Nazareth: crítica de Rock 'N' Roll Telephone (2014)


Na ativa desde o período jurássico do hard rock, o Nazareth tem seu préstimo na disseminação do gênero — verdade seja dita, sempre correndo por fora, comendo poeira para nomes do primeiro escalão. Apesar disso, deixou a sua marca em canções que fizeram história, como “Love Hurts”, “Hair of the Dog” e “Where Are You Now”. Por falar em história, a do Nazareth sofreu uma tremenda reviravolta nos últimos tempos: impedido de excursionar sob o risco de empacotar em cima do palco, o vocalista Dan McCafferty se afastou de vez da música. Temos aqui, portanto, o seu canto do cisne. 

Rock 'N' Roll Telephone tem uma receita musical tão simples que eu não duvido que um ou outro por aí acusem a banda de ter gasto pouco tempo desenvolvendo as 11 canções de seu repertório. Só que manter tudo o mais elementar possível tem seus contras, e o principal deles interfere na experiência que o disco proporciona. Do início ao fim, é como se estivesse faltando algo; como se a gravação multicanal tivesse dedicado um apenas para registrar um vazio sonoro que cria um abismo entre a cozinha e o primeiro plano, onde a guitarra, tão preponderante no passado do grupo, soa mera coadjuvante. 

É difícil estabelecer parâmetros quanto a performance de Dan, pois não é de hoje que a sua voz respira com a ajuda de aparelhos. Obviamente, há momentos em que o peso da camisa vira o placar, mas, no geral, são situações que você aplaude mais em respeito do que qualquer outra coisa. Imagine a cena: festa de família com karaokê e seu tio, que é um cinzeiro humano, assume o microfone. Na primeira nota mais alta, dana a tossir e pede penico. Quem se atreveria a jogar a primeira pedra? 

A minha preferida, “Not Today”, tem alicerce metálico com vigas grossas e pesadas; o timbre da guitarra é aspero e a melodia, somada a interpretação canastrona de Dan, exala legítima perversão. “Speakeasy” é outro grande momento; canção festiva com refrão cativante, bem nos moldes de L.A. Nos acréscimos, “God of the Mountain”, que é um potencial número de encerramento de show — o refrão “Sky high praise the God of the Mountain”, repetido à exaustão, permite boa interação com a plateia. Mas é só, e é pouco — pelo menos na minha opinião. 

Deve se levar em conta que um novo capítulo foi aberto na história do Nazareth. Com a benção do próprio Dan, o grupo segue com um novo vocalista, Linton Osborne, de 41 anos. E o que não falta no rock são exemplos de como a injeção de sangue novo nos mais velhos ajuda a retardar o envelhecimento, certo? Que a cabine telefônica indo pelos ares consiga, sobretudo, preparar o terreno para o novo Nazareth, pois uma despedida, no mínimo, digna, a Dan McCafferty ela já assegurou. 

Nota: 6 

01. Boom Bang Bang 
02. One Set of Bones 
03. Back 2B4 
04. Winter Sunlight 
05. Rock ‘n’ Roll Telephone 
06. Punch A Hole In The Sky 
07. Long Long Time 
08. The Right Time 
09. Not Today 
10. Speakeasy 
11. God Of The Mountain 

Por Marcelo Vieira

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