Lightning Strikes (1986) e a era de ouro do Loudness


Lançado em 25 de julho de 1986, Lightning Strikes é o sexto álbum de estúdio da banda japonesa Loudness e marca um dos momentos mais importantes da carreira do grupo. Com esse disco, o Loudness consolidou sua tentativa de conquistar o mercado norte-americano, expandindo sua influência para além da Ásia e da Europa, onde já começava a ganhar notoriedade. O álbum é um marco tanto pelo som quanto pelo contexto em que foi lançado, representando um dos ápices da presença japonesa no heavy metal tradicional dos anos 1980.

O Loudness foi formado em 1981 por dois ex-integrantes da banda Lazy: o guitarrista virtuoso Akira Takasaki e o baterista Munetaka Higuchi. Após três álbuns em japonês que obtiveram sucesso local, o grupo começou a lançar discos em inglês, mirando o mercado internacional. Essa guinada culminou em Thunder in the East (1985), o primeiro álbum da banda a ser lançado nos Estados Unidos com apoio da Atlantic Records. O disco teve boa recepção, e o single “Crazy Nights” alcançou relativa popularidade na MTV, o que abriu portas para o passo seguinte: Lightning Strikes.

Produzido por Max Norman (conhecido por seu trabalho com Ozzy Osbourne), Lightning Strikes apresenta um som mais polido e acessível do que os discos anteriores, sem abrir mão da técnica instrumental e do vigor característico da banda. A produção enfatiza refrães marcantes, linhas melódicas fortes e um acabamento sonoro que dialoga com o glam metal e o hard rock que dominavam as paradas na metade da década.

O álbum abre com “Let It Go”, uma faixa energética e contagiante, seguida pela poderosa “Dark Desire”, que remete ao Judas Priest da era Screaming for Vengeance. “1000 Eyes”, “Face to Face” e “Complication” demonstram a habilidade de Akira Takasaki como guitarrista, com riffs precisos e solos intrincados, influenciados por nomes como Ritchie Blackmore e Eddie Van Halen, mas com uma identidade própria. O vocalista Minoru Niihara entrega uma performance sólida, com um inglês mais fluente que nos discos anteriores, fruto do esforço em conquistar o público ocidental.

Lightning Strikes teve impacto significativo por romper barreiras culturais no heavy metal. Foi um dos primeiros álbuns de uma banda asiática a ser lançado por uma grande gravadora nos Estados Unidos, durante um período em que o mercado musical era extremamente fechado a artistas não-ocidentais. Isso abriu espaço para futuras gerações de bandas japonesas e asiáticas que buscavam reconhecimento global, como X Japan, Dir En Grey e Babymetal.

Embora o Loudness não tenha conseguido manter o mesmo nível de popularidade nos EUA nos anos seguintes — principalmente após a saída de Niihara em 1988 e a tentativa frustrada de americanizar ainda mais o som com o vocalista Mike Vescera —, Lightning Strikes permanece como um dos álbuns mais importantes de sua discografia e uma referência do metal japonês dos anos 1980.

Lightning Strikes é uma peça fundamental para entender não só a trajetória do Loudness, mas também a internacionalização do heavy metal nos anos 1980. Combinando técnica, melodia e produção radio-friendly, o disco conseguiu capturar o espírito da época ao mesmo tempo em que carregava a identidade única de seus músicos. Seu legado vai além da música: é um símbolo de como o metal pode atravessar fronteiras culturais e linguísticas sem perder a força.

Se você aprecia bandas como Scorpions, Dokken e Judas Priest, Lightning Strikes é um álbum que merece ser redescoberto — tanto pelo valor histórico quanto pela qualidade musical que continua vibrante quase quatro décadas após seu lançamento.

O disco era inédito no Brasil e ganhou a sua primeira edição nacional em 2025 através da BMG/Wikimetal, em uma versão em CD slipcase e encarte com as letras.


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