Black Veil Brides: crítica de Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones (2013)

Inspirado pelas extravagantes bandas de glam metal da década de 80, o Black Veil Brides vem adquirindo considerável reconhecimento no mainstream norte-americano graças ao resgate do hard rock despojado de trinta anos atrás, com uma temática mais soturna e aliado à excelentes performances visuais.

O seu debut We Stitch These Wounds, de 2010, foi suficiente para atrair a atenção de grandes gravadoras, rendendo um contrato com a Universal Republic, uma subsidiária da própria Universal, responsável pelo lançamento do segundo disco, Set the World on Fire, e o mais recente, Wretched and Divine: The Story of the Wild Ones.

Produzido pelo renomado John Feldmann (Goldfinger, Good Charlotte, The Used, Atreyu), o terceiro álbum do Black Veil Brides foi lançado oficialmente em 8 de janeiro, estreando em 17º lugar nos charts americanos, com mais de 23 mil cópias vendidas.

A desconexa voz em “Exordium” prepara o ouvinte para o que está por vir em “I Am Bulletproof”, uma agressiva mistura de hard rock com post hardcore, com todos os elementos que serão predominantes ao longo do disco: melodias vocais e instrumentais compostas com maestria, que apesar das estruturas simples se encaixam perfeitamente para a proposta do conceito do álbum. “New Year’s Day”, um pouco mais cadenciada, traz bem encaixadas inserções de teclados e violinos, que combinados à grave voz de Andy Biersack são os principais responsáveis pela qualidade do álbum.

O líder da F.E.A.R. aparece na primeira transmissão “Stay Close” com um interessante discurso de lavagem cerebral que leva à faixa-título, aonde, não exageradamente, é possível identificar sopros de heavy metal tradicional, que contribuem catalisando o sentimento épico de levante de “Wretched and Divine”. E por falar em sentimento, é impossível não imaginar o potencial teatral que “We Don’t Belong” pode ter ao vivo, flertando fortemente com algo entre o industrial, o gothic e o shock rock. “Trust”, a transmissão número dois da F.E.A.R., mantém o soturno clima que vai se construindo com o passar das músicas, culminando na quase arrastada “Devil’s Choir” e na balada “Resurrect the Sun”, responsável por um dos mais fortes refrãos da banda.

Com versões sinfônicas instrumentais do que se passou até agora no conceito, “Overture” faz a ligação com a segunda parte do disco, iniciada por “Shadows Die”, que remete escancaradamente à sonoridade do Avenged Sevenfold em seus trabalhos mais recentes, deixando apenas alguns fiapos da identidade musical do Black Veil Brides à mostra. Porém, ela retorna rapidamente com a dobrada “Abeyance” e “Days Are Numbered”, puxando as raízes glam rock da banda (sem cair na farofa exagerada) e com participação do vocalista do The Used, Bert McCracken.

E apenas acompanhando a letra é possível compreender como o bonito interlúdio acústico “Done for You” faz sentido nesse momento, e claramente se imagina o personagem sentado, acendendo um cigarro, como se estivesse se preparando para algum derradeiro acontecimento. Ele chega com “Nobody’s Hero”, retomando o clima épico e pesadíssimo da primeira parte do álbum, e “Lost It All”, que apesar do início excessivamente meloso consegue inserir elementos surpreendentes e dá uma guinada inesperada, graças à participação das cantoras Roberta Freeman e Juliet Simms (do Automatic Loveletter).

“F.E.A.R. Transmission 3: As War Fades” traz as palavras do lado perdedor, recheadas de promessas de vingança, representados em “In the End”, com o seu honrado clima e cheio de mensagens a serem berradas a plenos pulmões, que apesar de ser a última faixa, é estranhamente o primeiro single liberado do disco. A última transmissão, por fim, acaba deixando uma controversa mensagem sobre a vitória dos rebeldes e como isso pode ter acarretado na tomada do poder por algo muito pior do que o sistema anteriormente vigente. Uma inversão de papéis no último segundo do disco ou apenas uma questão de ponto de vista? Torna o conceito do álbum ainda mais interessante.

Mas interessante mesmo é como, por causa do visual, temática e tempo de atividade da banda, eles parecem ainda sofrer considerável preconceito com os fãs de música mais conservadores, que ficam presos à aparência e ao rótulo ao qual os americanos estão classificados. Wretched and Divine traz um Black Veil Brides dando um passo relativamente largo em relação ao início de carreira, com um desenvolvimento lírico notável e um amadurecimento musical notável, e entrega ao ouvinte um conceito que o faz mergulhar na atmosfera noir pós-apocalíptica da história dos Wild Ones.

Revolucionário? De forma alguma. Mas é mais uma evidência que não apenas o underground esconde excelentes pérolas, mas o mainstream também é composto de ótimas bandas.

Nota 9



Faixas:
1. Exordium

2. I Am Bulletproof

3. New Year's Day

4. F.E.A.R. Transmission 1: Stay Close

5. Wretched and Divine

6. We Don't Belong

7. F.E.A.R. Transmission 2: Trust

8. Devil's Choir

9. Resurrect the Sun

10. Overture

11. Shadows Die

12. Abeyance

13. Days Are Numbered

14. Done for You

15. Nobody's Hero

16. Lost It All

17. F.E.A.R. Transmission 3: As War Fades

18. In the End

19. F.E.A.R. Final Transmission

Por Rodrigo Carvalho

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