos, o disco que redefiniria sua trajetória solo. A ironia é que tudo nasceu num cenário improvável: gravações em Lagos, na Nigéria, com o Wings reduzido a um trio e enfrentando desde problemas técnicos até questões de segurança. É a clássica história do desastre que vira obra-prima. O que mais impressiona em Band on the Run é a confiança. A faixa-título, uma suíte em três atos que começa sombria, abre no refrão luminoso e termina impulsionada por guitarras ensolaradas, funciona como metáfora perfeita para o renascimento artístico de McCartney. “Jet”, por sua vez, é pop rock britânico em sua forma mais exuberante: refrão gigante, energia juvenil e uma produção que ainda soa viva mais de cinquenta anos depois. Já “Let Me R...

Enquanto você celebra o Wrapped, o Spotify continua punindo quem faz música

O Spotify transformou radicalmente a forma como ouvimos música. Isso é inegável. O acesso instantâneo a praticamente tudo que já foi gravado parece, à primeira vista, um paraíso para qualquer fã. Mas, conforme a plataforma cresceu, ficou cada vez mais claro que esse modelo esconde uma série de distorções que têm impacto profundo, e muitas vezes nocivo, na indústria musical. O discurso da democratização convive com uma estrutura que remunera mal, concentra ganhos e transforma arte em estatística. O lançamento do Spotify Wrapped 2025 deixa tudo isso ainda mais evidente. Todos os anos, o Wrapped transforma o hábito musical do usuário em um espetáculo de dados: minutos ouvidos, artistas mais tocados, gêneros, humor do dia, “idade musical”. Um festival de números que viraliza nas redes, cria microcelebridades temporárias e faz cada assinante se sentir parte de uma narrativa maior. Mas enquanto o Wrapped celebra quem escuta, ele silencia quem faz. O lado luminoso criado para os consumidore...

Taken by Force (1977): o último voo de Uli Jon Roth nos Scorpions

Taken by Force (1977) é um disco que só revela toda a sua força quando você o enxerga como um ponto de fratura dentro da trajetória dos Scorpions. Ele não é apenas o quinto álbum da banda, mas sobretudo o último capítulo da era Uli Jon Roth, a fase mais artística e menos ortodoxa do grupo, e a fundação do que viria a ser o som mundialmente popular dos alemães na década de 1980. É um álbum de transição tão intenso que, por vezes, parece que dois Scorpions diferentes convivem dentro dele. Em 1977, o Scorpions vivia um momento de tensão criativa. Uli Roth, cada vez mais interessado em caminhos espirituais, místicos e neoclássicos, já não se reconhecia no rumo mais direto e comercial que Rudolf Schenker e Klaus Meine buscavam. Ao mesmo tempo, a entrada do baterista Herman Rarebell dá ao grupo uma base rítmica mais seca, dura e precisa, preparando o terreno para a fase Animal Magnetism (1980) e Blackout (1982). Taken by Force  nasce desse choque de intenções: é um álbum onde ambiçã...

Hoje é um Belo Dia para Matar: a serial killer mais adorável dos quadrinhos (2025, Darkside)

Hoje é um Belo Dia para Matar chega ao Brasil pela DarkSide com a mesma sutileza perversa que fez Beneath the Trees Where Nobody Sees (o título original da obra) se destacar lá fora. É aquele tipo de HQ que, se você folhear rápido, pode até confundir com um livro infantil: cores suaves, bichinhos antropomórficos, uma vila acolhedora e uma protagonista que parece saída de uma prateleira de pelúcias. Mas basta virar poucas páginas para perceber que Patrick Horvath está interessado justamente no atrito entre o adorável e o abominável. E ele leva essa ideia até as últimas consequências. Samantha Strong, a ursa que vive na pequena Bosque do Riacho, é a espinha dorsal dessa desconfortável simbiose. Por fora, uma cidadã modelo. Por dentro, uma serial killer disciplinada, com código próprio e um método tão organizado quanto perturbador. Horvath brinca com essa duplicidade como quem afia uma faca: cada gesto gentil esconde uma sombra, cada enquadramento aconchegante prepara terreno para a r...

Os 30 melhores álbuns de metal de 2025 na opinião do Consequence of Sound

O Consequence of Sound é um dos veículos mais respeitados do jornalismo musical contemporâneo. Desde sua criação em 2007, o site se tornou referência para jornalistas, críticos e pesquisadores por combinar profundidade editorial, cobertura diária e uma curadoria que abrange desde os grandes nomes da música até movimentos emergentes do underground. Com reportagens, reviews, entrevistas e análises que dialogam diretamente com o que há de mais relevante na cultura pop, o Consequence oferece um panorama consistente e atualizado da indústria. Para quem trabalha com jornalismo musical, o site é uma ferramenta essencial: apresenta tendências, contextualiza lançamentos, amplia debates e antecipa discussões que acabam reverberando em outros veículos ao redor do mundo. O Consequence divulgou sua lista de melhores álbuns de metal de 2025, destacando os trabalhos que definiram o gênero ao longo do ano. A seleção funciona como um termômetro das transformações do metal contemporâneo e serve de g...

Os 100 melhores álbuns de 2025 na opinião da Rolling Stone

A Rolling Stone é uma das publicações mais influentes da história da música e da cultura pop. Desde sua fundação em 1967, a revista se consolidou como referência mundial em jornalismo musical, crítica cultural e cobertura de temas ligados ao comportamento, política e entretenimento. Ao longo das décadas, ajudou a moldar a percepção pública sobre artistas, tendências e movimentos culturais, sendo responsável por algumas das reportagens, entrevistas e listas mais emblemáticas da indústria. Seu impacto vai além da música: a Rolling Stone contribuiu para legitimar o rock como expressão artística, acompanhou o crescimento do hip-hop, registrou transformações sociais importantes e se tornou um barômetro da relevância cultural de cada geração. Para artistas, figurar em suas páginas — especialmente em críticas, perfis ou listas — sempre significou reconhecimento e validação. Agora, reafirmando essa tradição, a revista divulgou sua aguardada lista com os 100 melhores álbuns de 2025, um pano...

Rubber Soul (1965): o disco onde os Beatles começam a reinventar tudo

Rubber Soul (1965) é o momento em que os Beatles deixam de ser apenas a maior banda do mundo para se tornarem um grupo verdadeiramente inquieto. A virada estética que acontece aqui é profunda: o rock juvenil e direto dos primeiros discos ganha novas camadas, novas ambições e um cuidado de composição que aponta, com clareza, para a revolução que a banda faria nos anos seguintes. Lançado em dezembro de 1965, o álbum captura John, Paul, George e Ringo em velocidade criativa máxima. A convivência com Bob Dylan, o impacto do folk-rock norte-americano, as primeiras experiências com instrumentos e timbres incomuns, tudo se mistura para gerar um disco que soa orgânico e coeso. Não é mais uma coleção de singles embalados para as paradas: Rubber Soul é pensado como unidade, como obra completa. “Drive My Car” abre o álbum com humor e groove, quase anunciando que algo mudou. Depois vêm as letras mais introspectivas, reflexivas e emocionalmente densas: “Norwegian Wood” e sua atmosfera folk en...

O Retorno do Chacal – Sádica Vingança: faroeste bruto e o resgate de um Brasil das bancas (2025, Tábula Editora)

A Tábula Editora segue, volume após volume, reconstruindo um pedaço importante e meio esquecido da memória dos quadrinhos brasileiros. O Retorno do Chacal – Sádica Vingança é mais um capítulo desse esforço. Publicado originalmente em Novo Chacal nº 22, de 1982, a história retorna agora com restauração cuidadosa, tratamento editorial digno e o charme imbatível de um faroeste que nunca tentou ser outra coisa além de direto, brutal e deliciosamente popular. O personagem Tony Carson, o Chacal, vive daquilo que sempre moveu os anti-heróis mais interessantes: sobrevivência, pragmatismo e um código moral que não cabe em nenhuma lei oficial. O roteiro de Antônio Ribeiro abraça tudo isso sem cerimônia. A trama tem o ritmo seco das histórias de banca da época: ação rápida, violência sem floreios e a sensação de que, naquele Oeste hostil, ninguém está totalmente a salvo, muito menos emocionalmente intacto. O grande chamariz, como em toda a obra do personagem, está no desenho de Jordí, que p...