Kylesa: crítica de Ultraviolet (2013)


A mais velha cidade do estado americano de Georgia e uma região aonde a industrialização e os centros históricos estão separados apenas por algumas ruas, Savannah também tem se destacado nos últimos anos por se revelar o berço de toda uma nova geração de bandas nos Estados Unidos.


Entre bandas de punk, progressivo, stoner e, mais notavelmente, sludge, representada por nomes como Black Tusk e Baroness, o Kylesa se destacou pela forte presença vocal da guitarrista Laura Pleasants e por contar com dois bateristas em sua formação, contribuindo em muito para os aspectos imundos dos ritmos que eles constroem. Em 2013, a banda lança Ultraviolet, o seu sexto trabalho de estúdio, o terceiro pela Season of Mist (gravadora que tem catalogado alguns dos mais ascendentes artistas da última década, aliás), representando uma mudança em sua forma de funcionamento e raciocínio na composição.


Apesar da pouca duração, “Exhale” não apenas é um ótimo documento de apresentação para o álbum, como também apresenta algumas de suas mais interessantes características: a união da sujeira empoeirada do sludge com esfumaçados toques de stoner e psicodélico, além do sutilmente presente progressivo. A produção, ainda mais suja do que o habitual (se é que isso era possível, sem parecer uma colmeia enfurecida) acaba por criar uma interessante aura ao fazer o contraponto com a voz surpreendentemente hipnótica adotada por Laura Pleasants, como pode ser ouvido na cadenciada “Unspoken” e na confusa “Grounded”, dona de um dos riffs mais Sabbathicos do álbum.


Com uma esquisita base etérea, “We’re Taking This” soa quase como uma viagem transcendental de ácido até uma garagem apertada nos subúrbios de Savannah, em meados da década de noventa. No mesmo pé, “Long Gone” segue por ritmos ainda mais arrastados e distorcidos, aonde as vozes funcionam mais como um ingrediente atmosférico, em combinação com os ruídos, bem diferente de “What Does It Take”, aonde eles parecem retornar um pouco às origens punk hardcore do Damad, o embrião que se tornaria o Kylesa anos mais tarde.


Voltando ao lado mais psicodélico do som dos americanos, “Steady Breakdown” deixa aquela ligeira sensação flutuante, esbarrando por diversos momentos no melhor que o space rock tem a oferecer. Estes elementos se mantém no loop de “Low Tide”, dominado pelas vozes do guitarrista Phillip Cope, que parecem afundadas na água.


“Vulture’s Landing” novamente mistura stoner, punk e muita lama, aonde os timbres quase adolescentes na forma como Laura canta são suplantados pela sensação claustrofóbica em cada riff. A sensação de desespero permanece na curta e arrastada “Quicksand”, e também em “Drifting”, como era de se esperar (a julgar pelos títulos), encerrando o curto álbum com uma sonoridade que lembra, ainda que vagamente, a sonoridade dos seus conterrâneos do Baroness.


Ao compararmos Ultraviolet com os últimos trabalhos da banda, é notável que a mudança no método de composição e gravação no álbum abriu a oportunidade para que todos colaborassem, resultando em um álbum ainda mais variado e heterogêneo, com influências que oscilam ao longo de cada uma das faixas e criam uma verdadeira viagem ácida de pouco mais de trinta minutos.


Se é o suficiente para levar o som do Kylesa para um público maior, a exemplo do que vem ocorrendo com outras bandas semelhantes em estilo e experimentos? Talvez. Mesmo mantida a sujeira primordial da sua sonoridade, a exploração de novos timbres proporcionou um álbum rico e diferenciado. A principal questão é que, aparentemente, esse não é nem de longe o limite até onde a banda pretende ir.


Nota 7,5


Faixas:
1. Exhale
2. Unspoken
3. Grounded
4. We're Taking This
5. Long Gone
6. What Does It Take
7. Steady Breakdown
8. Low Tide
9. Vulture's Landing
10. Quicksand
11. Drifting


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

Comentários

  1. Porra, eu já lamentava altos discos que passaram batidos e vcs não falaram. Aí, chego aqui e tem essa resenha. Gostei demais. Se puder fazer uma fila, joguem aí na pauta:

    A Pale Horse Named Death - Lay My Soul To Waste (2013)/

    Ben Harper & Charles Musselwhite - Get Up! (2013)/

    Deap Vally - Sistrionix (2013)/

    Ótimo sempre citar bandas parecidas ("representada por nomes como Black Tusk e Baroness"). Já vou atrás desse BT.

    Kylesa eu acho melhor que Baroness, mas o stoner mais elite atual, pra mim, é o Red Fang. E estou esperando a nova banda aí no Kyuss Lives. Mas Red Fang realmente supre, na minha opinião, com todo o aparato de ser um stoner de qualidade e ainda de desenvolver o gênero sem ficar acomodado na preguiça de uma fórmula (que eu acho o problema do Baroness e de todas as bandas pós-Kyuss e e pós-QOTSA). Outro elemento é que uma voz feminina no stoner é algo pouco explorado. E é um feminino meio ambíguo que não é ela coisa mocinha e tu fica sem saber se é homem ou mulher cantando.


    O Kylesa não é uma banda que vai salvar a sua vida ou vc vai ter 60 anos e vai olhar pra sua juventude e vê-los como trilha sonora de algum momento seu ... Mas é, sim, em 2013, um entretenimento de primeira pra mim. E uma ótima opção de stoner. Conheci os caras aqui no blog, não sei se era post ou comment de algum brother ....

    Obrigado pela resenha ... vcs sempre me GUIAM muito nos lançamentos e nas escutas aí ....

    Falou

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  2. Esse álbum é um dos meus preferidos de 2013. Com ele que passei a ouvir o Kylesa, e agora já estou curtindo muito o anterior, que é tão bom quanto este Ultraviolet.

    obs: Black Tusk é zoado!

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  3. Eu estava esperando muito por uma boa resenha desse álbum, ou seja, uma resenha aqui da Collector's room.

    Assim como o Patrick, eu também conheci o Kylesa pelo Ultraviolet, qual acabou se tornando um dos meus álbuns favoritos deste ano. Mais 7,5 achei uma nota muito baixa. Um 8 acharia justo, não discordo da resenha em si, apenas a nota me deixou confuso, pois quando vi o post já vim pensando em algum número maior que 7,5.

    Mesmo assim Rodrigo continue com o ótimo trabalho e espero que traga mais destes álbuns de bandas um tanto quanto desconhecidas.

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  4. Pô, eu que tenho que agradecer pelos comentários - essa interação é o que de melhor ocorre por aqui, e não raramente acabo descobrindo várias bandas novas!

    Concordo com o que foi dito aí, realmente, o Kylesa pode não ser algo que vá marcar a vida de forma tão profunda (disso isso no meu caso), mas vem lançado coisa boa atrás de coisa boa, e é sempre legal ouvir o material deles.

    Valeu mais uma vez!

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