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Jugulator (1997): o início da era esquecida do Judas Priest

O Judas Priest conseguiria continuar sem Rob Halford? Essa é a pergunta que Jugulator (1997) responde de forma corajosa, brutal e injustamente subestimada. Lançado sete anos após o icônico Painkiller (1990), Jugulator marca a estreia de Tim "Ripper" Owens como vocalista do Judas Priest. A escolha de Ripper — um fã que cantava em uma banda cover da própria Priest chamada British Steel — parecia saída de um conto de fadas do heavy metal. De fã para frontman, ele assumiu a difícil missão de ocupar o lugar de um dos vocalistas mais emblemáticos da história do gênero: Rob Halford. Mas o cenário era ingrato. Nos anos 1990, o heavy metal tradicional enfrentava um período de baixa popularidade, encurralado pelo grunge, pelo alternativo e por novas formas de música pesada. E o Judas Priest não só precisava se reinventar após um hiato, como também provar que ainda era relevante sem sua voz original. Jugulator não tentou emular o passado. Em vez disso, a banda dobrou a aposta na ...
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Iroqueses: a beleza da aquarela a serviço da História (Patrick Prugne, 2025, Taverna do Rei)

Você sabe o que realmente desencadeou o confronto entre franceses e iroqueses no início do século XVII? A resposta está em um episódio decisivo e violento que marcou o início da presença europeia organizada na América do Norte, e que ganha vida nas páginas de Iroqueses , HQ do francês Patrick Prugne publicada no Brasil pela Editora Taverna do Rei. Ambientada em 1609, a obra recria com riqueza de detalhes a jornada do explorador Samuel de Champlain pelos territórios da Nova França, colônia francesa que ocupava uma vasta região da América do Norte, abrangendo boa parte do que hoje corresponde ao Canadá e ao nordeste dos Estados Unidos. É nessa paisagem selvagem e estratégica que se encontra o Lago Champlain (batizado em homenagem a Samuel, que também era cartógrafo e mapeou profundamente a região), uma faixa de água que atualmente separa os estados de Nova York e Vermont, nos EUA, e se estende até o sul da província de Quebec, no Canadá. Naquele período, o continente era palco de int...

Fireball (1971): o elo perdido da era de ouro do Deep Purple

Fireball é o disco esquecido da formação clássica do Deep Purple? Talvez, mas não deveria ser. Lançado em 1971, Fireball tem a ingrata posição de suceder o explosivo In Rock (1970) e anteceder o monumental Machine Head (1972). Entre dois gigantes, ele é frequentemente subestimado, o que é uma injustiça, pois este álbum representa a consolidação definitiva da MK II, a formação mais emblemática da história do Deep Purple: Ritchie Blackmore, Ian Gillan, Roger Glover, Jon Lord e Ian Paice. Após reinventar o hard rock com In Rock , a banda retornou ao estúdio com a missão de expandir sua sonoridade sem perder o peso e a energia que a consagraram. O resultado é um disco mais variado, com nuances que apontam para caminhos novos e arriscados. A faixa-título, “Fireball”, abre o álbum com uma velocidade surpreendente, quase antecipando o heavy metal que viria nos anos seguintes. Ian Paice se destaca com uma bateria acelerada e precisa, enquanto os riffs de Blackmore cortam como navalhas. ...

Master of the Rings (1994) e o início da fase Andi Deris no Helloween

Depois de revolucionar o power metal com os dois volumes de Keeper of the Seven Keys (1987 e 1988) e se arriscar em experimentações ousadas em Pink Bubbles Go Ape (1991) e Chameleon (1993), o Helloween enfrentava uma crise profunda na metade dos anos 1990: as saídas do vocalista Michael Kiske e do baterista Ingo Schwichtenberg, conflitos internos, perda de relevância e instabilidade com a gravadora. Parecia o fim. Mas Master of the Rings , lançado em 8 de julho de 1994, foi a resposta — e o renascimento. Marcando a estreia de Andi Deris (ex-Pink Cream 69) nos vocais e Uli Kush (ex-Gamma Ray, banda de um dos fundadores do Helloween, o vocalista e guitarrista Kai Hansen) na bateria, o álbum representou uma guinada corajosa: abandonou o excesso de suavidade dos trabalhos anteriores e resgatou a agressividade, mas sob uma nova identidade. Mais ríspido, direto e moderno, Master of the Rings não tenta repetir os Keepers , mas constrói um novo alicerce sonoro para o Helloween. A produçã...

10 quadrinhos esgotados que precisam urgentemente ser republicados no Brasil

O mercado de quadrinhos brasileiro vive uma fase fértil em diversidade de títulos e editoras, mas isso não significa que tudo esteja ao alcance dos leitores. Pelo contrário: uma quantidade significativa de obras fundamentais segue fora de catálogo — muitas há anos, algumas há décadas —, o que compromete o acesso de novos leitores a marcos da nona arte e impede colecionadores de completar bibliotecas essenciais. Abaixo estão 10 títulos que precisam ser republicados no Brasil com urgência. São obras que se tornaram referência em seus respectivos gêneros e estilos, e cuja ausência nas prateleiras representa uma lacuna importante no mercado editorial nacional. A Saga do Tio Patinhas , de Don Rosa Publicada no Brasil pela Editora Abril em março de 2015 e depois reimpressa em julho de 2017, esta obra-prima dos quadrinhos Disney reúne os capítulos que narram a história definitiva do personagem mais icônico de Carl Barks. No entanto, sua republicação está atualmente bloqueada pela pró...

High 'n' Dry (1981): o lado selvagem do Def Leppard que você provavelmente não conhece

Você realmente conhece o Def Leppard? Se a sua resposta se baseia apenas nos hits polidos e radiofônicos de Hysteria (1987) ou Adrenalize (1992), prepare-se para uma surpresa. High 'n' Dry , segundo álbum da banda britânica, foi lançado em 6 de julho de 1981 e é uma verdadeira explosão de energia crua, riffs cortantes e atitude rock and roll — um capítulo muitas vezes esquecido, mas essencial para entender as origens e a transformação do Def Leppard. Produzido por Robert John “Mutt” Lange (o mesmo que logo depois guiaria a banda ao estrelato global), High 'n' Dry ainda guarda a essência do hard rock setentista e da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), do qual o grupo fazia parte. Aqui, o Def Leppard é direto, feroz e ainda longe da obsessão por camadas e perfeccionismo de estúdio que marcariam os álbuns seguintes. Músicas como a faixa-título “High 'n' Dry (Saturday Night)”, a irresistível “Let It Go” e a empolgante “Another Hit and Run” mostram uma ba...

Acender uma Fogueira: Chabouté adapta Jack London em uma jornada congelante e sensorial (2025, Pipoca & Nanquim)

Inspirado no célebre conto de Jack London, Acender uma Fogueira é mais uma prova da maestria narrativa de Chabouté, autor francês conhecido por explorar a solidão, a introspecção e o poder das imagens em suas histórias. Publicado no Brasil pela editora Pipoca & Nanquim — que já trouxe outras obras do autor como Solitário , Um Pedaço de Madeira e Aço e Henri Désiré Landru —, o quadrinho é uma adaptação poderosa e angustiante da luta do ser humano contra a força implacável da natureza. A trama é simples em sua superfície, mas profundamente simbólica: um homem viaja sozinho, acompanhado apenas por seu cachorro, pelas inóspitas terras geladas do Klondike, no Canadá, tentando sobreviver ao frio extremo. Trata-se de uma referência direta à corrida do ouro de 1896, quando milhares de norte-americanos, impulsionados pela crise econômica e pela esperança de enriquecimento rápido, migraram para a região em busca das promissoras minas recém-descobertas. Eram, em sua maioria, pessoas sem ...

5 álbuns para celebrar o legado do Black Sabbath: uma jornada por todas as fases da banda que inventou o heavy metal

Poucas bandas deixaram uma marca tão profunda na história da música quanto o Black Sabbath. Criadores do heavy metal, os britânicos transformaram o rock pesado em algo mais sombrio, denso e intenso, inspirando gerações de músicos e fãs ao longo das décadas. Com uma trajetória marcada por mudanças de formação, altos e baixos e momentos de reinvenção, o Black Sabbath construiu um legado multifacetado. Confira abaixo cinco álbuns essenciais e muito importantes na história do grupo, cada um representando uma fase distinta da banda — um verdadeiro panorama da evolução do Black Sabbath ao longo dos anos. Paranoid (1970) Lançado apenas sete meses após o disco de estreia, Paranoid é a pedra angular do heavy metal. Com clássicos como “War Pigs”, “Iron Man” e a faixa-título, o álbum consolidou o som sombrio e arrastado que viria a definir o gênero. Tony Iommi esculpiu riffs imortais, enquanto Geezer Butler e Bill Ward sustentavam uma base rítmica poderosa e fluida. Ozzy Osbourne, por sua...

Slayer em South of Heaven (1988): e se o inferno tivesse um ritmo mais lento e ainda mais ameaçador?

Lançado em 5 de julho de 1988, South of Heaven chegou ao mundo com uma tarefa ingrata: suceder Reign in Blood (1986), o álbum que redefiniu os limites do thrash metal com velocidade, brutalidade e precisão cirúrgica. Mas, em vez de repetir a fórmula, o Slayer optou por algo mais ousado: desacelerar, injetar mais atmosfera e explorar o lado mais sombrio da própria fúria. O resultado foi um disco que dividiu opiniões à época, mas que, com o passar dos anos, se consolidou como um dos capítulos mais importantes da história da banda — e talvez o que melhor envelheceu em toda a discografia do grupo. Produzido novamente por Rick Rubin e lançado pela Def Jam, South of Heaven representou uma guinada criativa. A urgência apocalíptica de Reign in Blood deu lugar a composições mais cadenciadas, com riffs arrastados, melodias sinistras e uma sensação constante de mal-estar pairando sobre cada faixa. A mudança não foi acidental: Tom Araya, Kerry King, Jeff Hanneman e Dave Lombardo sabiam que n...

Soulfly em 3 (2002): potência tribal ou caos sem rumo?

Até que ponto um disco pode ser barulhento, intenso e cheio de identidade — e ainda assim parecer perdido? 3 , lançado pelo Soulfly em 25 de junho de 2002, é um desses casos em que a energia bruta não se converte necessariamente em coesão artística. Com uma sonoridade que mistura nu metal, groove, influências tribais, percussões latinas e até momentos mais espirituais, o terceiro álbum da banda liderada por Max Cavalera parece atirar para todos os lados — e, no fim, acerta em poucos. Vindo de dois álbuns com recepção positiva ( Soulfly em 1998 e Primitive em 2000), Max buscava reafirmar a identidade de sua nova banda após a saída conturbada do Sepultura. Mas em 3 , o que se ouve é mais um esforço para manter a chama acesa do que uma evolução real. O disco conta com boas faixas, como a pesadíssima "Seek 'n' Strike", a empolgante "Downstroy" e a tribal "One", que mostram o potencial da fusão entre peso e elementos étnicos que Max sempre explorou....