Na ativa desde o período jurássico do hard rock, o Nazareth tem seu préstimo na disseminação do gênero — verdade seja dita, sempre correndo por fora, comendo poeira para nomes do primeiro escalão. Apesar disso, deixou a sua marca em canções que fizeram história, como “Love Hurts”, “Hair of the Dog” e “Where Are You Now”. Por falar em história, a do Nazareth sofreu uma tremenda reviravolta nos últimos tempos: impedido de excursionar sob o risco de empacotar em cima do palco, o vocalista Dan McCafferty se afastou de vez da música. Temos aqui, portanto, o seu canto do cisne.
Rock 'N' Roll Telephone tem uma receita musical tão simples que eu não duvido que um ou outro por aí acusem a banda de ter gasto pouco tempo desenvolvendo as 11 canções de seu repertório. Só que manter tudo o mais elementar possível tem seus contras, e o principal deles interfere na experiência que o disco proporciona. Do início ao fim, é como se estivesse faltando algo; como se a gravação multicanal tivesse dedicado um apenas para registrar um vazio sonoro que cria um abismo entre a cozinha e o primeiro plano, onde a guitarra, tão preponderante no passado do grupo, soa mera coadjuvante.
É difícil estabelecer parâmetros quanto a performance de Dan, pois não é de hoje que a sua voz respira com a ajuda de aparelhos. Obviamente, há momentos em que o peso da camisa vira o placar, mas, no geral, são situações que você aplaude mais em respeito do que qualquer outra coisa. Imagine a cena: festa de família com karaokê e seu tio, que é um cinzeiro humano, assume o microfone. Na primeira nota mais alta, dana a tossir e pede penico. Quem se atreveria a jogar a primeira pedra?
A minha preferida, “Not Today”, tem alicerce metálico com vigas grossas e pesadas; o timbre da guitarra é aspero e a melodia, somada a interpretação canastrona de Dan, exala legítima perversão. “Speakeasy” é outro grande momento; canção festiva com refrão cativante, bem nos moldes de L.A. Nos acréscimos, “God of the Mountain”, que é um potencial número de encerramento de show — o refrão “Sky high praise the God of the Mountain”, repetido à exaustão, permite boa interação com a plateia. Mas é só, e é pouco — pelo menos na minha opinião.
Deve se levar em conta que um novo capítulo foi aberto na história do Nazareth. Com a benção do próprio Dan, o grupo segue com um novo vocalista, Linton Osborne, de 41 anos. E o que não falta no rock são exemplos de como a injeção de sangue novo nos mais velhos ajuda a retardar o envelhecimento, certo? Que a cabine telefônica indo pelos ares consiga, sobretudo, preparar o terreno para o novo Nazareth, pois uma despedida, no mínimo, digna, a Dan McCafferty ela já assegurou.
Nota: 6
01. Boom Bang Bang
02. One Set of Bones
03. Back 2B4
04. Winter Sunlight
05. Rock ‘n’ Roll Telephone
06. Punch A Hole In The Sky
07. Long Long Time
08. The Right Time
09. Not Today
10. Speakeasy
11. God Of The Mountain
Por Marcelo Vieira
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