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Helloween reafirma seu legado e surpreende com um álbum sólido e inspirado em Giants & Monsters (2025)

Vamos ser sinceros: a reunião do Helloween, anunciada em 2016, tem muito mais impacto e importância enquanto show ao vivo e celebração do legado de uma das maiores bandas de metal da história do que propriamente relevância artística. Isso ficou claro no álbum autointitulado de 2021. Embora não tenha decepcionado, também não foi a oitava maravilha do mundo. E, convenhamos, ninguém espera que o Helloween, em pleno 2025, revolucione o gênero como quando inventou o power metal com Kai Hansen e Michael Kiske, se reinvente como fez com Andi Deris nos anos 1990, ou experimente como em Better Than Raw (1998) e The Dark Ride (2000). Esse tempo já passou, e os próprios fãs não querem novidades – ninguém vai a um show do septeto esperando músicas inéditas, sejamos francos. Mas aí veio Giants & Monsters , lançado no final de agosto, e a sensação é de surpresa. Talvez o impacto venha justamente da expectativa baixa em torno do segundo álbum de inéditas após a reunião, mas o fato é que o dis...
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Perfect Strangers (1984): o retorno triunfante do Deep Purple

Depois de mais de dez anos separados, os membros da formação clássica do Deep Purple – Ian Gillan, Ritchie Blackmore, Roger Glover, Jon Lord e Ian Paice – se reuniram em 1984 para lançar Perfect Strangers , um álbum que marcaria não apenas o retorno triunfante da banda, mas também um momento de reconciliação criativa com suas raízes no hard rock. No início dos anos 1980, o rock britânico passava por transformações, com o surgimento do NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) e bandas como Iron Maiden e Judas Priest conquistando novas gerações. O Deep Purple, embora veterano, não apenas se readaptou a esse cenário, mas também reafirmou sua identidade sonora única: riffs memoráveis, linhas de baixo precisas, teclados exuberantes e vocais poderosos. Musicalmente, Perfect Strangers combina a energia crua do hard rock com a sofisticação progressiva que sempre caracterizou a banda. Faixas como a própria “Perfect Strangers” destacam a capacidade de criar atmosferas misteriosas e densas, ...

Shigurui – Frenesi da Morte Vol.1: honra, obsessão e carnificina em um dos mangás mais brutais já publicados (Takayuki Yamaguchi, Norio Nanjo, 2025, Pipoca & Nanquim)

Entre os mangás mais brutais e, ao mesmo tempo, sofisticados já publicados, Shigurui : Frenesi da Morte ocupa um lugar especial. Adaptado por Takayuki Yamaguchi a partir do clássico livro Duelos no Castelo de Suruga , de Norio Nanjo, o mangá foi publicado entre 2003 e 2010. A trama parte do primeiro capítulo do livro e de seus protagonistas, mas Yamaguchi expande a mitologia ao imaginar como os dois espadachins se conheceram e o que os levou ao duelo narrado na obra original. Ambientada no Japão feudal do século XVII, a história mergulha no cruel governo de Tokugawa Tadanaga, um período em que a rígida disciplina da espada se misturava à brutalidade de uma sociedade obcecada por honra, poder e espetáculos sangrentos. O primeiro volume já deixa claro que não há concessões: este não é um mangá de samurai idealizados, mas sim de corpos dilacerados, violência gráfica e uma abordagem quase clínica do impacto da lâmina sobre carne e ossos. Logo de início somos lançados em um torneio pro...

Bruce Dickinson e a alquimia sombria de The Chemical Wedding (1998)

Nos anos 1990, Bruce Dickinson estava em um momento de reinvenção. Após deixar o Iron Maiden em 1993, o vocalista lançou discos que testaram diferentes caminhos – do hard rock mais direto de Tattooed Millionaire (1990) ao experimentalismo de Skunkworks (1996), que quase soava como uma banda alternativa da época. Mas foi em Accident of Birth (1997), já ao lado do guitarrista Adrian Smith, que Bruce reencontrou sua essência: o heavy metal grandioso, sombrio e épico que sempre foi sua marca registrada. Um ano depois, ele levou essa proposta ainda mais longe com The Chemical Wedding , seu álbum mais pesado, inspirado e coeso. O disco mergulha no universo místico e sombrio do poeta e pintor William Blake, cuja obra influencia tanto as letras quanto a atmosfera quase ritualística da música. A produção do guitarrista Roy Z, figura central no renascimento criativo de Dickinson, dá ao álbum uma sonoridade densa e moderna para a época, com guitarras carregadas de graves e uma parede sonora ...

Bife de Unicórnio – Só o Filé: Gabriel Dantas reúne o melhor de suas tiras em edição caprichada da Comix Zone (2025)

Aclamado na internet com quase 180 mil seguidores no Instagram, Gabriel Dantas amplia o seu público com o lançamento de Bife de Unicórnio – Só o Filé . Publicada pela Comix Zone, a HQ traz dezenas de histórias produzidas entre 2019 e 2024, selecionadas por Érico Assis, uma das maiores referências em quadrinhos no Brasil e tradutor celebrado. O trabalho de Gabriel Dantas é estruturado no formato de web tiras que tratam de assuntos do cotidiano, principalmente questões relacionadas a relacionamentos, tudo feito com muita ironia, sarcasmo e inteligência. Dantas faz uso frequente de animais ou criaturas antropomórficas, além de referências à fantasia, o que dá uma característica única ao seu trabalho. O principal destaque, além da inteligência já mencionada das histórias, é a colorização. Dono de um traço cheio de personalidade, Gabriel trabalha com tons fortes e marcantes, explorando uma paleta de tons que conversa com a linguagem digital e que, impressas nesta livro, ganham ainda mai...

Wish You Were Here (1975): os 50 anos da brilhante e imortal elegia do Pink Floyd para Syd Barrett

Depois do monumental The Dark Side of the Moon (1973), o Pink Floyd se viu diante de um dilema que costuma acompanhar os grandes marcos da música: como dar sequência a um álbum que redefiniu a própria ideia do rock progressivo e elevou a banda a um novo patamar de popularidade? A resposta veio em 12 de setembro de 1975 com Wish You Were Here , disco que transformou fragilidade, ausência e memória em arte imortal. O álbum nasceu de um contexto peculiar. O grupo, então no auge do sucesso, sentia-se desconectado do estrelato e do funcionamento frio da indústria musical. Essa sensação de alienação se somava a uma ferida ainda aberta: a saída precoce de Syd Barrett, fundador e primeiro líder criativo da banda, cujo declínio mental em razão do abuso de drogas marcou profundamente todos os integrantes. Essas tensões deram origem a um trabalho denso e emocional, construído em torno do tema da ausência. O ponto de partida foi “Shine On You Crazy Diamond”, suíte épica dividida em duas partes...

Entre riffs e baladas: como Pump (1989) consolidou o renascimento do Aerosmith

Nos anos 1980, poucas bandas viveram uma volta por cima tão impressionante quanto o Aerosmith. Após quase implodir no fim da década de 1970, com Steven Tyler e Joe Perry mergulhados em vícios e brigas internas, o grupo encontrou um segundo fôlego ao assinar com a Geffen Records e Done With the Mirrors (1985) e Permanent Vacation (1987). Este último recolocou os “Toxic Twins” no mapa, graças a sucessos radiofônicos como “Dude (Looks Like a Lady)” e “Angel”. Mas foi apenas dois anos depois, em setembro de 1989, com Pump , que o Aerosmith provou que não estava apenas de volta — estava no auge. Produzido por Bruce Fairbairn, com arranjos polidos mas ainda carregando uma certa sujeira de garagem, Pump trouxe um Aerosmith mais maduro, consciente do próprio legado e adaptado à estética da MTV. O disco equilibra riffs pesados, grooves de hard rock clássico e baladas que dominariam o rádio. É também o trabalho onde a parceria entre a banda e os compositores externos Desmond Child e Jim Val...

Repentless (2015): a brutal despedida do Slayer

O Slayer sempre foi uma daquelas bandas que não negociam sua identidade. Ao longo de mais de três décadas, a fórmula criada em álbuns como Reign in Blood (1986) e South of Heaven (1988) moldou o thrash metal e influenciou gerações inteiras. Quando Repentless saiu em setembro de 2015, o contexto era pesado: Jeff Hanneman havia falecido dois anos antes, Dave Lombardo estava fora novamente, e muitos viam no disco a prova final de que o Slayer ainda tinha algo a dizer. Produzido por Terry Date (conhecido por trabalhos com Pantera e Soundgarden), Repentless é o único álbum da banda sem Hanneman e o primeiro com Gary Holt (Exodus) gravando as guitarras. Também marca o retorno do baterista Paul Bostaph em estúdio desde God Hates Us All (2001). O título já entrega a postura: sem arrependimentos, sem concessões, fiel ao espírito brutal que sempre definiu o grupo. Musicalmente, o Slayer olha para trás. Riffs diretos, agressividade crua, poucas experimentações. A faixa-título abre como um...

PTSD Radio: Frequência do Terror Vol. 3: a conclusão do mangá mais assustador do ano (Masaaki Nakayama, 2025, Pipoca & Nanquim)

As grandes histórias de terror são aquelas que focam no que é sugerido e não no que é mostrado. No que acontece, e não no que é explicado. No que apenas existe e nos atormenta, mas que não possui necessariamente uma explicação racional. Em PTSD Radio: Frequências do Terror , mangá em 3 volumes de Masaaki Nakayama publicado pela Pipoca & Nanquim, é isso que acontece: sucessivas situações assustadoras, um onipresente clima de terror, sustos nas viradas de página. A explicação? Ela não existe. Ou existe e foi omitida pelo autor, já que ele próprio foi vítima de situações misteriosas e assustadoras enquanto produzia a história. Nakayama foca a trama dos seis capítulos da obra, que foram reunidos nos três belos encadernados publicados pela PN, principalmente em uma entidade chamada Ogushi-sama. Trata-se de um deus milenar da cultura japonesa com especial apreciação pelo cabelo humano. E é isso que sabemos. Ainda que a trama varie entre passado, presente e mais passado ainda, não há um...

Alive! (1975): o disco que salvou o Kiss e reinventou o hard rock ao vivo

Quando o Kiss lançou Alive! em setembro de 1975, a banda ainda não era o gigante do rock que conhecemos hoje. Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss tinham três discos de estúdio no currículo ( Kiss, Hotter Than Hell e Dressed to Kill ), mas as vendas eram modestas e o futuro estava longe de ser garantido. O quarteto enfrentava dificuldades financeiras e até o contrato com a Casablanca Records estava por um fio. Foi nesse cenário de incerteza que surgiu a ideia de registrar em disco aquilo que realmente fazia a diferença para o Kiss: seus shows. Nos palcos, a banda transformava canções que soavam apenas corretas em estúdio em hinos explosivos. O público reagia à teatralidade, às maquiagens, às botas plataforma e à energia absurda que tomava conta de cada apresentação. Capturar essa intensidade seria a última cartada — e funcionou. Alive! não é apenas um disco ao vivo: é a obra que deu ao Kiss uma segunda vida e definiu como o hard rock soaria ao vivo dali em diante...