King Crimson - Live at the Orpheum (2015)

Enquanto a maioria das grandes bandas de rock progressivo dos anos 1970 já encerraram as suas atividades - e as poucas que seguem se arrastam em lançamentos sofríveis, como o último do Yes - o King Crimson retorna, novamente, e continua provando a sua relevância na música. Um gigante de agora sete cabeças.

O grupo estreava em 1969 com In the Court of the Crimson King, pedra fundamental do prog e, para muitos, o mais icônico registro do gênero. A fusão de música erudita, jazz e heavy metal com um clima sombrio e experimental que abalou, e abala, até hoje quem ouve o registro.

O que diferencia a banda de qualquer outra que toca rock progressivo é a inquietação e a estranha desconstrução em relação a qualquer obra do passado. Basta notar as diferenças entre o introspectivo Islands (1971); a aproximação mais explícita com o heavy metal em Larks’ Tongues in Aspic (1973) e Red (1974); a fase new wave na década de 1980; ou quando traz influências de quem o próprio grupo influenciou - como Porcupine Tree e Tool - em The Power to Believe (2003). Com o guitarrista Robert Fripp sempre na liderança, poucas formações ficaram fixas, e a lista de músicos que já passaram pela banda tem lendas como Bill Bruford, Greg Lake e David Cross.

No line-up atual estão nomes que acompanham Fripp há algumas décadas, caso do baixista Tony Levin e do baterista Pat Mastelotto; e há também quem foi uma adição recente ao grupo, caso de Gavin Harrison (Porcupine Tree) na bateria e percussão, Bill Rieflin (R.E.M., Nine Inch Nails, Ministry) também na bateria e percussão, e Jakko Jakszyk (21st Century Schizoid Band) na guitarra e vocal. O registro marca o retorno do saxofonista Mel Collins, que foi membro do King Crimson no início dos anos 1970.

Live at the Orpheum é uma curta  demonstração dessa renovação: são apenas 41 minutos com músicas tiradas dos shows de 31 de setembro e 1º de outubro no Orpheum Theater, em Los Angeles. E "Walk On: Monk Morph Chamber Music" inicia o álbum soando como uma estranha colagem de ritmos em dois minutos e meio. São algumas curtas improvisações que têm o intuito de ambientar o ouvinte. "One More Red Nightmare" traz o trio de bateristas se revezando e acentuado os pontos mais pesados, além de Collins solando livremente no sax.

Aliás, Collins agrega e muito aqui, sendo o elemento responsável por trazer um frescor em alguns momentos mais "duros". Exemplo disto é "The ConstruKction of Light", onde o saxofonista traz rajadas de harmonias extras em meio ao duelo de arpejos técnicos do baixo de Levin, contra as melodias de Jakko e Fripp nas guitarras.

"Banshee Legs Bell Hassle" é um interlúdio de solos de bateria que serve para expor a técnica dos três músicos, mas que não acrescenta muito. Já "The Letters" transmite bem a essência melancólica e dramática da canção original, enquanto a instrumental "Sailor's Tale” evidencia um lado mais jazz, cheia de ondulações no baixo, mudanças de andamento e uma selvageria de Fripp.

"Starless", talvez o único clássico da banda aqui presente, fecha o álbum. A introdução no mellotron continua linda e misteriosa, mas a voz de Jakko decepciona por não conseguir trazer um aspecto comovente como John Wetton fazia. O clímax construído ainda é envolvente, mas o
final não é tão impactante como outrora foi.

Nota 8,5

Faixas:
1. Walk On: Monk Morph Chamber Music
2. One More Red Nightmare
3. Banshee Legs Bell Hassle
4. The ConstruKction of Light
5. The Letters
6. Sailor’s Tale
7. Starless


Por Giovanni Cabral, do Trajeto Alternativo

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