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The Wörld Is Yours (2010): o Motörhead no domínio absoluto do próprio território

Ao chegar ao 20º álbum de estúdio o Motörhead já não tinha nada a provar, e The Wörld Is Yours (2010) soa exatamente como a afirmação tranquila de quem conhece profundamente o próprio território. O disco dá sequência à fase mais estável da banda nos anos 2000, com produção de Cameron Webb e um som direto, seco e sem ornamentos desnecessários. Não há aqui qualquer tentativa de reinvenção. Lemmy Kilmister, Phil Campbell e Mickey Dee apostam no rock and roll pesado que sempre foi sua assinatura, equilibrando peso, velocidade e groove com uma naturalidade que poucas bandas longevas conseguem sustentar. O álbum funciona quase como um manifesto: o Motörhead não precisa surpreender, basta entregar exatamente o que promete. A abertura com “Born to Lose” estabelece o clima, enquanto “I Know How to Die” surge como um dos grandes momentos do disco, resumindo em poucos minutos a filosofia de vida que sempre atravessou a obra de Lemmy. “Get Back in Line” e “Outlaw” mantêm o disco em alta rotaç...
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Por que o Led Zeppelin nunca voltou em uma turnê de reunião?

Desde o fim oficial do Led Zeppelin, em 1980, a pergunta nunca deixou de ecoar: por que a maior banda de rock da história jamais voltou para uma turnê de reunião? Ao longo das décadas, surgiram rumores, negociações, declarações contraditórias e algumas apresentações isoladas, mas nunca um retorno consistente à estrada. As razões são mais complexas do que parecem. O ponto central é, inevitavelmente, a morte de John Bonham. O baterista não era apenas um integrante: ele era o motor do Led Zeppelin. A própria banda deixou isso claro ao encerrar suas atividades logo após sua morte, afirmando que não conseguiria continuar “como era”. Qualquer reunião posterior sempre carregou esse peso simbólico. Tocar sem Bonham nunca foi algo tratado como natural. As experiências frustrantes das reuniões dos anos 1980 também deixaram marcas profundas. Apresentações como o Live Aid (1985) e o evento dos 40 anos da Atlantic Records (1988) foram amplamente criticadas, inclusive pelos próprios músicos. Pro...

Hot Rocks 1964–1971 (1971): um monumento à fase mais revolucionária dos Rolling Stones

Hot Rocks 1964–1971 é o tipo de compilação que muitas bandas sonhariam em assinar, e que poucas teriam repertório para sustentar. Lançado no final de 1971 pela ABKCO, o álbum duplo surgiu de uma relação conturbada entre os Rolling Stones e o empresário Allen Klein, mas acabou se tornando muito mais do que um produto de catálogo: tornou-se uma síntese poderosa da metamorfose do grupo durante seu período mais criativo. A força de Hot Rocks está em como ele acompanha e documenta faixa a faixa a transformação dos Stones entre 1964 e 1971. No início, vemos a banda ainda profundamente ligada ao R&B e ao blues americano, traduzindo aquela energia crua em versões afiadas e carregadas de atitude. É o nascimento dos “bad boys” britânicos: jovens, barulhentos e já perigosamente carismáticos. A coletânea então avança para a fase psicodélica e experimental de 1966 e 1967. Músicas como “Ruby Tuesday” e “Let’s Spend the Night Together” revelam um grupo absorvendo o clima da época e expandind...

Stranger Things: programação da rádio da quinta temporada ganha lançamento em LP e reafirma a relação da série com a música

Stranger Things: The WSQK Collection (Compiled by Rockin’ Robin)  funciona como uma verdadeira cápsula do tempo. Lançado em 24 de outubro de 2025, o álbum chega em um vinil vermelho exclusivo, reunindo dez faixas que recriam a programação da rádio fictícia WSQK, presente na trama da série. É um lançamento construído para dialogar com fãs e colecionadores, mas também para reforçar a relação profunda entre Stranger Things e sua curadoria musical. O crédito “Compiled by Rockin’ Robin” é um aceno direto à personagem Robin Buckley, interpretada pela atriz Maya Hawke, filha dos também atores Uma Thurman e Ethan Hawke. Na quinta e última temporada da série, Robin é apresentada como apresentadora da rádio WSQK, uma estação fictícia da cidade de Hawkins que funciona como espaço narrativo e elemento dramático dentro do seriado. A rádio é usada para enviar mensagens, criar atmosferas, reforçar tensões e contextualizar os acontecimentos ao redor do grupo de protagonistas. A coletânea simula...

Sandinista! (1980): a gigantesca utopia musical do The Clash

Há discos que parecem não caber dentro do seu próprio formato. Sandinista! (1980) é um desses casos: um álbum tão grande em intenção, em alcance e em espírito que mesmo um triplo LP parece pequeno diante do que Joe Strummer, Mick Jones, Paul Simonon e Topper Headon tentaram registrar. Se London Calling (1979) apontou caminhos, Sandinista! abriu portais. Em 1980, o Clash era uma banda que incendiava a política, transitava entre culturas e observava o mundo com uma curiosidade quase antropológica. Sandinista! nasce dessa inquietação. O título, referência direta ao movimento sandinista da Nicarágua, já anuncia o clima: trata-se de um disco nascido no caldeirão geopolítico da época, mas filtrado pela lente artística de uma banda que enxergava música e militância como territórios complementares. Logo na abertura, “ The Magnificent Seven ” estabelece o tom: um funk urbano que antecipa o hip-hop e mostra a banda mergulhando sem medo em novas linguagens. A partir daí, o álbum se desdo...

Os melhores álbuns de 2025 na opinião da Metal Hammer

A Metal Hammer é uma das publicações mais influentes e respeitadas da história do jornalismo musical dedicado ao heavy metal. Fundada na Inglaterra em 1986, a revista ajudou a moldar a forma como o gênero é percebido, documentado e celebrado, acompanhando desde o surgimento de novas cenas até a consolidação de bandas que se tornariam pilares do metal mundial. Ao longo das décadas, a Metal Hammer manteve uma postura editorial que combina profundidade, irreverência e paixão genuína pela música pesada — características que a transformaram em referência obrigatória para fãs, artistas e profissionais da indústria. Sua relevância vai além das páginas impressas. A revista construiu um espaço onde o metal é tratado com seriedade jornalística, mas também com o entusiasmo e o espírito comunitário que sempre definiram o gênero. Reportagens investigativas, entrevistas históricas, cobertura de turnês, descobertas de novos talentos e análises críticas ajudam a manter vivo um panorama abrangente d...

Alice in Chains em Live (2000): o retrato cru de uma banda impossível de domar

Lançado em dezembro de 2000, Live é um registro que captura o Alice in Chains em seu estado natural: intenso, sombrio, irregular e profundamente humano. Não se trata de um show completo, mas de uma compilação de performances gravadas entre 1990 e 1996 em um recorte de palcos diferentes, formações de momento e atmosferas que oscilam entre o explosivo e o instável. Justamente por isso, o álbum funciona como uma espécie de diário aberto da banda em sua fase clássica. As primeiras faixas mostram o grupo ainda faminto, com “Bleed the Freak” e “Man in the Box” reafirmando a força dos riffs de Jerry Cantrell e o impacto imediato da voz de Layne Staley. Já nos momentos mais densos, como “Love, Hate, Love” e “Angry Chair”, as performances mergulham no território emocional característico do AIC, oscilando entre a catarse e a vulnerabilidade, duas palavras que definem bem o legado da banda. A recepção ao álbum sempre foi dividida entre a crítica e os fãs. Enquanto alguns elogiam o clima hipn...

Renegades (2000): quando o Rage Against the Machine transformou influência em identidade

Lançado no apagar das luzes de 2000, Renegades costuma ser lembrado como “o álbum de covers do Rage Against the Machine”. E embora essa definição seja tecnicamente correta, ela está longe de dar conta do que o disco realmente entrega. Em vez de prestar homenagens obedientes a seus ídolos, o quarteto usa cada faixa como veículo para reafirmar sua própria identidade pesada, politizada e impossível de confundir com outra banda. O repertório é uma viagem guiada pelas raízes do Rage, atravessando hip-hop, punk, rock clássico e proto-punk. Mas o que impressiona é como tudo soa coeso. Em “Microphone Fiend”, do Eric B. & Rakim, Tom Morello transforma o riff original em um muro de guitarras vibrante, enquanto a cozinha de Tim Commerford e Brad Wilk entrega um groove que parece saído de um porão abafado em Los Angeles. Já em “Renegades of Funk”, clássico de Afrika Bambaataa, o grupo simplesmente domina a música: é RATM até o último segundo, urgente e incendiário. As escolhas inesperadas...

Nem cópia, nem continuação: como A Day at the Races (1976) consolidou o Queen após “Bohemian Rhapsody”

Lançado em 10 de dezembro de 1976, A Day at the Races marcou o momento em que o Queen deixou de ser uma banda em ascensão e passou a operar com a confiança de quem acabara de lançar um dos álbuns mais importantes da década, o monumental A Night at the Opera (1975) . A pressão era inevitável: todo mundo queria saber qual seria o próximo passo depois de “Bohemian Rhapsody”. A resposta veio com um disco que não tenta reinventar a roda, mas a faz girar com classe, precisão e ambição. Gravado entre julho e novembro de 1976, o álbum mantém a estética grandiosa que já era característica do Queen na época. Camadas de vozes, arranjos expansivos, guitarras com a assinatura inconfundível de Brian May e uma produção pensada para soar enorme em qualquer sistema de som. Se por um lado isso levou parte da crítica da época a acusar o quarteto de repetir a fórmula de seu trabalho anterior, o tempo tratou de reposicionar A Day at the Races como um dos discos mais consistentes do catálogo da banda. ...

Draw the Line (1977), o álbum que quase derrubou o Aerosmith

Em sua melhor fase, o Aerosmith parecia imparável. Entre Get Your Wings (1974), Toys in the Attic (1975) e Rocks (1976), a banda construiu uma sequência tão sólida que ajudou a definir o hard rock norte-americano dos anos 1970. Draw the Line , lançado em dezembro de 1977, chegou logo após esse auge, e justamente por isso costuma ser lembrado como o álbum em que a engrenagem começou a falhar. Mas, como quase sempre acontece com discos cercados por lendas, a história é um pouco mais complexa. Gravado em meio a excessos, agendas caóticas e um clima interno cada vez mais instável, Draw the Line captura o Aerosmith em modo de sobrevivência. A produção de Jack Douglas, tradicional parceiro da banda, é mais densa e confusa do que nos trabalhos anteriores, e isso gerou críticas pesadas na época. A Rolling Stone, por exemplo, chegou a classificar o disco como horrendo, enquanto outros veículos apontavam que o grupo parecia sem combustível. Ainda assim, o disco alcançou destaque nas parada...