Castiga! - Roy Buchanan, o melhor guitarrista desconhecido da história


Por Marco Antonio Gonçalves
Sinister Salad Musikal

Trafegando pelas vias do blues, ando gastando a agulha da
pick-up nos LPs de Roy Buchanan. Tido como “o melhor guitarrista desconhecido do mundo” e eleito pelas revistas Guitar Player e Rolling Stone como um dos cem melhores guitarristas da história, este músico americano continua me impressionando a cada nova audição. Do fundo de minha coleção de discos, diria sem medo de errar: Buchanan foi um dos grandes heróis do blues em todos os tempos. Quem não conhece, não sabe o que está perdendo. 

Figura fácil no circuito musical da época, Buchanan percorreu os Estados Unidos e o Canadá, tocando com vários músicos e grupos desconhecidos no final dos anos 50 e por toda a década de 60. No início dos anos setenta gravou dois discos com o Snakestretchers, assumindo o papel de
band leader da trupe.

Combinando estilo e técnica singulares a um
feeling de arrepiar, acabou conquistando fãs famosos como John Lennon, Eric Clapton e Jeff Beck. Mick Jagger, inclusive, o convidou para ingressar nos Rolling Stones, em substituição ao guitarista Brian Jones, demitido da banda em junho de 1969 (um mês depois, Jones foi encontrado morto, boiando na piscina de sua casa). Buchanan negou o pedido, preferindo a liberdade artística e a distância da fama. Assim era Buchanan.


Em 1972, depois de ser homenageado com um documentário na TV, firmou contrato com a Polydor e lançou-se como artista solo, gravando pela companhia cinco discos memoráveis e pra lá de recomendados. Sua estréia na gravadora veio com um disco homônimo que contava com o entrosamento e a camaradagem dos parceiros da antiga banda: Ned Davis (bateria), Dick Heintze (piano/orgão), Teddy Irwin (guitarra rítmica), Chuck Tilley (vocal) e Pete Van Allen (baixo). Buchanan simplesmente abusa de sua Fender Telecaster, impondo uma combinação explosiva de blues, rock e r&b. Divino maravilhoso!

“Sweet Dreams”, “Cajun”, “John’s Blues” e “Pete’s Blue” são faixas instrumentais de arregaçar a alma. A veia country também está presente nas canções “I Am Lonesome Fugitive”, “Haunted House” e na versão do clássico “Hey, Good Lookin”, de Hank Williams, todas interpretadas por Chuck Tilley. Mas é na faixa “The Messiah Will Come Again” (com vocal do próprio Buchanan) que dá para entender por que o descreviam como um guitarrista que fazia sua guitarra chorar. Fantástico!


Se o primeiro é excelente, este "Second Album" então nem se fala. Gravado em 1973, trazia pequenas alterações no
line-up do álbum anterior, como a entrada de Don Payne substituindo Pete Van Allen nas linhas de baixo e Jerry Mercer nas baquetas no lugar de Ned Davis (que só colabora na emotiva “She Once Lived Here”). Mais uma seleção de faixas instrumentais e solos sensacionais, comprovando quem é o mestre da Telecaster.

“Filthy Teddy”, “I Won’t Tell You No Lies” (com belo trabalho de teclados de Dick Heintze) e “Tribute to Elmore James” são as provas definitivas que tocar com sentimento era uma de suas fortes qualidades. Outra boa pedida fica por conta da clássica “Treat Her Right”, de Roy Head, abrindo o lado B do vinil, numa versão fulminante para botar fogo nas festividades.

Mas os destaques ficam por conta das intensas “After Hours” e “Five String Blues”, com Buchanan injetando timbres agudos ensandecidos e descarregando aqueles efeitos característicos de sua companheira de seis cordas. Uma dica é escutar estas duas faixas com a mão segurando o queixo. Pirotecnia pura a serviço dos bons sons!


Encerrando minha conexão auditiva em alguns de seus discos, destaco também seu terceiro trabalho solo, lançado em 1974. "That’s What I Am Here For" é um registro mais roqueiro e com uma pegada mais nervosa que os anteriores. Acompanhado por Dick Heintze (teclados), Billy Price (vocal), John Harrison (baixo) e Robbie Magruder (bateria), mostra um Buchanan na ponta dos cascos, mantendo suas características marcantes: riffs precisos, grandes agudos nos solos e muitos harmônicos.

Curioso que ao contrário dos anteriores, este álbum traz apenas uma faixa instrumental (a bela “Nephesh”). De resto só sonzeira, solos raivosos e timbres berrantes extraídos de sua amiga Telecaster. Aumente o volume em “My Baby Says She’s Gonna Leave Me”, “Rodney’s Song” ou “That’s What I Am Here For” e mande seus auto-falantes para o inferno.

Em “Roy’s Bluz” (única faixa com vocal de Buchanan) e “Please Don’t Turn Me Away” tudo parece se acalmar até que Buchanan intervém com nova saraivada de solos ensurdecedores e efeitos estratosféricos. Discaço que ainda traz versão de “Hey Joe”, dedicada a Jimi Hendrix e tocada com estilo peculiar, criando texturas sonoras de rara beleza. É a assinatura Buchanan de qualidade.


Além destes três discos obrigatórios, Buchanan gravou outros dois pela Polydor e mais três pela Atlantic Records antes de dar uma trégua de quatro anos na carreira, reivindicando maior liberdade em suas criações. Em 1985 assinou com a Alligator Records, alcançando a alforria que pleiteava há anos, e gravou mais uma leva de grandes discos pela companhia. “When a Guitar Play the Blues”, de 1985, é altamente recomendado. Qualquer hora falo mais deste disco.

Reza a lenda que Jeff Beck parou de tocar com a Telecaster depois de ouvir Roy Buchanan. Se é verdade ou não, o certo é que sua admiração por Buchanan era notória, tanto que “Cause We’ve Ended As Lovers”, do revolucionário álbum "Blow by Blow", é dedicada a ele. Nesta faixa, Beck bate continência ao guitarrista americano usando uma técnica criada por ele: dar um
bend enquanto o volume da guitarra esta baixo e ir aumentando depois. Mestre!

Sua morte sinistra ainda é um poço de mistério. Depois de ser preso embriagado após uma discussão familiar, foi encontrado morto em sua cela na manhã seguinte, enforcado em sua própria camisa. Apesar dos fatos evidenciarem suicídio, muitos ainda não acreditam nessa tese. Era 14 de agosto de 1988 e, aos 48 anos de idade, acabava tragicamente a trajetória do “melhor guitarrista desconhecido” da história.

Comentários

  1. Gostaria de saber quantos álbuns do Buchanan o Marco tem e qual realmente ele poderia recomendar para mim, iniciante na obra do artista.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Acabei de comprar esse álbum preto do Roy num sebo muito bom aqui na Zona Norte.Marcão, comecei bem???

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  4. "Quem não conhece, não sabe o que está perdendo. " [2]

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  5. "Quem não conhece, não sabe o que está perdendo. " [399]

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  6. Pô Fabião, começou bem pra caramba. Mas se quer um conselho de bolha, compre todos os discos de Roy Buchanan que vc encontrar pela frente!! Valeu Ugo, tu tá mandando bem aqui no blog. Abraços!

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  7. Marcão, não tenho nada do Roy. Por qual começo?

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  8. Pombas!! Estava postando aqui no blog e caiu a energia elétrica aqui no pedaço... De volta à luz, digo a vc brother Cadão que, pra começar, esses 3 discos resenhados estão de bom tamanho. Mas é aquilo que falei pro Fabião: compre todos os discos de Roy Buchanan que vc encontrar pela frente! Abraço!

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  9. Merecida e ótima postagem. Buchanan tem discos excelentes.

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  10. Há ainda um disco ao vivo, o "Livestock". Pra mim é uma das melhores gravações ao vivo já feitas. É um álbum da Polydor, logo deve ser um dos dois últimos que o autor citou.

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  11. Vamos comprar todos então, caramba !!!(rsrs)

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  12. Marcão castiga MESMO!!
    Roy, um dos meus grandes ídolos da guitarra! Pra mim, seu melhor disco é o "When a guitar plays the blues", este arrepia até a alma cara!!!
    Texto ótimo, CASTIGA, MESTRE!!!

    Abraços!

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  13. Po esqueci de falar que, pra mim, o grande Roy é um dos caras que melhor equilibrou o blues e o country! Castiga!!

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  14. Muito bom man, parabéns. Estou utilizando seu post para terminar o meu no blog www.xavisownexperience.wordpress.com

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  15. MT MASSA PARABENS, INFORMAÇÃO ESTOU PROCURANDO UMA MUSICA DO ROY, JA OUVI VARIAS E NADA DE ENCONTRAR, ELA É SÓ INSTRUMENTAL, NOS ANOS 80 OUVIA MT ESSA MUSICA QD IA SURFAR, PODERIA ME AJUDAR? NEM IMAGINO O NOME MDA MUSICA MSA COMO VC VÉ UM EZIMIO CONHECEDOR DAS MUSICAS DE ROY BUCHANAN PODERIA ME ENVIAR NOMES DAS MUSICAS SÓ INSTRUMENTAL SOLO GUITARRA OBRIGADO

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