Top 2013 Collectors Room: os melhores do ano segundo Márcio Grings

O Grings é parceiro de longa data da Collectors. Diversos textos seus estão aqui no site, onde o jornalista, radialista e escritor gaúcho desfila o seu conhecimento avantajado sobre música. Amigo dos bons sons, Grings revela abaixo os seus preferidos de 2013.

Com essa lista, encerramos o nosso Top 2013. Esperamos que vocês tenham gostado. Ainda hoje, colocaremos no ar o resultado final da nossa eleição, revelando quais foram os melhores discos do ano segundo a Collectors Room. Fiquem ligados!

Rinoceronte – O Instinto

Assim como o animal que inspirou o seu nome, o grande mamífero perissodátilo de pele espessa e pregueada, que possui um ou dois chifres sobre o nariz, a Rinoceronte (banda) também pode ser considerada um peso pesado do pedaço. O Instinto, segundo disco dessa banda de Santa Maria (RS), postula no alto do pódio por motivos óbvios. O som feito pelo trio formado por Paulo Noronha (voz e guitarra), Vinícius Brum (baixo e voz) e Alemão (bateria), é uma ilha no universo do rock nacional. Ah, e eles ainda lançaram o play em vinil! Nuances de stoner rock, forte influência no som pesado dos anos 1970 e uma digital única que pode ser conferida em canções como “Chemako”, “As cores” e na faixa-título.

Tedeschi Trucks Band – Made Up Mind

Esse é um daqueles discos que nos enchem de alegria. Basta ouvir os segundos iniciais da faixa homônima para você concluir que está na trilha não apenas de um dos melhores discos do ano, mas da década. Formada por uma reunião de músicos de primeira linha, o casal Susan Tedeschi e Derek Trucks (Allman Brothers) comanda as operações apresentando uma aula de blues, rock, soul e até mesmo pop, mas tudo isso com aquela dose de equilíbrio pertencente aos artistas que sacam do cortado. Se Derek é considerando um dos melhores guitarristas da atual geração, Susan não fica para trás, impossível não relacioná-la como um dos destaques da voz feminina do blues/rock. Ouça “Whiskey Legs” e tire a prova. Destaque para a (contraditória) leveza de “It’s So Heavy”, para a ‘MarsallTuckeriana’ “Idle Wind” e “Sweet and Low”, um daqueles blues de chorar no cantinho.

Laura Marling – Once I Was An Eagle

Nenhum trabalho me impressionou tanto nos últimos tempos. As primeiras quatro músicas de Once I Was an Eagle estão tão bem entrelaçadas que mal podemos saber onde começa uma e termina outra. Ao menos que você as ouça em LP, olhando para o vinil na sua frente. Nesse álbum, a britânica Laura Marling distancia-se do pop e se aproxima ainda mais do folk e da introspecção. A grosso modo dá pra dizer que ela soa como uma mistura de Tim Buckley com Joni Mitchell, por mais estranho que isso possa parecer. Aquela estranheza bonita, entende? “Once” explica em partes o que acaba de ser dito. “Little Love Caster” parece um tema mexicano salpicado de dor e “Devil’s Resting Place” não passa de uma cantiga cigana desesperada. A narrativa de “Undine” nos tira o fôlego. Um disco com cheiro de inverno e repleto de silêncios, com ecos de solidão e feito para ser ouvido como uma cantilena a beira de uma fogueira.

Willie Nelson – To The All Girls

Willie Nelson é um artista a ser estudado. 80 anos nas costas, 143 shows em 2013 e cerca de 74.000 km percorridos de leste a oeste dos Estados Unidos. E a produção do vovô não dá a mínima pinta de cessar. To The All Girls, seu álbum de duetos, é uma mostra desse poder de reinvenção. Mesmo quando apresenta versões batidas de canções exploradíssimas em sua discografia como “Always On My Mind”, ou ao reinventar o clássico do Creedence “Have You Ever Seen the Rain”, Nelson consegue nos surpreender com novas e criativas abordagens. Poucos conseguem manter esse pique. E rodeado de tanto talento feminino, esse velho tarado definitivamente está em casa.

Black Sabbath – 13

Um dos lançamentos mais esperados de 2013 não decepcionou. 13 pode não ter sido uma unanimidade quanto à produção de Rick Rubin, assim como também pode não ter aquela unidade perceptível nos primeiros discos com Ozzy, mas está longe de ser um trabalho medíocre. Bem pelo contrário, há muito a ser celebrado. Os riffs de Iommi continuam matadores, a voz de Ozzy parece revigorada e canções como “Age of Reason”, “God is Dead?” e “End of Beginning” não fizeram feio no setlist das apresentações (frente aos clássicos dos velhos tempos). E de quebra, o velharedo ainda nos deu um dos melhores shows do ano.

Elton John – The Diving Board

Se existe alguém que redescobriu seu verdadeiro som nos últimos tempos, esse cara é Elton John. Desde Songs From the West Coast, Eltinho parece ter desembaraçado o fio da meada, numa carreira que estava atravancada desde meados dos anos 1980. The Diving Board já começa emocionante com “Oceans Way”, uma canção que cheira a Elton John e Bernie Taupin. Um disco despojado de requinte, piano na linha de frente antecipando melodias muitas vezes amargas, temas que certamente não serão ouvidos nas FMs. Candidato e capa do ano, The Diving Board é uma obra maiúscula que consegue fazer o que muitos álbuns de Elton não conseguiram nos últimos trinta anos – retornar aos melhores momentos dos 1970. Ouça “Mr. Quicksand”, “Can’t Stay Alone Tonight” e você entenderá perfeitamente o que digo.

Mavis Staples – One True Vine

Coloque a Bíblia ao lado do toca-discos. Depois de ganhar um Grammy com o álbum You Are Not Alone (2010), uma das vozes mais poderosas da música negra, Mavis Staples, lançou um novo disco digno de figurar entre os grandes da música gospel. Esse é o segundo trabalho de Mavis com produção de Jeff Tweedy (Wilco), que também compôs três temas para One True Vine. O catecismo de Mavis pode tanto nos derrubar ou energizar, dependendo do estado de espírito de cada um, mas uma coisa é certa: impossível ficarmos impassíveis a esse conjunto de canções.

Paul McCartney – New

Macca trabalhou em silêncio e só soubemos desse novo trabalho quando o play já estava prestes a ser lançado. New é um disco que mostra o Beatle muito à vontade, fazendo o que sabe: música de altíssima qualidade. E há um punhado de boas canções que agradam tanto ao fã mais ortodoxo quanto a nova geração. Destaque para “Save Us”, “On My Way to Work”, “Early Days” e “Get Out of Here”. Não é nenhum Chaos and Creation in the Backyard, mas novamente Paul nos mostra do alto de seus 71 anos que continua louco para bater uma bolinha.

Madeleine Peyroux – The Blue Room

Se a crítica malhou The Blue Room, pouco importa. Madeleine Peyroux sempre me emociona. Para compor o espírito do novo trabalho, a diva se inspirou em Modern Sounds of Country and Western, clássico de Ray Charles lançado em 1962 – quatro temas do disco de Charles foram revisitados pela cantora. Esse lance de abordar clássicos da música caipira (ou similares) com o espírito do jazz, continua rendendo um caldo. Dá pra perceber o barato do enlace em “Taking These Chains”, “Changing All Those Changes” e “I Can’t Stop Loving You”. Orquestrações na medida, aquele clima “slow” e a voz de uma das melhores cantoras da atualidade garantem a satisfação na audição. E tem um lance fundamental: Madeleine não tem medo de soar pop. E isso acaba fazendo toda a diferença no resultado final.

Gustavo Telles – Eu Perdi o Medo de Errar

Quando conheci o álbum de estreia de Gustavo Telles, confesso que fiquei semanas ouvindo o CD no carro, em casa, no fone de ouvidos, em qualquer lugar que parasse para ouvir música. Se o segundo trabalho do ex-Pata de Elefante não é tão empolgante como o anterior, bueno, isso é culpa dele mesmo que nos deixou mal acostumados. Já em Eu Perdi o Medo de Errar, Telles se distancia um pouco da veia country rock e se aproxima do soul, no entanto, o clima romântico das letras continua imperando. Destaques para a (quase) ecumênica “Tudo Vai Ficar Bem”, o hino anti-nostalgia “A Dor de Morrer” (a melhor do disco) e para “Na Sua Solidão”, única pérola genuinamente country de um disco raro no mercado nacional. O CD pode ser baixado gratuitamente por este link.

Comentários

  1. Gostei dessa lista. Saiu da mesmice e me mostrou discos que eu fiquei a fim de ouvir. Basicamente nenhuma outra lista desse ano tinha feito isso pra mim.

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  2. Fiquei instigado a ouvir os discos nacionais da lista.

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  3. Lista interessante!! Apesar de ser mais fã de Hard Rock e Heavy Metal, sempre ouço coisas diferentes e quero ampliar meu horizonte musical.

    Eu fiz minha lista, bem menos eclética, mas vale a intenção.

    http://itselektric.blogspot.com.br/2013/12/os-melhores-albuns-de-rockmetal-de-2013.html

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  4. Me motivou também nos nacionais.
    Procurando em 3, 2, 1.....

    Hey, a lista dos funcionários da Roadrunner, agora saiu da Subpop. Não sabia que as gravadoras faziam isso. Que louco!

    http://www.subpop.com/channel/blog/sub_pops_2013_ahem_top_ten_lists

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  5. Voltei pra dizer que esse disco do Rinocerontes é uma beleza! Agora falta ouvir o do Gustavo.

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  6. GRINGS é um fera que ha decadas trabalha com musica, esse entende da coisa, conheci essa figura qdo ainda ele trabalhava em uma loja de CDS, ele sempre indicando e conhecendo coisas novas e interessantes.

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