26 Bandas para o Matias: G de Grand Funk Railroad

Quando era um adolescente em Espumoso, pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul onde nasci e meus pais residem até hoje, o acesso à música e aos discos era muito diferente do que é hoje em dia. Você não sentava na frente de um computador, digitava o nome de uma banda e ouvia o que ela tinha produzido. Isso não existia. Pra falar a verdade, nem computadores existiam ainda em meados da década de 1980 no interior gaúcho.

Nesse cenário, a troca de informações, os bate-papos, as conversas entre quem gostava de música, eram a principal fonte para conhecer novas bandas e se aprofundar naquelas que faziam as nossas cabeças. E nessa realidade, um dos caras que mais me influenciou e abriu portas no mundo do rock, me apresentando sons, discos e grupos, foi o Dóda. Ele era bem mais velho do que eu - sei lá, uns dez anos ou mais - e trabalhávamos juntos no Banco do Brasil, ele como funcionário e eu como menor aprendiz. O Dóda tinha uma grande coleção de discos que me fascinava e, além disso, uma aparelhagem de som que me deixava maluco. Com esse equipamento fazia festas na cidade, festas essas que eu frequentava e ficava absolutamente encantado com os sons que rolavam.

A nossa amizade fez com que nos aproximássemos bastante. E essa aproximação fez com que ele se transformasse em uma espécie de guru destes meus primeiros anos na música, como colecionador de discos. Essa relação evoluiu ao ponto de, nas festa que o Dóda colocava som, eu passar a discotecar antes de ele chegar. Cuidava dos pratos, dos discos, colocando música atrás de música e sentindo a vibração do povo com as escolhas que fazia. Aprendi demais, me sentia no paraíso.

E uma das canções que o Dóda tocava e que de imediato me chamou a atenção era uma longa e cadenciada faixa que começava com um diálogo, em inglês, entre diversas crianças. Lembro que eu e meus amigos, quando ouvíamos a introdução, já comentávamos, em um momento meio Beavis & Butt-Head: “Uuuuhhh, a das criancinhas, que sonzêra!”. Essa música era “I Can Feel Him in the Morning”, de uma banda norte-americana chamada Grand Funk Railroad. Em pouco mais de sete minutos, ela nos tirava do mundo, nos apresentava uma realidade inédita, mais colorida e habitada por seres sempre diferentes. Cada audição era diferente, revelando novas sensações, visões e contatos com outras dimensões.


“I Can Feel Him in Morning” foi a minha porta de entrada para o universo do Grand Funk. Foi com ela que me interessei pelo trio. E esse interesse se aprofundou quando, não lembro bem por qual motivo, o Dóda acabou deixando duas grandes caixas abarrotadas de LPs comigo. Dentro delas havia vários discos interessantes, mas os que viraram os meus olhos foram os do Grand Funk que encontrei ali. Estavam na caixa o vermelhão de 1969, o Closer to Home (1970), o Survival (1971 e que tem "I Can Feel Him in the Morning"), o E Pluribus Funk (1971), o Phoenix (1972) e o Born to Die (1976). Ouvia esses discos direto, sem intervalo, sem pressão, sem respirar, como se nada mais importasse no mundo. E realmente nada mais importava, apenas o bem que aquela música me fazia.

Um tempo depois, já na faculdade, estava na loja de discos que frequentava em Passo Fundo e onde meus amigos trabalhavam quando, em um papo sobre discos, comentei que tinha comprado o Wonderwall Music (1968), primeiro disco solo do George Harrison, e não tinha gostado nada daquele som experimental. Um destes meus amigos, o Beto (que hoje vocês conhecem como o vocalista da Cachorro Grande), comentou que queria fazer negócio e a gente podia fazer uma troca. Conversando, não sei como o Grand Funk Railroad entrou no papo, mas lembro que ele falou que tinha um álbum da banda em uma versão importada. Fechei o brique sem nem ao menos saber de que título se tratava.

No outro dia, levei o meu Wonderwall e o Beto me trouxe o We’re an American Band (1973) em LP amarelo, importado. Nunca tinha ouvido esse álbum até então, mas foi só colocar a agulha no vinil para a fascinação pela banda voltar com toda força. Com apenas oito músicas, começando na faixa-título e terminando em “Loneliest Rider”, logo aquele disco amarelo se tornou o meu favorito entre todos do GFR. E, pra acompanhar o pacote, o encarte ainda tinha uma foto surreal dos músicos nus no meio de uma suspeita e saudável plantação de uma certa erva verde.

Hoje, volta e meia os discos do Grand Funk retornam para o meu aparelho de som. Lá em casa, a banda nunca saiu de moda. E o We’re an American Band ganhou status de um dos discos da minha vida, sempre trazendo memórias afetivas, de pessoas e de lugares, toda vez que o coloco para rodar.

O Matias ainda não parou para ouvir o GFR. Mas, fã de bateria como é, tenho certeza de que irá gostar. Aliás, a porta de entrada do meu pequeno para o som da banda pode ser exatamente a música que dá nome ao meu disco favorito do grupo.

Tá aí um dos funks que eu faço questão que o meu filho conheça:



Por Ricardo Seelig

Comentários

  1. Sem palavras pra expressar algo sobre essa banda!! O Grand Funk tambem entrou na minha alma na 1º vez que vi a capa de um de seus disco em um site de downloads de disco antigos. Menino de sorte o Mathias!!!

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  2. Minha lista:
    AC/DC
    Black Sabbath
    Creedence
    Deep Purple
    Electric Wizard
    Free
    Grand Funk Railroad

    Para quem tiver um filho gay: kkkkkk
    Angra
    Bullet For My Valentine
    Coldplay
    Deftones
    Edguy
    Foo Fighters
    Goo Goo Dolls

    Quem quiser rasgar a calcinha, vá em frente auhahuha

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  3. Minha lista

    Black Sabbath
    Motorhead
    Grand Funk Raildoad
    Deep Purple
    AC/DC
    Slayer

    Atual

    Spiritual Beaggars
    Wooden Shjips
    Greenleaf
    Black Mountain
    the mushroom river band

    essas bandas são foda demais!!!

    Pow..Thiago M

    Deftones tem um som bom, cara! 1º album ate o 3º são foda!!!

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  4. Ótimo post.
    Me divertindo muito aqui.

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