Serpent Venom: crítica de Of Things Seen & Unseen (2014)

Prato cheio para maníacos por doom metal, o Serpent Venom é a prova cabal de que o gênero segue em alta ebulição, ainda que o estrondo gerado pela grande demanda occult rock tenha saturado um pouco as coisas nos últimos anos. De um lado está a música. Do outro, a estética. No entanto, por mais que ambas se entrelacem constantemente através de uma equação binária, no caso desse quarteto pesa muito mais a primeira variável. O que é salutar, diga-se.

Oriundo de Londres, um dos principais berços do doom, o Serpent Venom faz valer suas raízes. Porém, remete aos Estados Unidos a fonte primordial de influência na sonoridade da banda: Saint Vitus. Já havia sido assim quando da estreia com Carnal Altar (2011) e agora isso se repete em Of Things Seen & Unseen, lançado no final de junho. Outra referência, naturalmente, é o Black Sabbath. Warning e Pallbearer também são parâmetros válidos.

O que se ouve nos pouco menos de 50 minutos do novo trabalho é um doom metal tradicional e que se apega justamente aos conceitos fundamentais do estilo. Ao contrário de outras bandas contemporâneas, o Serpent Venom, formado em 2008, opta por não abrir tanta concessão ao experimentalismo e prefere perseguir uma rápida sedimentação de sua identidade. Algo normal para quem ainda tem menos de seis anos de estrada, mas que já mostra consistência.

Garry Rickett (vocal), Roland Scriver (guitarra), Nick Davies (baixo) e Paul Sutherland (bateria) fazem um som arrastado, mas que escapa tranquilamente da monotonia. Os riffs, pesadíssimos e com um belo timbre, puxam a lista de destaques, seguidos por uma voz característica ao gênero e que casa muito bem com a proposta. Sem invenção, a cozinha se mostra gorda e eficiente.

"The Penance You Pay" abre o disco com um riff doentio, que poderia estar em qualquer composição do mestre Tony Iommi. O ritmo marcial dificilmente se altera, mas cria um clima soturno ao fundir-se perfeitamente com a linha vocal. Em seguida vem "Sorrow's Bastard", totalmente Saint Vitus, pesada como uma bigorna e possivelmente a melhor e mais palatável em uma primeira audição. "Death Throes at Dawn" encerra a trinca inicial com maestria. Três músicas certeiras e que mostram que uma boa composição de doom metal não precisa, necessariamente, ter duração quilométrica.

"The Lords of Life" e "Pilgrims of the Sun" são as mais longas, mas nada que extrapole o bom senso. Há ainda "I Awake", interlúdio com violão acústico, "Let Them Starve", detentora do trecho mais veloz do álbum, e "Burning Free", responsável por um desfecho bastante satisfatório.

Of Things Seen & Unseen convence e se apresenta como uma grande sequência em relação a Carnal Altar, seu antecessor. Se por um lado talvez falte maior ousadia e até a presença de mais passagens rápidas, por outro o Serpent Venom compensa com desempenho inspirado, seja na execução ou no bom gosto das composições. A produção, que ficou a cargo de Chris Fielding (Electric Wizard, Capricorns, Conan, Taint, dentre outros), também é louvável.

Das coisas visíveis e invisíveis, algo é certo: ótimo disco e que, na concorrida seara do doom metal, figura fácil entre os melhores lançamentos de 2014. Ao menos até agora.

Nota: 8,5


Faixas

1 The Penance You Pay 5:26  
2 Sorrow's Bastard 6:01  
3 Death Throes at Dawn 5:34  
4 The Lords of Life 8:13  
5 I Awake 1:14  
6 Let Them Starve 4:47  
7 Pilgrims of the Sun 9:23  
8 Burning Free 7:45

Por Guilherme Gonçalves

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