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Entre o glamour e a decadência: a força de Hotel California (1976), o álbum definitivo dos Eagles

Poucos álbuns traduzem tão bem as contradições do rock dos anos 1970 quanto Hotel California (1976) . Os Eagles, já donos de um sucesso gigantesco, enxergavam claramente o abismo que se abria entre o glamour da indústria e a deterioração moral por trás das cortinas. Em vez de fugir, decidiram encarar o tema de frente. O disco surge desse incômodo: elegante por fora, corrosivo por dentro, e justamente por isso tão fascinante. A entrada do guitarrista Joe Walsh funciona como um divisor de águas. Seu estilo elétrico, mais agressivo e intuitivo, abre espaço para um som com musculatura de arena, e isso se reflete em praticamente todo o álbum. Não por acaso, o álbum foi lapidado ao longo de meses, em gravações extensas entre Miami e Los Angeles. O grupo poliu cada arranjo como se buscasse um equilíbrio improvável entre sofisticação pop, técnica e grandiosidade. A faixa-título é um caso à parte. Um épico que já nasceu eterno, carregado de imagens ambíguas e interpretações para todos os g...
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Juiz Dredd - Os Casos Completos Vol. 6: a fase mais ácida e afiada de Dredd (2025, Mythos Editora)

Juiz Dredd – Os Casos Completos Vol. 6 , publicado pela Mythos Editora, é mais um capítulo essencial na recuperação da fase clássica do personagem no Brasil. Assim como nos melhores momentos da série, o volume funciona menos como uma simples coletânea e mais como um documento histórico: estamos diante de um Dredd em plena reconstrução de si mesmo e de Mega-City Um, ainda sofrendo as consequências diretas da Guerra do Apocalipse, arco que mudou a história da série. O material reúne histórias publicadas em um período marcado por episódios curtos, ritmo acelerado e aquela mistura inconfundível de humor ácido, crítica social e violência estilizada. John Wagner e Alan Grant, a dupla de roteiristas que melhor entendeu a essência do personagem, estão afiados, usando cada narrativa como uma pequena parábola futurista sobre burocracia, decadência urbana, paranoia estatal e a eterna tensão entre autoridade e caos. Histórias como “A Liga dos Gordos”, “O Caçador Hag” e outras pequenas joias do p...

8 de dezembro: o dia mais triste da história do rock

Existem datas que, por uma combinação cruel do destino, acabam marcadas para sempre na memória do rock. Oito de dezembro é uma delas. Em três momentos distintos ocorridos nos anos de 1980, 1984 e 2004 o mundo perdeu artistas fundamentais para a evolução do gênero: John Lennon, Razzle e Dimebag Darrell. Músicos diferentes, de épocas e estilos distintos, mas unidos por obras transformadoras e partidas abruptas que deixaram cicatrizes profundas na música pesada e na cultura pop. Na noite de 8 de dezembro de 1980, John Lennon retornava ao edifício Dakota, em Nova York, quando foi baleado por Mark Chapman. Socorrido às pressas, Lennon não resistiu. O choque foi imediato e global: não era apenas o assassinato de um músico: era a queda violenta de um dos pilares da música e da contracultura do século XX. A influência de Lennon atravessa décadas. Como cofundador dos Beatles, ele ajudou a redefinir os limites da música pop e do rock, levando o formato do álbum a um novo patamar artístico, a...

Made in Japan (1972): o Deep Purple no auge absoluto

Existem discos ao vivo que você escuta para sentir a energia de um show, e existem aqueles que parecem capturar um momento irrepetível na história do rock. Made in Japan pertence a essa segunda categoria. Lançado em 1972 e registrado no calor da turnê de Machine Head , o álbum mostra o Deep Purple em sua formação clássica tocando com uma confiança absurda, entregando improvisos que desafiam o óbvio e uma comunicação musical que beira o telepático. Gravado em três noites no Japão, entre Osaka e Tóquio, o álbum nasceu da insistência da própria banda. O Deep Purple nunca foi muito fã de overdubs em discos ao vivo, e aqui decidiu abraçar o risco: o que você ouve é essencialmente o que aconteceu no palco. E talvez seja justamente essa falta de polimento que torna Made in Japan tão irresistível. Cada faixa tem vida própria. Cada execução parece fluir para onde a música mandar. A abertura com “Highway Star” já deixa tudo claro: velocidade, precisão e um nível de confiança que só grupos ...

Oklahoma!: um dos maiores épicos de Tex (2025, Mythos Editora)

Há histórias de Tex que funcionam como aventuras tradicionais: rápidas, diretas, cheias de tiroteios, cavalgadas e justiça. Oklahoma! não é uma delas. Aqui, o roteirista Giancarlo Berardi, o mesmo nome por trás da poesia cotidiana de Ken Parker e do refinamento narrativo de Julia , amplia o faroeste bonelliano para algo mais ambicioso. É uma história longa, densa, quase um romance ilustrado, construída em cima de um episódio real da história dos Estados Unidos: a corrida pelos lotes de terra no Oklahoma. Logo nas primeiras páginas fica claro que Berardi não está interessado apenas em mover Tex e Kit Carson de um ponto a outro. Seu foco está nos detalhes humanos: nas famílias que atravessam o país em busca de um pedaço de chão, nos oportunistas que usam a confusão para enriquecer, nos conflitos entre esperança e brutalidade que moldam a fronteira. A narrativa respira, avança com calma, cria expectativas e acompanha personagens que entram e saem de cena como se fossem parte de um gra...

Oceanborn (1998): quando a Nightwish aprendeu a soar como Nightwish

Oceanborn (1998) é o primeiro grande voo do Nightwish. Se a estreia Angels Fall First (1997) ainda soava tímida, dividida entre folk e metal melódico, o segundo álbum transforma essa hesitação em pura ambição. Aqui a banda descobre não apenas como quer soar, mas o tamanho exato de sua própria grandiosidade. E decide abraçá-la sem medo. O disco marca a consolidação do que, anos depois, seria reconhecido como a espinha dorsal do symphonic metal: guitarras rápidas e melodias de power metal, arranjos neoclássicos de teclado e a voz operística de Tarja Turunen ocupando o centro do palco com uma segurança que já anunciava uma carreira única. Tudo é mais veloz, mais dramático e mais cinematográfico do que antes, como se Tuomas Holopainen tivesse encontrado, de repente, a chave do seu mundo interior. “Stargazers” abre o álbum sem pedir licença, uma avalanche power metal que expõe de cara a nova proposta: velocidade, técnica e melodia convivendo com naturalidade. “Gethsemane” e “Sacrament...

O fascínio dos sebos: por que garimpar é um dos grandes prazeres de quem coleciona CDs

Existe um tipo de alegria que só quem coleciona CDs conhece. Não é sobre ter a edição mais luxuosa, nem sobre completar uma discografia com links rápidos de loja online. É sobre garimpar. Sobre entrar em um sebo sem saber o que vai encontrar. Sobre aceitar o caos das prateleiras, o pó que se acumula sobre o plástico antigo e aquela sensação reconfortante de que qualquer coisa pode acontecer. Garimpar é um ato de fé. Você nunca sabe se vai sair de mãos abanando ou com um tesouro que, até então, parecia existir apenas em um sonho distante. Às vezes é só mais do mesmo: edições comuns, preços altos, pilhas desorganizadas. Mas basta um único achado como um item fora de catálogo, uma prensagem nacional esquecida ou aquele item importado impossível de ser encontrado de outra forma e em outro lugar, para transformar a visita em uma pequena vitória pessoal. E é justamente essa imprevisibilidade que mantém o ritual vivo. Os sebos são lugares onde o tempo se dobra. Ali, álbuns que marcaram ge...

Decades: Live in Buenos Aires (2019): Nightwish revisita a própria história em um dos melhores lives da carreira

Decades: Live in Buenos Aires (2019) não é apenas mais um registro ao vivo do Nightwish, embora, olhando friamente, pudesse parecer. Gravado durante a Decades World Tour no sempre inflamado público de Buenos Aires, o álbum funciona como uma espécie de cápsula histórica: um resumo panorâmico da trajetória da banda finlandesa, revisitando eras distintas e conectando, em um mesmo palco, músicas que nasceram em momentos completamente diferentes da vida do grupo. A proposta da turnê já vinha com esse DNA. A ideia era olhar para trás, cavar as próprias raízes e trazer à superfície tanto os clássicos indiscutíveis quanto faixas menos lembradas. Esse conceito aparece de forma muito clara no setlist, que passeia por hits como “Wish I Had an Angel”, “Nemo” e “Ghost Love Score”, mas que também abre espaço para músicas que raramente voltam ao repertório como “Deep Silent Complete”, “Dead Boy’s Poem” e “Gethsemane”, resgatando nuances que muitas vezes ficam escondidas pela grandiosidade sempre ...

El Camino (2011): quando o The Black Keys decidiu soar gigante

El Camino (2011) é o disco em que o The Black Keys decide, sem qualquer pudor, soar grande. É a guinada em que Dan Auerbach e Patrick Carney deixam de ser apenas um duo de garagem com alma blues e se transformam em uma banda capaz de escrever hits que atravessam fronteiras geográficas, estilísticas e geracionais. Se Brothers (2010) havia sido o alerta, El Camino é a confirmação: o Black Keys nasceu para ocupar espaços amplos. A chave está na presença do produtor Danger Mouse, que aqui funciona como um verdadeiro terceiro integrante. Ele dá forma ao que antes era instinto. Mantém a sujeira, mas a molda. Mantém o groove, mas o organiza. Mantém a urgência, mas a direciona. O resultado é um álbum que não perde a essência caseira da banda, mas a reformula em arquitetura pop. O Black Keys nunca soou tão afiado e tão consciente da própria força. O repertório é uma sequência de acertos. “Lonely Boy” dispensa apresentações: riff clássico instantâneo, refrão que se cola como chiclete e a ...

Os 50 melhores álbuns de 2025 na opinião da Classic Rock Magazine

A Classic Rock Magazine é uma das publicações mais respeitadas do jornalismo musical mundial. Criada no Reino Unido, a revista se consolidou como uma referência por unir reportagens profundas, entrevistas exclusivas e análises detalhadas que preservam a relevância histórica do rock enquanto acompanham suas constantes transformações. Ao longo dos anos, tornou-se uma fonte essencial para fãs, colecionadores e profissionais da indústria, ajudando a contextualizar artistas, movimentos e discos que moldaram o gênero. A revista divulgou sua aguardada lista dos 50 melhores álbuns de 2025, reforçando mais uma vez sua influência na discussão global sobre o presente e o futuro do rock.  50 Neil Young – Talkin to the Trees 49 Chrissie Hynde and Pals – Duets Special 48 Buckcherry – Roar Like Thunder 47 Styx – Circling From Above 46 Bob Mould – Here We Go Crazy 45 Amplifier – Gargantuan 44 Bush – I Beat Loneliness 43 Helloween – Giants & Monsters 42 Pulp – More 41 Luke...