Old Boy Vol. 2 (Comix Zone): o peso do passado e os rostos que esquecemos (Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi, 2025, Comix Zone)
No segundo volume de Old Boy, a trama de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi aprofunda o mistério que envolve o protagonista, Gotô, preso por dez anos sem explicação e agora solto em busca de respostas. Mas, à medida que ele se aproxima de descobrir quem foi o responsável por destruir sua vida, Old Boy nos arrasta para uma dimensão emocional menos óbvia: a da memória afetiva e da efemeridade das conexões humanas.
Este volume intensifica o clima de tensão psicológica, mas também dá espaço para o protagonista lidar com fragmentos de lembranças, pistas que não são apenas sobre seu cárcere, mas sobre sua própria identidade. Em um momento crucial, ele percebe que há rostos e nomes que sumiram da sua mente — pessoas que, embora tenham sido significativas em algum ponto, foram apagadas pela força do tempo, da dor e do trauma.
Aqui nasce a conexão mais tocante com o nosso próprio cotidiano. Quem nunca se deu conta, em um instante aleatório, de alguém que foi vital em um determinado momento da vida e, por inércia ou necessidade, foi deixado no passado? Uma amizade da infância, um amor que parecia eterno, um colega de trabalho que fez diferença. Como o protagonista de Old Boy, todos nós temos esse arquivo interno desorganizado — uma galeria de pessoas que nos moldaram, mesmo que hoje não saibamos mais por onde andam ou se ainda existem.
Old Boy nos força a refletir sobre essa impermanência. O vilão da história conhece o protagonista melhor do que ele mesmo, e isso é simbólico: há momentos em que perdemos o controle da nossa própria narrativa, e o passado — ou quem viveu nele — se torna uma sombra. O mangá mostra que o esquecimento não é sempre um ato voluntário, mas uma forma de sobrevivência.
A edição da Comix Zone, mais uma vez, é primorosa, com tradução fluida e um cuidado gráfico que valoriza a arte de Minegishi. A leitura é rápida, mas densa, como se cada página carregasse não só o suspense da trama, mas também a angústia existencial de quem busca no outro — e em si — as peças de um quebra-cabeça emocional. Com 520 páginas, sobrecapa e marcador de página, reafirma a proposta da editora em fazer dessa republicação a melhor edição de Old Boy já publicada no Brasil – a série se encerra em três volumes.
Old Boy é mais do que uma história de vingança: é uma narrativa sobre identidade, perda e sobre aquelas pessoas que, mesmo esquecidas, continuam vivendo dentro da gente, nos moldando em silêncio.
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