Contra a 'bundamolização' da música brasileira!



Por Regis Tadeu


Nesta altura do campeonato, eu e você já sabemos o que é A Banda Mais Bonita da Cidade e sua única música conhecida, “Oração”. Mas o que me deixou mais espantado foi como o vídeo desta canção – na verdade, um plágio descarado do clipe de “There’s an Arc”, do sexteto canadense Hey Rosetta! ( ) – conseguiu encantar tantas almas carentes. Talvez esta carência coletiva precise mesmo de um grupinho de amigos fofinhos, cantando dezenas de vezes uma mesma estrofe enquanto dão um rolê por uma casa que mais parece uma república de estudantes de alguma universidade no interior do Paraná, tudo como agente catalisador de uma pretensa 'felicidade coletiva', como se a vida fosse uma 'festa de firma' universitária. Neste caso, o problema está justamente nas pessoas que deram crédito a esta pataquada.


Em uma época em que até o Ministério da Educação e Cultura imprime livros que incentivam erros de gramática, parece claro que, além de um processo de emburrecimento geral da população deste país, estamos assistindo também à 'bundamolização' da música brasileira. Só isto explica coisas como Mallu Magalhães, Los Hermanos e outros grupos igualmente desafinados. Agora temos também A Banda Mais Bonita da Cidade e seu som zumbificante e plasticamente alegre, cheirando a café quentinho e bolo de fubá.


O que é mostrado no vídeo é, infelizmente, uma parte do retrato de uma grande parcela da juventude universitária brasileira. Uma outra parte, salvo raríssimas exceções, não passa de um bando de bebedores de cerveja quente e de meninas mais preocupadas em arrumar baladas para o final de semana. Duvida? Experimente passar perto de qualquer faculdade de uma metrópole como São Paulo e veja a quantidade de gente vagabundeando nos bares ao redor – em qualquer horário! E não adianta usar a desculpa de que 'juventude é assim mesmo'. Não é e nem deveria ser.


Assistindo a este insuportável trambique, fiquei com a sensação de que o tal clipe também prega uma volta aos 'bons tempos', em que pseudohippies de boutique usavam sandália de couro e barbinha 'fundo de piscina infantil' e tinham no violão – sempre desafinado – uma arma para levar para a cama meninas vestindo batas indianas e alpargatas com espelhinho. Deus me livre disto!


E como se não bastasse a música aparentar ter a duração de uma aula de Educação Moral e Cívica – quem tem mais de 40 anos de idade lembra o suplício que era assistir a este troço, empurrado goela abaixo de crianças inocentes por um governo militar inescrupuloso -, a canção tem uma letra absurdamente miserável, que sugere que seu autor tenha passado recentemente por uma lobotomia. Qual a outra explicação para “Meu amor essa é a última oração / pra salvar seu coração / coração não é tão simples quanto pensa / nele cabe o que não cabe na despensa / cabe o meu amor! / cabem três vidas inteiras / cabe uma penteadeira / cabe nós dois”? A chatice e a infindável sucessão de sorrisos artificiais aumentam ainda mais a panaquice reinante.


Até mesmo a tentativa de convencer as pessoas de que tudo foi filmado em um único plano é uma farsa. Na verdade, as pessoas não se importam mais em serem enganadas. E elas até pagam para isto – tem gente que saiu de casa na semana passada, em uma noite de frio, para assistir a um 'show' em playback da 79ª encarnação embusteira do Village People, não é mesmo?


Ando desconfiado que o mundo acabou mesmo na semana passada. A gente é que ainda não se ligou disso.

Comentários

  1. hahaha...o Régis é foda. Pegar leve? sem chance!
    Eu particularmente achei o clipe muito legal, mas a música é realmente de doer...como diz um amigo:esse hype de centro academico de ciencias sociais tem que acabar! Fora Loser Manos, fora Malu Magalhães, fora Banda mais bonita!...rs
    Pelo menos me lembrou esse divertidissimo texto: http://adolargangorra.blogspot.com/2008/11/como-me-fudi-no-show-do-los-hermanos.html

    ResponderExcluir
  2. Do Los Hermanos eu gosto... chatos são os que divinizam a banda... sobre o clipe da banda mais bonita preciso conferir pra ver qual é a deles.... sobre o processo de emburrecimento da população brasileira...bem isto é muito claro...e as vezes penso que faz parte de algum plano....

    ResponderExcluir
  3. Peraí, como já dizia Jack The Ripper, vamos por partes. Não vou defender esta banda não, mas ler um artigo de um cara que é crítico musical/jurado do Programa Raul Gil, que moral que ele tem???? Chamar o cara de foda é atestar a qualidade inferior de ser qualquer coisa do Raul Gil, que é um lixo! E mais,ele apresenta/produz na Rádio USP (93,7), e me vem analisar qualquer universidade somente pelos bares ao redor? Bares abrigam 200 pessoas, enquanto universidades abrigam 2.000. Quem ganha então? A universidade ou o bar? Coluna baseada em baseado dá nisso, mal escrita, mal infundada e mal referenciada.

    ResponderExcluir
  4. Raphael, qual é o problema de ser jurado do Raul Gil? Conheço e acompanho o trabalho do Regis há anos já, e sei que ele é um dos caras que mais entende de música aqui no nosso país. É polêmico, tem opiniões fortes - muitas das quais eu não concordo -, mas isso não faz com que eu ache o trabalho dele uma merda.

    O raciocício que você usa serve para o seu comentário também: se o Regis está generalizando ao avaliar os universitários - e o que eu concordo plenamente, porque basta passar em uma universidade para perceber isso -, o que você está fazendo ao reduzir o seu trabalho ao de jurado em um programa de TV? Me belisca, mas não seria a mesma coisa?

    E mais, vamos falar do assunto do tópico: o que você acha do som da Banda Mais Chata da Cidade?

    ResponderExcluir
  5. Acho que essa frase resume tudo: "Em uma época em que até o Ministério da Educação e Cultura imprime livros que incentivam erros de gramática, parece claro que, além de um processo de emburrecimento geral da população deste país, estamos assistindo também à 'bundamolização' da música brasileira."

    Já faz tempo que a música brasileira está num marasmo inacabável. Basta notar pela repercussão que a notícia da volta do RPM causa.

    ResponderExcluir
  6. Incrível, consegui chamar a atenção de alguém. Bora então:
    Ricardo, prazer, leio sempre o blog e acompanho desde um tempo, parabéns a todos os mantenedores.
    Eu não disse que o trabalho dele é uma merda. Ser antigo não significa saber de tudo, muito menos emitir opiniões certeiras, como você mesmo disse não concordar com tudo.
    E sim, reconheço que errei quando julguei por um trabalho de jurado de TV, é que ao ler o que ele mesmo já defendeu, foi de doer. Doer porque é um ataque gratuito à mais uma forma de aparecer de uma banda qualquer. Segue no próximo comentário trecho de um texto dele referindo-se à internet e outras mídias de divulgação...

    ResponderExcluir
  7. Sabe a tal 'encruzilhada' que cito no título deste artigo? Ela se refere às duas opções que o rock brasileiro em geral têm nos dias atuais: sair de sua 'zona de conforto' e buscar novas alternativas de divulgação na internet ou cativar novos públicos com shows incessantes. Só que a tal 'encruzilhada', na verdade, é um caminho único, pois uma coisa depende e, ao mesmo tempo, complementa a outra. E isso vale tanto para bandas já estabelecidas como para aquelas que ainda estão restritas às garagens e estúdios cheirando a mofo. - Para ler mais: http://whiplash.net/materias/news_873/092368.html

    ResponderExcluir
  8. Raphael, obrigado pelo apoio a Collector´s, fico muito agradecido. Conheço o trabalho do Regis, o admiro, acho seus textos muito bons, mas também, como disse, não concordo com 100% do que ele fala. Nesse caso, porém, assino embaixo.

    Mas você fez o comentário mais contestando a afirmação dele em relação aos universitários e universidades do que a música da Banda Mais Chata da Cidade em si, certo? O que você achou do som dos caras?

    ResponderExcluir
  9. Linkando na Banda, eu não a julgaria como rock, e também não compararia com LH, Malu, Monobloco e tantas outras bandas cariocas que ele já bateu por aí, pois esta banda é curitibana e possui um único integrante da terra do pão de açúcar. A questão dos universitários foi pura balela (já provei no post anterior), e quando vi a banda, peguei outras músicas que encontrei no youtube para ouvir. Uma boa vocal, e uma total falta de direção. Eles tentam fazer indie, tentam fazer mpb, mas ainda sem uma identidade forte

    ResponderExcluir
  10. Mais uma banda para ame-a ou deixe-a. Anna Julia está para Los Hermanos assim como Oração esta para a Banda mais bonita... não condizerá com o trabalho deles depois de um certo tempo... isso foi uma profecia hahahaha. Mas bater gratuitamente para quem está mostrando a cara no mainstream agora não é a solução. E mais uma vez, isso não é rock.

    ResponderExcluir
  11. Tá, mas qual é o problema em ser ou não ser rock? É claro que isso não é rock, mas não entendi a sua ênfase nesse aspecto.

    ResponderExcluir
  12. Problema nenhum, na verdade eu estava falando do artigo que postei aqui, onde o motor de discussão foi sobre rock etc.

    ResponderExcluir
  13. Ah bom, entendi agora. Mas eu acho que a música brasileira, a que chega ao mainstream, anda bem meia boca, Raphael. Não há nada que surpreenda e desafie o ouvinte - e talvez ele não queira ser surpreendido e nem desafiado mesmo, vide o sucesso que coisas como Capital Inicial ainda fazem e o retorno do RPM.

    A cada Massahara, uma banda excelente e longe da mídia, que aparece, temos que aturar um Jota Quest e suas infindáveis versões da mesma música.

    Triste isso, não?

    ResponderExcluir
  14. Ah, e só pra constar, eu gostei bastante do último disco da Mallu Magalhães.

    ResponderExcluir
  15. Ok...acabei de ouvir...sem as imagens...que verei depois...pois para mim o mais importante é o som...
    Sobre o som...é um tipo de música bem romântica e idealista... não é madura... chega a ser até bobinha ... talvez fruto da inexperiencia do pessoal que criou o negócio... hoje em dia esse tipo de som é totalmente execrado porque vivemos em tempos de muito cinismo...no entanto achei o clima do som bem agradável.... achei nesse caso a explosão do Régis em sua coluna um pouco desproporcional em relação ao que ouvi.... embora continue respeitando o trabalho do mesmo...
    Mas pra que não me acusem de ficar em cima do muro...pelo que ouvi não compraria nem baixaria músicas desta banda ...

    ResponderExcluir
  16. Sim, triste! Isso é fato. Ele acertou em uma frase: "conseguiu encantar tantas almas carentes"
    Carentes sim! E como! Voce disse, temos que aguentar CInicial, RPM, J Quest etc, tudo pop rock pronto, pasteurizado, etc. Mas quando surge algo novo, como saber se eles poderão nos trazer algo novo, se nem os deixamos crescer?

    ResponderExcluir
  17. Tá legal a discussão.

    É exatamente nesse ponto que eu acho que veículos de massa, como rádios e TV, tem um papel-chave. Muitas vezes a gente não sabe o que quer ouvir por não conhecer o que anda rolando.

    Vamos pegar o exemplo da Adele, por exemplo. Ela está estourada em todo o mundo, falamos dela desde janeiro aqui no blog, e só agora, que uma música sua entrou em uma novela da Globo, é que ela chegou ao grande público. É pop? É, mas totalmente diferente do pop que domina as rádios como Jovem Pan, por exemplo.

    O mesmo acontece com o disco novo da Lady Gaga, 'Born This Way'. Infelizmente, a maioria dos fãs de rock não vão ouvir o disco pelo que a imagem da Lady Gaga representa, mas se resolvessem se aventurar pelo álbum iriam ter contato com o um pop repleto de batidas pesadas, linhas vocais criativas e composições poderosas, que justificam todo a falação que ela tem causado no mundo da música.

    ResponderExcluir
  18. Cara, Lady Gaga! Sou fã de rock, mas velejo em outras vertentes também. Baixei o disco para ouvir uma música que me chamou a atenção (Paparazzi), e realmente é um pop diferenciado, com as batidas realmente pesadas. Então chegamos a duas encruzilhadas: até quando o rock brasileiro pode ser pop e também rico (barão é pop?), e quando começar a julgar um artista (a partir do segundo, terceiro disco?). Pearl Jam foi brilhante em Ten!

    ResponderExcluir
  19. A Gaga é uma artista interessante... é provocadora...ou pelo menos parece ser... isto já conta bastante...as poucas músicas que ouvi dela não são ruins não... precisaria parar para ouvir melhor.... mas o tempo joga contra...são muitos artistas de muitas décadas pra conhecer...

    ResponderExcluir
  20. Se liga nessa reportagem:http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/05/30/a-cena-musical-contemporanea-de-minas-chama-atencao-pelo-talento-pela-forma-como-se-estrutura-924565011.asp

    Eu já ouvi o Pedro Morais, o cara tem uma levada que lembra e muito Lenine... musica boa!

    ResponderExcluir
  21. "Em uma época em que até o Ministério da Educação e Cultura imprime livros que incentivam erros de gramática, parece claro que, além de um processo de emburrecimento geral da população deste país, estamos assistindo também à 'bundamolização' da música brasileira."

    Como é que é?

    O livro a que se refere o Régis Tadeu não ensina português errado. O que se faz é mostrar a realidade/variedade linguística e pede discernimento ao leitor com relação à adoção da norma culta. A discussão que o livro traz é que existem variações linguísticas adequadas para cada ocasião.

    Afinal de contas quem aqui vai na feira e diz "Dê-me, por obséquio, uma dúzia de laranjas"? Da mesma forma um advogado não escreve uma petição usando "nós vai". Repito: o livro "Por uma Vida Melhor" não ensina gramática errada e sim apresenta variedades regionais do português brasileiro.

    O Régis pegou gancho numa falsa polêmica sobre o MEC e falou besteira. Aliás, isso é bem típico dele. Já que ele é um crítico musical tão embasado provavelmente conhece "As Mariposa" do Adoniran Barbosa:

    As mariposa quando chega o frio / Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá / Elas roda, roda, roda e dispois se senta / Em cima do prato da lâmpida pra descansá

    E mesmo assim ele está de implicância com um livro que explica o uso adequado de "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado." E diga-se de passagem esse estudo de linguística já é assunto velho nos cursos de Letras.

    Na ânsia de criticar, o Régis deu uma bola fora tremenda.

    ResponderExcluir
  22. Francisco, nesse assunto sobre o livro do MEC concordo com o Régis. Quando a gente está aprendendo a gramática, a ler e escrever, DEVE aprender a forma culta e correta. Foi assim que eu aprendi e é assim que eu quero que o meu filho aprenda.

    No dia a dia a gente aprende a usar a forma coloquial, mas é um conhecimento essencial e que não dá para viver sem.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  23. O MEC não está propondo que a linguagem coloquial substitua a norma culta, mas sim mostrando que os colóquios regionais são possíveis e que na escrita a norma culta deve ser mantida dependendo da ocasião.

    Outro detalhe é que o livro dedica apenas UM capítulo para a educação linguística e o uso popular da língua.

    Segue aqui um trecho do livro e aqui a página do MEC onde já se discute o assunto para desmistificar falácias como essa que o Régis soltou.

    ResponderExcluir
  24. Olha Francisco...até te entendo...mas sinceramente..é muito estranho um livro didático que aceita um erro tão grosseiro como esse...acho certas soluções que os pedagogos propõe verdadeiros desastres... a educação continuada é um exemplo.... a idéia é interessante mas totalmente deslocada de nossa realidade... estes livros que admitem estes tipos de erros não são corretos no meu ponto de vista... a linguagem coloquial é algo corriqueiro e acaba sendo incorporada no cotidiano...não há necessidade de legitimar isto ... pois não é a forma correta de se escrever e falar ... vc deve saber melhor do que eu que é necessário organizar a linguagem para podermos nos comunicar ... agora imagine se esses erros começarem a ser legitimados... a bagunça que a lingua se transformara.... a falta de organização que isto pode resultar....

    ResponderExcluir
  25. Muito bom o texto do Régis. A música é chata mesmo, mas o clip é bem feito e perfeito para a turma da barba e do cabelo encaracolado que toca guitarra sobre os mamilos ...

    ResponderExcluir
  26. A midia esta matando as influências musicais, Esta colocando todos os musicos em um tudo e soprando pra sair aquela gosma qeu chamamos de musica grude.
    Pessoas com cultura e conhecimento não tem medo do novo.
    E 1° se os estudantes brasileiros começarem a ler talvez essa discussão sobre a gramatica fassa sentido.
    Gostei do post regis

    ResponderExcluir
  27. Jefferson, você quer dizer 'faça' sentido, certo?

    ResponderExcluir
  28. Pelo visto a gramática já morreu mesmo... essa foi de doer... hahahaha

    ResponderExcluir
  29. Peralá, Lady Gaga interessante e com músicas que não são ruins?

    Acho que entrei no blog errado...

    ResponderExcluir
  30. Não Rodrigo, não entrou não. Sempre falei de estilos variados de música aqui, e esse disco da Lady Gaga me surpreendeu. Você ouviu, por acaso?

    ResponderExcluir
  31. Respondendo sua pergunta e meio que parafraseando aquela velha frase que dizem ser de Oswald de Andrade, "não ouvi e não gostei"; mas falando sério, ouvi apenas duas músicas em um programa de clipes na TV. Perdão, Ricardo, se meu ecletismo não chega a tanto. Gosto predominantemente de rock, mas ouço pop, blues, jazz e até música disco, acredite. Bate-estaca e seus derivados (música eletrônica, principalmente) definitivamente não me atraem. Me parecem canções excessivamente pasteurizadas, tal qual um fast food musical. Nada que uma máquina bem programada possa fazer, nenhum esforço de composição honesto (mesmo que o resultado não seja bom, eventualmente), os músicos e seus instrumentos não se destacam, e isso para mim é imperdoável. Já não vou nem falar nas artimanhas de mixagem de estúdio, que transformam vozes do tipo "cantora de rádio comunitária sendo degolada" em verdadeiras "Billies Holidays".

    Mas por outro lado, como diriam nossas vovós, "o que é de gosto, regala a vida". O importante é ser feliz ouvindo o que se gosta.

    ResponderExcluir
  32. É por aí mesmo, Rodrigo: o importante é ser feliz ouvindo o que se gosta. E você não precisa pedir desculpas por não ser tão eclético, não. Cada um tem o seu gosto, e aqui a gente respeita todos.

    Abraço, e valeu pelo comentário.

    ResponderExcluir
  33. Olá, Fábio!

    Esse assunto do MEC realmente gerou uma (falsa) polêmica, onde a maioria das pessoas pensa que o que os pedagogos pretendem fazer é institucionalizar a forma "errada" de falar e que isso, num país em que a educação básica já está pra lá de defasada, só vai gerar mais distorções no ensino.

    Acho que discutir esse assunto é muito pertinente e acabei nem comentando sobre o assunto do mais imediato aqui, que é a música. Até peço desculpas ao Ricardo por "entortar" a conversa nesse sentido, mas ainda acho importante esclarecer certos pontos porque o Régis usou essa celeuma do tal livro didático pra contextualizar a sua crítica e muitos como ele vão perpetuar essas opiniões enviesadas sem nem ao menos ter lido ou sequer entendido a proposta.

    Você disse que: é muito estranho um livro didático que aceita um erro tão grosseiro como esse.

    E a questão é: o livro não aceita um erro grosseiro, pois ele não é exatamente um erro. São apenas maneiras diferentes de falar e isso já é estudado desde a década de 80 aqui no Brasil.

    "[...] a linguagem coloquial é algo corriqueiro e acaba sendo incorporada no cotidiano...não há necessidade de legitimar isto"

    Na verdade, Fábio, a linguagem coloquial já está legitimada pelo simples fato de que ela é falada por milhões de pessoas e constitui a essência das culturas regionais. E isso nem é exclusividade do Brasil.

    A língua falada aqui e em qualquer outro lugar no mundo está sujeita a constantes transformações justamente devido às nova maneiras de falar. Isso só não acontece com línguas mortas como latim, aramaico, iídiche, que nem vou entra nos detalhes de porque deixaram de se desenvolver.

    ResponderExcluir
  34. Admito que Linguísta não é a minha área de atuação. Sou historiador. Mas tem um fato que considero perfeito pra desfazer toda essa celeuma. Todas as línguas de origem latina surgiram dos povos bárbaros que não conseguiam pronunciar corretamente o latim. A expansão do império romano incorporou diversos povos da Europa que já falavam suas próprias línguas. E a necessidade de falar o latim "corretamente" trouxe à tona uma certa impossibilidade quanto à pronúncia. Se você já viu chinês falando inglês ou português, pode ter uma noção do que foi isso.

    Existem até os dicionários regionalistas, que são a prova mais cabal de que a transformação linguística é uma realidade onde não se pode voltar atrás. Toda a implicância em torno desse livro didático reside no fato das pessoas não saberem ou não quererem saber que o português fora da norma culta já é um fato consumado. A proposta do MEC é apenas levar para as escolas um assunto que já está em voga no principais centros acadêmicos a cerca de 30 anos.

    Falso mesmo é afirmar que português popular é errado. Virou praticamente um dogma ridicularizá-lo. Nesses dias li uma opinião do professor Pasquale bem razoável nesse sentido. Ele dizia que o problema não é conhecer as variações fora da norma culta, mas se é interessante que essa discussão saia dos cursos de Letras para entrar nas escolas. Isso porque o Pasquale é um dos normativistas que sempre buscam dar às suas prescrições uma legitimidade que elas não tem.

    E muitas estruturas que certos críticos afirmam não pertencer à norma culta são recorrentes nos textos de escritores consagrados, como Cecília Meirelles, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector, ou mesmo de clássicos, como Machado de Assis e José de Alencar. Isso demonstra que, no Brasil, já existe um desacordo flagrante e antigo entre a norma padrão. E como já disse não só no Brasil, mas no mundo.

    Não sou expert em literatura inglesa então vou citar um caso na música (ufa!). "Satisfaction" dos Stones.

    I can´t get no!

    Isso está gramaticalmente errado. Ou se diz "I can´t get" (norma culta) ou "I can get no" (forma coloquial).

    Se for pra levar ao pé da letra, o que os Stones cantam nesse refrão é a negação da negação. Mas implicar com os caras porque não fizeram um bom emprego do cunho vernáculo do termo seria de uma estupidez gigante. Quem conhece a música sabe que o "NO" gritado no final do verso é uma interjeição para reforçar a insatisfação.

    Pra encerrar, acho que as pessoa deveria se informar sobre o assunto antes de reproduzir as opinião de quem não leu o livro e está catanto querela num assunto que já foi amplamente debatido.

    ResponderExcluir
  35. Um ponto que o Regis tocou que realmente me incomodou é como é artificial essa "felicidade coletiva". A banda diz q o clipe foi feito de brincadeira, num fds feliz. Bom, no final do clipe vemos outro garoto com uma camera profissional, então a banda leva DUAS cameras profissionais toda vez q junta a galera?

    ResponderExcluir
  36. Essa felicidade coletiva é irritante. mesmo. Mas o que mais me incomoda é porque diabos o baterista toca com um cachorro teoricamente 'fofo' no colo ... putz ...

    ResponderExcluir
  37. Oi Franciso !

    Muito boas suas colocações ! Pra encerrar...senão o Cadão briga com a gente por desvirtuar o blog (eheheheheh).... concordo com os pontos que você levantou...principalmente em relação ao massacre que está sendo feito ao livro do MEC por muita gente que nem sabe direito o que está acontecendo ... No entanto achei o exemplo do livro muito forte... flexionar corretamente o plural acho que deve ser o mínimo que deve ser ensinado em sala de aula... principalmente pra linguagem escrita...já que na falada todos estes regionalismos já estão incorporados...
    Ahhh... e você escreve muito bem...possui ótima argumentação....imagina se na escola que vc estudou te ensinassem a escrever "os livro..." heheheheheh
    Abraços

    ResponderExcluir
  38. Realmente, Fabio, vamos encerrar. Obrigado pelos elogios. Acho que eles servem pra você também porque seus textos aqui na Collector´s são muito bons.

    E eu aprendi na escola (Ensino Médio) que o português popular não é errado. Meu professor insistia que não era pra gente escrever coloquialmente em redação de vestibular, carta comercial etc.

    No caso desse novo livro, as flexões dos termos em gênero, número e grau estão lá, do jeito que eu e você já aprendemos. Só que num capítulo específico, a autora lembra que as variações populares não podem ser discriminadas.

    Acho isso bem válido, pois, como você lembrou, o coloquial já está na boca do povo. Particularmente, eu considero um avanço apresentar formalmente para crianças e adolescentes que, embora a norma culta seja uma necessidade/obrigação na maioria das situações que elas ainda viverão, isso não pode se transformar numa espécie de ditadura linguística.

    É tudo uma questão de bom senso. Pregar a norma culta como dogma não faz o menor sentido sendo que na música ela é facilmente transgredida em função da licença poética. Esse é só um exemplo entre vários outros.

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  39. Gostei muito dos comentários em geral...Francisco, excelente argumentação, não tinha tomado conhecimento do caso antes disso, mas tô contigo.
    Bem, voltando ao assunto do tópico...desculpem cheguei meio atrasado na conversa. Concordo plenamente com o título do texto - abaixo a bundamolice, não só da música nacional como da mundial. Desculpem quem gosta, mas pra mim, apatia e 80% da cena indie são como irmãos siameses. Coisas indissociáveis. Nossa geração tem muito de apatia. Li uma matéria na Época, recentemente, a respeito de uma pesquisa feita com os jovens, que pra mim foi sintomática nesse sentido.
    Fiz questão de não ver esse vídeo e nem escutar esse som da tal banda. Considero a alienação e a ignorância uma benção, em certos casos, como esse.
    Agora, o conteúdo do texto eu acho meio estranho, pelo excesso de generalizações, coisas que tornam quase sempre o texto do Régis Tadeu arrogante, verborrágico e que não me convence.
    Coisa que concordo - o nível da juventude que tá na universidade é lastimável msm. Saí da universidade em 2008. Foi um alívio ehehehe. E concordo com o processo de emburrecimento da sociedade brasileira.
    Não acho que nem tanto a letra, nem o clima de felicidade coletiva sejam motivo pra pichar a música. Cada um expressa seus sentimentos a maneira que quiser. Se fosse assim, a monotemática mortífera de algumas vertentes do metal tb seriam suficientes pra descartar esse tipo de música. Nesse ponto, foi uma análise muito emotiva e frágil. Primeiramente, coloco em questão a parte musical - é uma boa composição? tem um instrumental no mínimo competente? tem garra, gana, tesão ou algo do tipo envolvido? Pelo visto, não atende nenhuma dessas alternativas!!
    Abraços!!
    Ronaldo

    ResponderExcluir
  40. Fico triste de ver um texto medonho como esse num site impecável como é a Collector´s...

    Quando indico a Collector´s pras pessoas (e faço muito isso), a primeira coisa que digo é: "é um material fantástico pra quem ama músicas e discos". Ai me deparo com um texto amargo desses... como se todo dia músicas ruins não fossem feitas e aceitas.

    A música em questão não é necessariamente ruim. O erro foi esperar atingir o nirvana através da repetição. Se ela durasse 1 miunuto, seria uma boa música. Já pensou na fantástica "Dee" sendo repetida por 12 minutos pelo Randy Rhoads?

    Voltando ao que interessa: Tenho 33 anos, e nasci no ano em que o Black Sabbath lançava "Never Say Die", então muita água já havia passado debaixo da ponte. Se eu não correr atrás do prejuízo, nunca vou ouvir música o bastante. Principalmente pra mim, que gosto de Metal, Choro e Jazz.

    Existe muita musica boa que merece ser falada, celebrada e comentada. É por isso que a Collector´s tem vida longa a sua espera.

    Rogério Lama

    ResponderExcluir
  41. Muito, muito atrasado aki na discussão... mas só deixando uma observação: ler os comentários da galera ta bem melhor do que ler o texto do Regis.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.