Discos Fundamentais: Robert Plant & Alison Krauss - Raising Sand (2007)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Raising Sand vem carregado de vários méritos. Um deles é ser o melhor trabalho de Robert Plant desde Physical Graffiti, clássico do Led Zeppelin lançado em 1975. Outro é revelar o talento de Alison Krauss, diva do bluegrass norte-americano, para um público muito maior que o seu habitual. Mas o principal é fazer com que essa união improvável resulte em um dos mais belos trabalhos dos últimos dez, quinze anos.

A química entre Plant e Krauss beira o sobrenatural. A voz do Led Zeppelin encontrou em Alison sua afinidade musical mais intensa desde a parceria com Jimmy Page, que gerou somente uma das maiores bandas de todos os tempos. Os dois se completam, com Plant mostrando os caminhos para Krauss, enquanto Alison torna doces e ainda mais belas as intervenções de Robert.

Produzido pelo lendário T. Bone Burnett,
Raising Sand apresenta uma sonoridade suja, áspera, ardida, com timbres cheios e graves, nos levando de volta aos melhores momentos do country rock do final dos anos sessenta e começo da década de setenta. É como se, ao colocar o disco para tocar, você se sentisse sentado ao lado de um celeiro do Alabama ou do Mississipi, escorado em um monte de feno, pensando na vida enquanto o sol se põe.

Um aviso aos fãs do Led Zeppelin: não espere encontrar em
Raising Sand os típicos vôos vocais de Plant. Aqui a história é outra. Mais contido e focado nos detalhes das canções, Plant canta com a serenidade que só alguém que já esteve no topo do mundo e viveu tudo o que ele viveu pode cantar. Sua voz está mais crua, mais profunda, revelando as experiências acumuladas ao longo dos anos.

Já Alison Krauss é o seu contraponto perfeito. Bela e doce, ela não compete com Plant em nenhum momento. Sabe que o seu nome é secundário para a maioria, menos para a voz do Zeppelin. Seu timbre delicado, afinadíssimo e transporta o ouvinte através das canções, revelando uma artista dona de um talento estupendo.

A parte instrumental de
Raising Sand brilha tão intensamente quanto os arranjos vocais. As guitarras, a cargo de T. Bone Burnett e Marc Ribot, revelam novas dimensões ao instrumento. A sutileza marca o trabalho das seis cordas, onde Burnett e Ribot passeiam com talento ímpar por caracteríscas que vão do country ao bluegrass, passando pelo blues e até mesmo pelo jazz dos anos vinte.

As treze canções de
Raising Sand formam um track list minucioso. Há versões para músicas de Gene Clark, Sam Phillips, Everly Brothers, Townes Van Zandt, Tom Waits, entre outros, em uma espécie de tratado do cancioneiro popular ianque. Faixas como "Killing the Blues", "Polly Come Home", "Gone Gone Gone (Done Moved On)", "Please Read the Letter", "Trampled Rose", "Fortute Teller" e "Stick With Me Baby" estão entre as minhas favoritas.

Raising Sand é um álbum único. Um disco que eleva a alma do ouvinte a um nível inédito, de onde a gente não quer mais sair. Um trabalho maravilhoso de Robert Plant e Alison Krauss, e que figura desde já como um dos registros fundamentais dos últimos tempos.


Faixas:
1. Rich Woman - 4:04
2. Killing the Blues - 4:16
3. Sister Rosetta Goes Before Us - 3:26
4. Polly Come Home - 5:36
5. Gone Gone Gone (Done Moved On) - 3:33
6. Through the Morning, Through the Night - 4:01
7. Please Read the Letter - 5:53
8. Trampled Rose - 5:34
9. Fortune Teller - 4:30
10. Stick With Me Baby - 2:50
11. Nothin' - 5:33
12. Let Your Loss Be Your Lesson - 4:02
13. Your Long Journey - 3:55

Comentários

  1. Realmente um grande disco.
    Mereceu todos os prêmios que ganhou.
    Ótimo texto

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  2. Bah, fiquei curioso agora, vou atrás dle. Eu amo o Presence e o Manic Nirvana, mas dica do Cadão não da pra desperdiçar (mesmo com aquela do Nostradamus, hehehe)

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  3. Mairon, so não espere nada na linha dos discos que você citou. "Raising Sand" não é um disco de hard rock, está bem longe disso. É blues, country, bluegrass, e não tem NADA de hard.

    Abração.

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