Tex Willer nº 55: uma incursão noir no Velho Oeste (Mauro Boselli e Roberto De Angelis, 2025, Mythos Editora)


A edição nº 55 da revista Tex Willer, publicada pela Mythos Editora, reúne as edições italianas originais 71 a 73 da nova série dedicada à juventude de Tex. Com roteiro de Mauro Boselli e arte de Roberto De Angelis, a história A Rainha do Rio não apenas revisita, mas atualiza uma trama clássica escrita originalmente por Gian Luigi Bonelli, criador do personagem. A história original apareceu entre as tiras 14 a 19 de Tex e foi posteriormente republicada nas primeiras edições da série bonelliana regular em 1958.

Desta vez, a narrativa é recontada com uma linguagem mais moderna, com atenção maior ao desenvolvimento psicológico dos personagens e à ambientação. A trama se passa na cidade mineira de Gila River, onde Tex, ainda jovem e recém condecorado como ranger, busca capturar o assassino Tim Hardy. A missão se complica rapidamente, levando Tex a descobrir uma rede de corrupção que envolve o capitão da barcaça River Queen, Tom Lowett, e a figura central da história: Marie Gold, a bela e enigmática gerente do Gold Saloon.

Marie Gold é uma das figuras mais marcantes da narrativa e traz à tona uma referência direta ao cinema noir. Bela, sedutora e de intenções ambíguas, ela encarna com perfeição o arquétipo da femme fatale – mulheres que, nos filmes noir clássicos, manipulam heróis durões em um jogo de sedução, traição e redenção impossível. A presença dessa figura transforma completamente o tom da história, dando-lhe uma atmosfera de mistério e tensão constante. A estrutura narrativa também remete ao noir: há crime, corrupção, moralidade difusa, personagens ambíguos e uma cidade sufocante, marcada pela decadência e pela ganância. Tudo isso envolve Tex em uma espiral de violência e escolhas difíceis, mais próximas do detetive urbano de Los Angeles dos anos 1940 do que do tradicional justiceiro do Oeste.

Outro diferencial desta edição é a maneira como Tex é retratado fisicamente vulnerável. Ao contrário da maioria das histórias em que o herói parece quase invencível, aqui ele é atingido por balas e sofre consequências. Essa escolha narrativa torna a trama mais intensa e realista, aprofundando o drama e reforçando a ideia de que este jovem Tex ainda está em formação, ainda sente dor, dúvida e limites.

Mauro Boselli conduz a trama com ritmo afiado, equilibrando diálogos densos com ação constante. Já a arte de Roberto De Angelis se destaca pelo traço detalhado, expressivo e carregado de sombras, ideal para reforçar a estética noir. A cidade, os saloons, os becos e até os figurinos exalam essa ambientação sombria que define a narrativa visualmente.

A Rainha do Rio é um excelente exemplo de como a série Tex Willer tem conseguido manter viva a herança de Gian Luigi Bonelli ao mesmo tempo em que moderniza sua linguagem e explora novas atmosferas. Ao misturar faroeste e noir, ação e drama psicológico, romance clássico e reinterpretação contemporânea, essa edição se destaca como uma das mais ousadas e bem-sucedidas da fase recente do personagem.

A edição da Mythos vem com 196 páginas impressas em papel offset, formato italiano e lombada quadrada, com tradução de Júlio Schneider.


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