A estagnação criativa do thrash metal



Poucos gêneros da música pesada são tão ligados aos anos 1980 como o thrash metal. Foi naquela década que o estilo surgiu e se popularizou, principalmente através da cena da Bay Area de San Francisco, na Califórnia, de onde vieram bandas como Metallica, Slayer, Megadeth, Exodus, Testament e tantas outras que fizeram história. Porém, nos últimos anos, o estilo parece estar estagnado criativamente, com uma grande maioria de grupos alimentando o revival do gênero com trabalhos que, na sua maioria, apenas reciclam ideias surgidas há um quarto de século atrás. É esse o futuro do thrash metal? E de quem é a culpa por tudo isso? Das bandas, dos fãs, da imprensa especializada? Do cenário como um todo? É isso que esse artigo irá tentar responder.




Quando nasceu, na primeira metade da década de oitenta, o thrash aproximou o heavy metal de seus fãs. Vestindo calças jeans e camisetas de bandas, os nomes do gênero se transformaram em porta-vozes dos headbangers, indo na contramão e surgindo como opção para uma considerável parcela do público que não digeria muito bem os excessos tão presentes no metal, de maneira geral. Aliada a essa estética, a música era muito mais pesada e agressiva do que o metal havia sido até então, e trazia elementos punk não apenas no aspecto musical, mas, principalmente, na filosofia do it yourself. Foi o thrash metal que alimentou e gerou a cultura da troca de fitas durante os anos 1980, revelando, na base do boca a boca, dezenas de bandas em todo o planeta. Resumindo: o thrash devolveu o metal para o povo, para o seu público. Ele era a música das ruas, verdadeiro, autêntico e cheio de vida.

A segunda metade da década viu nascer os principais clássicos do estilo, discos que até hoje ditam as regras no gênero. Exemplos não faltam: os três primeiros do Metallica, Reign in Blood do Slayer, Beneath the Remains do Sepultura, Peace Sells do Megadeth, Bonded by Blood do Exodus, The Legacy do Testament, Among the Living do Anthrax - a lista é enorme. Porém, com o desenvolvimento de suas carreiras, os principais nomes do estilo foram se afastando das raízes do thrash e trilhando caminhos distintos. O Metallica simplificou o seu som e se transformou em uma das maiores bandas da história do rock com o Black Album. O Slayer intensificou a agressividade e a violência de sua música e virou a principal bandeira do gênero. O Anthrax acentuou a presença de rap e outros estilos em sua música. O Sepultura inovou até dizer chega e mostrou que era possível fazer tudo diferente, mas implodiu e nunca mais foi o mesmo.



Após um período onde o thrash metal se viu meio sem direção durante a década de 90, principalmente devido ao surgimento do grunge e à revolução que as bandas vindas de Seattle fizeram na música pesada, nos anos 2000 assistimos um revival do gênero. Tendo o Metallica à frente - sempre eles -, que identificou uma tendência do público e primeiro investiu pesado em turnês focadas em clássicos para depois lançar o álbum Death Magnetic explorando um som mais retrô em 2008, o thrash ressurgiu para a grande massa através de de diversos outros discos que mostraram os músicos voltando os seus esforços criativos para o passado. O Slayer lançou Christ Illusion e World Painted Blood. O Megadeth gravou United Abominations e Endgame. O Anthrax voltou à ordem do dia em 2011 com Worship Music. O ápice disso tudo foi a turnê Big Four, que uniu as quatro principais bandas do gênero em shows antológicos ao redor do planeta.

Mas não existe outro caminho para o thrash metal que não seja o saudosismo puro e simples? Não é possível executar um thrash moderno e atual? Claro que é. As principais bandas que demostraram isso foram o Sepultura, com os fenomenais Chaos A.D. e Roots, e o saudoso Pantera, com Cowboys From Hell e Vulgar Display of Power. Apostando em riffs mais diretos e em muito groove, esses dois grupos levaram o gênero para outro caminho, influenciando milhares de bandas. Entretanto, os problemas internos acabaram os desestabilizando e levaram ambos à separação.

Durante os anos 2000, nomes como Nevermore, Lamb of God, Trivium e Machine Head lançaram discos que brindaram o público com uma nova maneira de se tocar thrash metal. Álbuns modernos, corajosos e repletos de inovação, que mostraram existir outro caminho além do saudosismo puro e simples. Porém, os fãs nunca aceitaram muito bem a inserção de novos elementos na sonoridade clássica do estilo, e essas bandas até hoje são vistas com desconfiança e preconceito por uma parcela do público - o mesmo que, passados mais de 15 anos, ainda não assimilou a experimentação e a ousadia de um trabalho como Roots, por exemplo.

Porque isso acontece? O thrash só é viável, comercialmente falando, se tiver uma sonoridade totalmente oitentista? E mais: porque essa sonoridade oitentista é vista de forma tão imaculada pelo público, como se fosse um sacrilégio partir dela e chegar a outros pontos muito mais alinhados com a realidade atual?



É difícil apontar um culpado para essa situação. Ao mesmo tempo que grande parte das bandas do estilo fica acomodada na zona de conforto do chamado “thrash clássico”, alguns grupos se aventuram e experimentam. É o caso do Vektor, responsável por um dos melhores trabalhos da história do gênero, o fenomenal Outer Isolation, de 2011. E outras bandas também, como Evile, Stam1na, Artillery e Soulfly - além dos já citados Nevermore, Lamb of God, Trivium e Machine Head -, que tem lançado discos excelentes e desafiadores nos últimos anos, que apresentam novas propostas sonoras para o thrash. Ao mesmo tempo, uma outra parcela de bandas aproximou o gênero do death e do black metal, alcançando resultados muito interessantes. É o caso de grupos como Witchery, Deceased, Ravencult e Destroyer 666 - só para ficar em alguns -, que acentuaram ainda mais a agressividade do gênero e o estão renovando com uma dose extra de violência.

Mas, apesar disso tudo, o thrash metal ainda é percebido, pelo grande público, como um estilo focado no passado. Os fãs, de maneira geral, dão mais atenção e preferem as bandas que executam um som calcado no passado. Porque isso? Porque se fechar ao novo? Não me digam que não existe qualidade na música atual, porque ele é excelente. E, é claro, cada um tem as suas percepções pessoais e gostos próprios, porém essa preferência pelo antigo pode gerar dois fatores: a falta de mercado para as bandas mais ousadas, desencorajando a inovação e a ousadia criativa e, em um segundo momento, a estagnação do próprio estilo, que pode se esgotar por escolher ficar apenas dando voltas ao redor do próprio rabo. Hoje já existe um mercado muito forte totalmente dedicado ao thrash retrô, onde bandas como Toxic Holocaust, Municipal Waste, Skeletonwitch e Violator são os principais nomes. Mas o que esses grupos oferecem para o gênero além da visão saudosista pura e simples? Eles estão levando o thrash para algum lugar, para um caminho novo, ou estão apenas ocupando o espaço de outros ícones e se preparando para apagar a luz quando o estilo não tiver mais para onde ir?



A solução para essa situação está, ao meu ver, em duas possibilidades que precisam andar juntas. Uma é o crescimento de mercado para grupos que estão ousando e experimentando, e que já possuem uma sólida base de fãs. Nesse quadro estão o Machine Head, o Trivium, o Lamb of God e outros. E a outra possibilidade é que, como em qualquer estilo musical, os pioneiros sempre parecem ter o comando da realidade, as rédeas da situação. Se o Metallica, o Slayer, o Overkill, o Kreator, apostarem em uma direção e levarem a sua música para um caminho diferente e distante do saudosismo puro e simples, a maioria das outras bandas irá atrás. O Testament, ao lado do Exodus, tem alcançado ótimos resultados nos últimos anos, porém, para que essa mudança de curso seja realmente efetiva, é preciso que um nome do porte do Metallica ou do Slayer assuma o controle e decida que é preciso mudar a ordem do jogo.

Está tudo muito bom, as principais bandas estão ganhando dinheiro, os fãs estão satisfeitos. Mas até quando? A música, como qualquer forma de arte, se alimenta da criatividade, da ousadia, de novas ideias. Sem esses fatores, qualquer expressão artística abrevia o seu ciclo de vida. O thrash metal é um estilo apaixonante, mas precisa se renovar com urgência. Se isso não acontecer, ficará cada vez mais restrito a um público específico e cada vez menor. E, antes que você diga que tem que ser assim mesmo. “quem gosta de thrash curte até morrer”, lembre-se de uma coisa: pensar assim não é ser true, mas sim decretar o fim do estilo.

Comentários

  1. Concordo e discordo. Logicamente o texto é muito coerente, mas isso não é exclusividade do Thrash Metal. Outros estilos vivem do saudosismo e do repeteco do passado, sem inovações ou recriminando tais inovações. Infelizmente, isso existe na grande maioria dos segmentos do Rock e Metal.

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  2. Cadão, belo texto. Muito bom mesmo. Particularmente, não vejo problema na onda de revivals nem de bandas novas seguindo caminhos antigos.
    Eu penso um pouco diferente. Acho que agora o público tem:
    a) bandas pioneiras, na ativa, e boa parte delas muito bem
    b) bandas que deram um passo adiante, como Nevermore e Trivium muito bem citadas pelo amigo
    c) bandas novas que tocam o thrash, digamos, original

    E será que a música precisa mesmo evoluir? Na real, acho a palavra "evolução" muito perigosa quando se fala em arte. Será que Da Vinci deveria ter mudado seu estilo? Muitas bandas, cineastas, escritores, "evoluíram" e não se deram bem. Quando o Metallica investiu no Load e no Reload, teve muita reação contrária (apesar de, sim, ter aberto novas portas).

    Com este mundo novo, sem a indústria, com a internet e os downloas - por um lado ótimo, por outro muito ruim, pois permite a proliferação de lixo musical (inclusive dentro do heayv metal) - creio que é bom que tenhamos a reafirmação dos pontos altos do rock pesado.
    Um abraço.

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  3. Acredito que muito tenha a ver com o fato do thrash metal não ser mais um estilo tão comercialmente viável como foi no final dos anos 90, quando não apenas as bandas do primeiro escalão, mas diversas outras fizeram parte do cast de grandes gravadoras. Isso gerou uma identificação muito forte a nível mundial do público com o gênero, que teve a oportunidade de travar contato com muitos artistas que gozavam de distribuição eficiente. A própria maneira de adquirir discos era diferente, possibilitando contato maior com outros apreciadores, gerando identificação, camaradagem e amizades que duram até hoje. Isso muito provavelmente dispara o gatilho da nostalgia, que colabora para que tantos recebam de braços abertos sonoridades calcadas no que se fazia na época de maior evidência do estilo.

    Hoje se vai em um show do Machine Head e, por mais que tenha lançado um último disco excelente (o melhor de 2011 para mim), constata-se um decréscimo no público. Mesmo bandas tradicionais, como Kreator, Testament e Exodus tocam em locais de pequeno porte, como o Bar Opinião, que deves conhecer. Para estabelecer uma comparação, o Kreator tocou no Auditório Araújo Viana em 1991, algo totalmente impensavel hoje em dia.

    É claro que existe sim uma certa rejeição ao que é tido como "diferente", e isso foi sim alimentado pela imprensa local especializada, especialmente no decorrer dos anos 90 e na primeira metade da década passada, demorando para reconhecer a validade de muitos grupos como condutores, digamos, "da bandeira" do heavy metal, e dignos da evidência que recebiam em outras publicações e do respeito de boa parte do público. Alguns foram mais bem recebidos, talvez por flertarem com subestilos mais extremos, como o Fear Factory, outros foram a princípio execrados, como o Slipknot, provavelmente pelo fato de contarem com integrantes responsáveis por pick ups e samples.

    Lembrando que Megadeth e Slayer são de Los Angeles.

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  4. excelente texto, Cadão, muito bem fundamentado, só que discordando ligeiramente, não vejo grande problema que bandas novas trilhem velhos caminhos... isso aconteceu tb quando resgataram o velho estilo consagrado pelo Sabbath nos tempos do Sabotage, vol 4... e criaram o Stoner Rock nos anos 90, hoje o stoner praticamente domina o metal tendo bandas excelentes nesse caminho e outras, claro, nem tanto. Ou seja, tem público pra tudo e escolher um caminho já batido não significa necessariamente uma coisa ruim, principalmente considerando que tem muita banda inovando o thrash metal, como as citadas por vc; lamb of god, por exemplo, banda excelente, moderna, sem deixar de ser agressiva e pesada.

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  5. Corrigindo: "tão comercialmente viável como foi no final dos anos 80", não 90.

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  6. Um texto sobre thrash metal que somente cita o Kreator e deixa de fora as grandes bandas alemãs e européias do gênero deixa de considerar todo um ramo de evolução do estilo, considerando que Sodom, Tankard, Coroner, Sabbat, etc. tiveram um desenvolvimento muito mais próximo do metal clássico do que as estadunidenses (destas talvez somente o Overkill possa assim ser considerado) - do mesmo modo desconsidera a cena thrash clássica brasileira, uma das mais criativas do planeta.

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  7. Questão difícil essa sobre a estagnação do Thrash..e do Metal em geral, Acho que, o que falta hj em dia são músicas realmente emocionantes envolventes, pq músicos bons tem de sobra, quase todo mundo faz a liçao de casa direitinho, mas....tudo é muito igual, mecanico, chato sem felling e tb o fato da molecada hoje em dia ser criada a leite moça, não ter uma vida dificil, de chaos, querendo ou não isso tb é um fator para serem criadas boas músicas, o ódio, a aspereza, a revolta afinal estamos falando de Thrash Metal. No caso do Metal em geral todo mundo sabe que não é só música, é estilo de vida e o mundo nos anos 80 era muito, mas muito diferente comparado a hoje, então naturalmente o Metal tem que evoluir, é uma questão de sobrevivência ao longo das gerações. Mas que tipo de evolução seria essa? as grandes bandas (não quer dizer que sejam as melhores no seu estilo) como Metallica, Iron Maiden, AC/DC, Black Sabbath estão envelhecendo...quais os próximos nomes que vão substitui-las? Em termos de músicas marcantes, acessiveis ao grande público, turnes faraonicas, grandes vendagens mundo afora? o Metal é um dos poucos estilos que tem tantos fãs quanto bandas, muitas legais de se ouvir, algumas realmente emocionantes e diferenciadas, poucas hj em dia criativas. Mas evoluçao "certa" e equilibrada hj em dia vai ser dificil..Quem conseguir ocupará a vaga de um dos nomes acima.

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  8. Os fans from hell são muito ortodoxos, conservadores, xiitas e puritanos. Não deixam a banda agregar novos elementos. Fica tudo uma repetição infinita. O metallica foi o mais corajoso e ganhou novos fans mas foi também o mais criticado ... relação de ódio e amor com o metallica.

    O negócio é que o metaleiro thrash acostumou-se a achar que o som da década de 80 é música de verdade, true, tanto que tem o apelido de truzões. Mudar um pouco o estilo, pra eles, é ser falso, traiçoeiro, sem valores, infiel, fútil, superficial, caça-níquel, malvado e mentiroso.

    Quem é verdadeiro (truzão) vai querer um dia ser falso (fakezão)? É uma barreira de mentalidade e não de som. Já passou da hora de o MetallicaMegadeth e companhia fazer experimentações como Sepultura, Soulfly e outros. Mas qualquer mudança é sempre entendida como algo fakezão e desonesto.

    Os conservadores conseguem manter, não é à toa que o estilo vive quase como uma religião xiita. Mas os conservadores não conseguem mudar. Esse é o preço que se paga.

    Os progressistas e liberais mantêm fixa a mudança. Por isso, têm vida curta. Os liberais sempre tem menos anos de vida que os conservadores, mas eles mudam e se divertem mais com coisas diferentes e não somente com as mesmas coisas.

    Death Magnetic = AndJusticeforAll ...2.0

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  9. Bom texto, mas discordo de muitos pontos.

    Primeiro: O Thrash ficou mesmo sem caminho nos anos 90? Você se contradiz (ou não fez a ligação) com o fato de que as duas maiores bandas de Thrash Metal nos anos 90 eram Sepultura e Metallica que abriram muitas possibilidades para o gênero e para o Metal em geral.

    Segundo: O Metallica a frente do revival dos anos 2000? Como assim, Ricardo? O Artillery soltou um álbum soberbo em 99 (B.A.C.K.), nesse mesmo ano o Testament lançou a obra prima chamada The Gathering em que tingiu seu Thrash com fortes pitadas de Death. Em 2001, Kreator e Destruction lançaram dois álbuns excelentes, The Antichrist e Violent Revolution, respectivamente. O Tankard lança ótimos álbuns desde do B-Day (2002). O Christ Illusion do Slayer é de 2006.
    O Metallica só lançou um álbum com características de Thrash em 2008 (Death Magnetic). Aliás, o Slayer foi lançou o DVD "Still Reigning" em 2004, em que o Reign in Blood é apresentado na íntegra. Então, não acho que dê para dizer que o Metallica foi pioneiro ao perceber essa tendência.

    Terceiro: como alguns comentaram, "evolução" é uma palavra muito perigosa, pois ela denota que o "evoluído" é melhor do que aquele que "não evolue". Além disso, dá a idéia de que o que está a frente (evolução) é melhor do que está atrás (atraso, estagnação). Nenhuma das duas idéias é necessariamente verdadeira.

    Quarto: como você deixa subentendido no texto, a espaço para todos no Thrash Metal. Para aqueles que querem misturar o estilo com outros (Soulfly, Nevermore), para os que reciclam as velhas formas com competência e algo a mais (Violator, Angelus Apatrida) e para os que procuram caminhos alternativos (Vektor e Red Lamb).

    Quinto: o Thrash nasceu no underground, teve sucesso nos anos 80 e 90 por causa das gravadoras e não tem problema nenhum se voltar para o underground. Metal mais pesado (Thrash, Death e Black) é essencialmente underground e continuará a existir se permanecer aí. O sucesso comercial ao nível mainstream ou próximo dele não é condição obrigatória para a sobrevivência do estilo.

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  10. Seguindo o gancho do assunto, a Cogumelo Records está lançando um catálogo comemorativo de 30 anos. Papel de alta qualidade, um arquivo de todos os lançamentos do selo, com capas e informações técnicas, cartazes de época, etc. Foi feito com apoio da Lei de Incentivo à Cultura de BH. O meu chegou ontem e fiquei de cara com o material. Indispensável que quem viveu e curte esta página importante da história do metal brasileiro. Seelig, fica como sugestão de post. Abraço.

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  11. O thrash imita a dinâmica das religiões.
    O que vemos aqui é xiitas sempre falando que a palavra "evolução" é perigosa. E os sunitas sempre falando que os conservadores são uns chatos.
    Também se confunde com a política.
    Enfim, há um conflito de interesse no thrash entre conservadores e progressistas.
    As palavras "evolução" (crescimento) e "retrógado" (saudosista)são espadas que todos nós usamos por aqui.
    Cada um se posicione.

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  12. Mais um bom texto (apesar de alguns pontos em que eu não concordo e que já foram citados).

    A "culpa" é um pouco de todo mundo nessa história. Os fãs cresceram ouvindo as bandas clássicas do estilo, e não querem se adaptar às novas sonoridades das bandas mais modernas.

    E isso acaba valendo para a crítica (des)especializada, pelo menos a brasileira, já que a grande maioria acaba agindo e pensando simplesmente como fãs, e não de uma maneira realmente crítica, além de se apegarem muito ao que o Diogo citou lá em cima, que é o fator do saudosismo (algo que na minha visão é totalmente nefasto para o estilo como um todo).

    Já por parte das bandas, as mais antigas preferem continuar numa zona de conforto e agradar os mesmos fãs de sempre (algo que essa altura do campeonato eu nem condeno tanto), mas mesmo assim algumas delas, ainda que não tenham a mesma inspiração dos tempos áureos, conseguem soar atuais, como é o caso do Testament. O que prejudica são grupelhos que fazem aquele tipo de som datadíssimo, que você escuta e pensa "porra, isso foi feito em 1986/87?" (o que pra mim é uma grande merda).

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  13. Parabéns pelo texto! Mas o mundo dá voltas... quanta ironia! Quantas vezes não fui criticado aqui sendo que defendia a mesmíssima ideia, com as mesmas palavras até:

    "E, antes que você diga que tem que ser assim mesmo. “quem gosta de thrash curte até morrer”, lembre-se de uma coisa: pensar assim não é ser true, mas sim decretar o fim do estilo."

    Dois pesos, duas medidas...

    Mas, enfim, bom texto! Para quem eventualmente se sente ofendido, ou acha termos como "retrógrado" muito pejorativos, é bom ressaltar justamente isso: o receio é com a renovação do estilo, enquanto ARTE, e não como mero "enche-barriga". Na arte, estagnação é, sim, igual a "morte" - e acho que isso ninguém quer.

    E aí volta aquele velho papo: "melhor" é OUTRA coisa, é outra discussão, muito mais subjetiva, envolve gosto pessoal, o que faz cada um se sentir bem. Não acho que é o ponto aqui.

    O ponto aqui é o estilo como ARTE e, por isso, a discussão não deveria ser tão agressiva ou política como a Ju aí em cima citou - muito embora o paralelo dela seja plenamente cabível, eu mesmo já enxerguei algo parecido muitas vezes!

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  14. Scobar,
    desculpe pela minha agressividade. Errei a mão porque esta demanda estava reprimida. Já fui muito ridicularizada em foruns e blogs de metal por defender o clássico, mas também por apostar no novo. E muitos acham que vc só pode estar em uma das pontas da corda. Eu sempre fui tida como a fakezona por muito truzões forumeiros. Vendo esse texto falar algo no qual eu acredito, acho que me expressei em poucas linhas com a carga de meses e anos de hostilidade headbanger em cima de mim. Pessoalmente, me desculpe. E achei o máximo o que vc disse.

    Só queria dizer que, também na arte, existe ideologia. A própria premissa e pressuposto que ser artístico é "romper" e "avançar" não deixa de ser um dogma artístico, como dogmas religiosos e de outras naturezas.

    Mas também acho que os metaleiros, até pela lírica anti-religião, se sentem muito ofendidos quando colocamos a discussão da pretensa "arte" em enquadramentos de religião e política. Ainda mais se o cara for meio metido a ateu e tudo mais. Usei este argumento mesmo pra mexer com alguns humores, pois tem muita gente que se diz erudita no metal, ateísta e num sei mais o quê e mistura tudo isso pra falar coisas pros outros na net (tipo o Dave Mustaine e o pessoal do Megadeth com as coisas deles de evangélico agora ... que viram sempre umas discussões pra lá da música ... entrando em religião, moral, pensamento latino, pensamento anglosaxão e tudo mais).

    A arte só não tem ideologia quando ela se resume à estética. Do contrário, todos fazem arte pra falar ou dizer algo. E o discurso do metal, em vários gêneros, é esse aí que já falaram acima de ser contra o sistema, anti-religião e coisas tais. Como o metal é permeado por essa valoração lírica e ideológica, acho IMPOSSÍVEL tomar a discussão da arte em metal aqui como somente estética, pois não é. Fatalmente, ela também é ideológica. Por isso, eu disse: não é questão só de som (estética), mas de mentalidade (ideologia).

    Não é só os barulhos e ruídos que estão em questão (som, estética), mas o que se diz e se fala pra o público metal, sociedade e bandas utilizando esses barulhinhos como discurso (ideologia).

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  15. nossa... essa discussão dá pra levar pra um monte de coisas... um exemplo é a atual gigantesca onda de bandas Stoner... mesmo ótimas publicações como a Uncut e a Classic Rock tem boa parte de suas páginas voltadas ao passado .... Isso é bom ? Bom ... eu acho sim... desde que se revisione com os pés no futuro também... oras bolas...pq não dá pra gostar do Graveyard e do Periphery ao mesmo tempo ???
    Existe uma grande onda revisionista hj em dia...e isso só aumenta..ainda mais com o advento da internet...pelo menos é o que eu percebo .... mas não vejo problema nisso...acho que até ajuda a fazer justiça com alguns artistas....
    Pra mim...o grande problema é as pessoas perderem o "pé atras" com o que é feito no momento e o que soa diferente do que seus ouvidos estão acostumados...é até engraçado ler ou ouvir que Slipnotk tem um som moderno...a banda já tem mais de 16 anos... então creio eu que o X da questão está nas pessoas se acostumarem a estruturas sonoras diferentes das quais cresceram ouvindo...
    Abraços

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  16. JU,

    sim, mas por favor, não quis chamá-la de agressiva (vc colocou seu ponto de vista com muita serenidade)... eu quis dizer que a "discussão", entre opostos, é que é (ou se torna) desnecessariamente agressiva, quando acho que não deveria ser, pois o assunto é arte e o debate é (deveria ser) saudável.

    Entendo e concordo com muito do que você expoôs. Entretanto, ao aproximarmos o Heavy Metal de outros temas e áreas, eu vejo que o estilo reproduz as mesmas "mentes fechadas" e o "conservadorismo" que vemos na sociedade - e que, não raro, representam sua decadência.

    Posso estar redondamente errado (até pq não é ciência exata), mas uma pessoa que 'acha porque acha' que o Heavy Metal deve soar de um determinado jeito 'tradicional', cheio de regras conservadoras, louva apenas o passado, é averso a tudo que é novo, defende demais que Heavy Metal é "paixão" e por isso dispensa inovação ou qualquer argumentação ou análise mais crítica em qq sentido... não sei, mas alguém assim, radical, extremo, ATÉ MESMO numa área artística, produtiva, criativa por natureza, exala também outros "sintomas" graves de nossa sociedade: intolerâncias diversas, xenofobia, fundamentalismos, racismo, machismo, homofobia... e não deve estar muito distante de serem violentos até (vide quem prega a morte a EMOS, pagodeiros, etc).

    abço!

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  17. Uma banda antiga que gravou um álbum soberbo foi o Heathen. The Evolution of Chaos - o melhor de 2010.
    Mescla bem o moderno com o clássico.
    Agora, o problema citado aqui aflige o metal como um todo. Iron Maiden e Metallica não vão estar aqui para sempre. Precisamos de gente com ambição para tomar o trono, e não apenas seguir os reis.

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  18. Primeiramente, parabéns pelo belo texto. Como a maioria das pessoas que postaram comentários, concordo com alguns pontos e discordo de outros. Acho que o "X" da questão reside na diferença entre fazer um som sem fronteiras (música) e fazer um som seguindo limites pré-estabelecidos (tendência musical).

    Ressalto que sou um grande apreciador do thrash metal, mas o estilo por si só é algo limitado. Existem bandas que fazem música sem fronteiras. São aquelas que você escuta um disco e percebe que o cara se sentiu livre para gravar o que tivesse vontade. Creio que um bom exemplo, já que estamos falando de metal, seja o Black Sabbath dos anos 70. Pegando como exemplo o próprio Sabbath Bloody Sabbath: tem metal, tem hard, tem progressivo, tem rock 'n roll, tem flautas, tem sintetizador, tem de tudo lá.

    Agora, há um disco de thrash metal que tenha tanta variação? Não existe. Quando existe, são discos que são tão dinâmicos que apenas o simples termo thrash metal é impreciso para classificá-los. O disco do Vektor citado no texto, assim como o debut Black Future (2009), são exemplos. Tem gente que chama de Technical Thrash Metal, Progressive Thrash Metal, já vi até chamarem de Sci Fi Thrash Metal, hehe.

    Citando outro exemplo mais recente, o também supracitado Machine Head, desde o The Blackening, tem apostado num som com muita qualidade e originalidade, utilizando-se de elementos do thrash, porém sem se limitar aos mesmos. Lembro-me de uma edição da extinta revista Valhalla, a qual tinha uma entrevista com Rob Flynn na época do lançamento do The Blackening, e o próprio disse na entrevista que não considerava o som da banda thrash metal, e que esta definição é mais apropriada para discos como Bonded By Blood, do Exodus.

    Se uma banda se propõe a fazer thrash metal, ela está se dispondo a executar uma proposta musical limitada e pré-estabelecida: tocar constantemente riffs pesados com muita palhetada abafada e, preferencialmente, com levadas "paco-paco" na bateria. Todas as bandas citadas no texto como "retrô", possuem esta característica.

    Já as que foram citadas como inovadoras, possuem alguns destes elementos, porém possuem também outros que não estavam presentes no thrash metal "original", tais como levadas mais "grooveadas" (Lamb Of God, Machine Head), um senso melódico mais moderno (Trivium, Machine Head), afinações baixas (a maioria das que foram citadas), etc.

    Isso é legal, pois mostra que há bandas buscando novos caminhos. Porém, creio que isso seja o suficiente justamente para desqualificá-las como bandas de thrash metal. O que não significa que não tenham qualidade (gosto muito dos últimos lançamentos do Soulfly e do Machine Head, e considero o The Blackening um dos melhores discos que já ouvi na vida).

    Apenas acho que não faz sentido esperar que uma banda siga uma linha de composição limitada e inove ao mesmo tempo. Não faz sentido buscar por inovação em bandas cuja proposta visivelmente não é inovar, e sim seguir uma tendência musical pré-estabelecida há, aproximadamente, 30 anos: o thrash metal.

    Obs: ressalto que apenas relatei minha opinião, não sou de maneira alguma dono da verdade (hehe), e respeito opiniões contrárias.

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  19. Primeiramente, parabéns pelo belo texto. Como a maioria das pessoas que postaram comentários, concordo com alguns pontos e discordo de outros. Acho que o "X" da questão reside na diferença entre fazer um som sem fronteiras (música) e fazer um som seguindo limites pré-estabelecidos (tendência musical).

    Ressalto que sou um grande apreciador do thrash metal, mas o estilo por si só é algo limitado. Existem bandas que fazem música sem fronteiras. São aquelas que você escuta um disco e percebe que o cara se sentiu livre para gravar o que tivesse vontade. Creio que um bom exemplo, já que estamos falando de metal, seja o Black Sabbath dos anos 70. Pegando como exemplo o próprio Sabbath Bloody Sabbath: tem metal, tem hard, tem progressivo, tem rock 'n roll, tem flautas, tem sintetizador, tem de tudo lá.

    Agora, há um disco de thrash metal que tenha tanta variação? Não existe. Quando existe, são discos que são tão dinâmicos que apenas o simples termo thrash metal é impreciso para classificá-los. O disco do Vektor citado no texto, assim como o debut Black Future (2009), são exemplos. Tem gente que chama de Technical Thrash Metal, Progressive Thrash Metal, já vi até chamarem de Sci Fi Thrash Metal, hehe.

    Citando outro exemplo mais recente, o também supracitado Machine Head, desde o The Blackening, tem apostado num som com muita qualidade e originalidade, utilizando-se de elementos do thrash, porém sem se limitar aos mesmos. Lembro-me de uma edição da extinta revista Valhalla, a qual tinha uma entrevista com Rob Flynn na época do lançamento do The Blackening, e o próprio disse na entrevista que não considerava o som da banda thrash metal, e que esta definição é mais apropriada para discos como Bonded By Blood, do Exodus.

    Se uma banda se propõe a fazer thrash metal, ela está se dispondo a executar uma proposta musical limitada e pré-estabelecida: tocar constantemente riffs pesados com muita palhetada abafada e, preferencialmente, com levadas "paco-paco" na bateria. Todas as bandas citadas no texto como "retrô", possuem esta característica.

    Já as que foram citadas como inovadoras, possuem alguns destes elementos, porém possuem também outros que não estavam presentes no thrash metal "original", tais como levadas mais "grooveadas" (Lamb Of God, Machine Head), um senso melódico mais moderno (Trivium, Machine Head), afinações baixas (a maioria das que foram citadas), etc.

    Isso é legal, pois mostra que há bandas buscando novos caminhos. Porém, creio que isso seja o suficiente justamente para desqualificá-las como bandas de thrash metal. O que não significa que não tenham qualidade (gosto muito dos últimos lançamentos do Soulfly e do Machine Head, e considero o The Blackening um dos melhores discos que já ouvi na vida).

    Apenas acho que não faz sentido esperar que uma banda siga uma linha de composição limitada e inove ao mesmo tempo. Não faz sentido buscar por inovação em bandas cuja proposta visivelmente não é inovar, e sim seguir uma tendência musical pré-estabelecida há, aproximadamente, 30 anos: o thrash metal.

    Obs: ressalto que apenas relatei minha opinião, não sou de maneira alguma dono da verdade (hehe), e respeito opiniões contrárias.

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  20. Esse lance de ser true é igual quando a pessoa é criança e diz assim: "eu quero ser criança para sempre", e faz de tudo para continuar na infância.

    Esse lance de ficar bitolado nessas paradas de só ouvir banda tal porque os caras são "reais" é muito chato isso mostra estagnação intelectual do fulano que fica repetindo essas idéias furadas por isso o metal não anda para frente.

    Esse negocinho de se declarar ateu, nacionalista é muito infantil geralmente o cara que fala sobre isso nem sabe o que está falando, parte de uma interpretação débil de alguma leitura ou na maioria das vezes ouviu isso de alguém achou bonito e simplesmente reproduziu.

    Eu eu vejo o metal cair nas contradições do seu discurso e se tornar um refém de si próprio impondo regrinhas comportamentais, estéticas musicais e quem não aceira esses padrões é falso tem que morrer.

    Gente assim eu nem respeito, eu simplesmente ignoro quero longe de mim, mas bem longe mesmo.

    O lance é olhar para o presente e saborear as possibilidades que ele oferece, mas para isso é necessário pensar com a própria cabecinha o que parece ser difícil para uma larga parcela de fãs de heavy metal.

    Engraçado quando eu vejo o Detonator da MTV eu lembro desses parcela de fãs fundamentalistas.

    Já passou da hora das pessoas de uma certa gama de pessoas fazer upgrade intelectual, ou seja, modernizar o pensamento, pois até onde eu me lembre ser moderno é muito mais do que consumir essas bugigangas eletrônicas MADE IN CHINA.

    A minha praia é o som feito na década de 1960/70 e 80, mas nunca deixei de conferir e colecionar bandas das demais décadas e continuar apoiando aquelas que sobreviveram e continuam na ativa lançando discos e fazendo shows.

    Esse lance de revistinhas "especilizadas" e seu fanatismo exacerbado pelo passado é caso de divã, os caras tem que fazer analise mesmo.

    Sinceramente eu não me importo por não ter visto banda de fulano ou ciclano na década de 1980 a maioria delas nos últimos anos, e nem importo por não ter sofrido para arranjar discos, pois hoje eu tenho tudo das minhas favoritas nos dois formatos.

    O que me interessa é o agora, o presente e as suas possibilidades o passado está lá estampado na capa dos cd's e dvd's eu posso ir lá na hora que eu quiser.

    Eu não vejo graça nenhuma em reviver esse passado dessa maneira fútil, infantilizada e romantizada

    Daria para fazer uma caricatura da cena atual e quem sabe os "verdadeiros" (asnos radicais), não endureçam mais o regime e adotem a BURKA.

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