Farscape: crítica de Primitive Blitzkrieg (2013)


Concentra-se atualmente no Rio de Janeiro a melhor safra de bandas brasileiras voltadas ao underground do heavy metal. Se antes já coube a Minas Gerais e São Paulo ocupar posto de destaque no cenário nacional fornecendo os principais nomes do thrash, death e black, dentre outros gêneros, hoje é difícil apontar quem possa rivalizar com o estado que detém a maior densidade demográfica do Brasil. Apesar dos problemas pontuais comuns a tantas outras localidades - falta de casas para shows e público disperso, por exemplo -, a cena fluminense se sobressai pela qualidade - e quantidade também - da produção local.

Apokalyptic Raids, Grave Desecrator, Whipstriker, Atomic Roar, Hellkommander, Flageladör, Sodomizer, Deaf Kids, Bestial Curse, The UnhaliGäst, Coldblood e Diabolic Force são apenas alguns dos que figuram na linha de frente e fazem do Rio um estado maior, musicalmente falando. Soma-se a essas, no entanto, uma banda em especial: Farscape.

Formado em 1998 e completando, portanto, 15 anos de estrada em 2013, o Farscape pode ser considerado, ao lado de Bywar e Blasthrash, o grande mentor do resgate da sonoridade old school do thrash metal no Brasil. Violator, ligeiramente depois, completa o quarteto que orquestrou tal revival e até já falamos disso por aqui. Tal aniversário marca o lançamento de Primitive Blitzkrieg, que saiu em maio e é o terceiro full-lenght dos cariocas.

Mesmo envolvidos também com boa parte das bandas supracitadas, Léo Witchcaptor (guitarra e vocal), Victor Poisonhell (guitarra), Victor Whipstriker (baixo) e Pedro Skullkrusher (bateria) tiraram tempo para perpetuar a história do Farscape e é isso que fazem no novo trabalho.

Gravado no estúdio Ultra Violence, no Rio, e lançado pela Kill Again Records, de Ceilândia, no Distrito Federal, Primitive Blitzkrieg é calcado nos pilares do thrash 80's, especialmente na escola alemã do estilo - Kreator, Sodom, Destruction, Assassin etc. Curto e grosso, vai direto ao ponto em pouco mais de 33 minutos distribuídos em nove faixas.

O grande diferencial são as doses generosas de punk/crossover e NWOBHM destiladas ao longo do play. Assim como em Killers on the Loose (2006), fica nítida a devoção dos quatro integrantes para com as bandas britânicas que fizeram a transição do heavy metal na virada entre as décadas de 70 e 80. O mesmo vale aos grupos que lá atrás mostraram ser possível inserir a urgência juvenil do punk no metal. De Thin Lizzy à Warfare, de Tigers of Pan Tang à GBH. Passando, claro, por Discharge, Toxic Holocaust e Children of Technology. Há espaço para tudo isso no som do Farscape.

Porém, como os quatro integrantes desenvolveram projetos paralelos e canalizam tais influências também em bandas como Whipstriker, Atomic Roar e Hellkommander, a inserção desses elementos se dá de forma moderada. Isso faz de Primitive Blitzkrieg um álbum talvez não tão inspirado quanto o anterior, Killers on the Loose, mas o deixa muito mais homogêneo. Algo bem mais próximo da estreia em Demon's Massacre (2003). E aí a preferência vai do gosto de cada um, sendo difícil apontar qual o melhor.

"Palace of Bones" e "Sucked into Another Reality" trazem vocais na linha Mille Petrozza e são os grandes destaques ao lado de "Behind the Sweet Mask", totalmente metalpunk, das doentias "Morbid Convent" e "Dr. Death", além de "Night Tripper", a mais NWOBHM do disco e uma espécie de prima de "Thrash Until You Drop", melhor música de toda trajetória da banda.

Após sete anos soltando somente ep's e splits, o Farscape está de volta com um eficiente álbum completo. Por outro lado, talvez se esperasse um pouco mais de Primitive Blitzkrieg. Um salto maior de qualidade pelo cacife que a banda já demonstrou ter. Os pontos baixos são poucos e se restringem à produção, que peca por não evidenciar tanto o ótimo trabalho de guitarra, e às letras, que alternam momentos bem sacados, como em "Nigth Tripper", e outros menos privilegiados e até primários, como em "Homicidal Explosion", a mais fraca do track list.

Ainda assim, o que se tem é um disco muito bacana. Se Primitive Blitzkrieg não vai direto para o topo da discografia do Farscape, certamente cumpre bem o papel de explicitar a predileção da banda pelo thrash direto e sem firulas, além de ampliar consideravelmente o belo legado desses quatro carrascos do metal.

Nota: 8


Faixas:

1 Palace of Bones 3:52
2 Fallen Household 3:47
3 Behind the Sweet Mask 3:12
4 Morbid Convent 3:51
5 Sucked Into Another Reallity 3:39
6 Homicidal Explosion 4:49
7 Dr. Death 3:21
8 Night Tripper 3:52
9 Primitive Blitzkrieg 3:05

Por Guilherme Gonçalves

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