Powerwolf: crítica de Preachers of the Night (2013)



Era uma vez, há muito muito tempo, um sujeito chamado power metal. Power metal era um ser um tanto quanto peculiar: sempre de forma fantasiosa e exibicionista, ele adorava contar por aí sobre suas gloriosas aventuras e os perigos lendários superados em suas viagens pelos mundos. No começo, muitos gostaram dele e paravam atentos para ouvir qual seria a nova estripulia da vez, e, por mais que as más línguas continuassem a achar tudo aquilo uma tremenda mentira (e das mal contadas), o power metal praticamente reinou absoluto durante eras.


Porém, vítima de si mesmo, o tempo foi passando, e as pessoas começaram a perceber que havia algo de errado com ele. Tornou-se repetitivo, como se as mesmas jornadas épicas estivessem sendo contados à exaustão, e de forma muito mais desinteressante. Assim, cada vez menos vinham para ouvir as suas outrora famosas aventuras.


Começaram os tempos negros para o power metal, que cada vez mais se tornava esquecido ao ostracismo. Recluso, lembrado tanto com nostalgia quanto sendo motivo de piada, a impressão é que nada nunca mais seria o mesmo.


Até que...


Da escuridão em que se encontrava, surge em 2003, na histórica Saarbrücken, o Powerwolf: um grupo que tem se destacando por trazer o mesmo furor da grande era do estilo, mas com diferentes temas, deixando as honradas guerras e dragões de lado e mirando as próprias trevas, e não uma saída dela. E a sua nova obra, Preachers of the Night, é mais um capítulo dessa saga.


Iniciando o álbum já com os seus marcantes trocadilhos infernais, “Amen & Attack” se mostra um power speed metal até o osso combinado com o sempre presente sentimento épico, acabando por resultar em um híbrido entre o som do Rhapsody com o clássico Running Wild. “Secrets of the Sacristy” segue por outro caminho, mais melódico e calcado no heavy tradicional, próximo ao que o Helloween tem feito nos melhores momentos de seus últimos álbuns, enquanto a morbidamente bem humorada “Coleus Sanctus” fica entre o metal em seus primórdios com o característico e onipresente church organ nos riffs desses alemães.


Muito parecido com os rumos do estilo recentemente, “Sacred & Wild” e “Kreuzfeuer” seguem em ritmos ainda cadenciados, com a diferença de que a primeira traz boas doses daquele hard tipicamente germânico, enquanto a segunda é dominada por uma atmosfera soturna, próxima de outras vertentes, como o gothic e o black metal.


“Cardinal Sin”, porém, retoma a velocidade e as estruturas já conhecidas no som do Powerwolf, e assim como na agressiva “In The Name Of God (Deus Vult)” e na quebrada “Nochnoi Dozor” soam como o típico power metal envolto por uma aura de ocultismo (ou seria cultismo?), um de seus grandes diferenciais.


O mesmo pode ser dito de “Lust For Blood” e “Extatum et Oratum”, que são ótimas faixas no que diz respeito em melodia e proposta, mas que no fim das contas soam bem parecidas com as anteriores, por mais que não comprometam de forma alguma o andamento do trabalho. Os arranjos de órgão tomam a frente em “Last of the Living Dead”, o atmosférico encerramento do álbum, exemplificando de forma ainda mais latente as suas tendências teatrais.


Algumas questões sobre Preachers of the Night são inegáveis: o que o Powerwolf lançou em seu novo trabalho não difere de forma espantosa de seus álbuns anteriores em nenhum aspecto. Talvez, aos pouco familiarizados com o estilo, de fato, as músicas podem soar completamente iguais e uma repetição interminável da mesma proposta – e esse é um sério problema quando uma banda consegue criar uma ideia musical relativamente nova.


Porém, a grande diferença está em como essa proposta é executada pela banda, e os alemães conseguem fortalecer ainda mais as suas características, moldando-as com o passar do tempo de acordo com a sua própria imagem, apresentações ao vivo e todos os aspectos teatrais que acompanham a música (ok, pode ser bem galhofa, mas ainda assim saiu do mar de obviedade em que o estilo se encontrava). E nesse fator, eles são impecáveis: a utilização do church organ como instrumento condutor e responsável pelos detalhes em cada faixa, e a diferenciada voz de Attila Dorn, são determinantes na construção da sua identidade.


Seria exagero dizer que o Powerwolf pode ser o alicerce para a reconstrução de um gênero inteiro. Eles estão mais para um uivo solitário no meio da noite, quando os mais acomodados preferem manter-se no mesmo lugar, com medo do desconhecido.


Nota 8


Faixas:
01. Amen & Attack
02. Secrets of the Sacristy
03. Coleus Sanctus
04. Sacred & Wild
05. Kreuzfeuer
06. Cardinal Sin
07. In The Name Of God (Deus Vult)
08. Nochnoi Dozor
09. Lust For Blood
10. Extatum et Oratum
11. Last of the Living Dead


Por Rodrigo Carvalho, do Progcast

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