Pyramids - A Northern Meadow (2015)

Na lenda babilônica da ‘queda’ do paraíso, o abismo representa a regeneração, a redenção, a expiação e outros termos similares, significando algo como a união do humano com uma mente divina; implicando neste caminho um silenciamento do intelecto e uma entrega à consciência. Se há alguma forma de exemplificar isto musicalmente, certamente é possível que a resposta seja no som desses texanos. Ao transitar em um ambiente escuro, frio e claustrofóbico, nossos olhos e membros congelam-se e a angústia se encarrega de abraçar qualquer esforço emocional. É sim um passeio sinuoso, mas severamente construtivo.

Em 2008, o Pyramids estreava com o seu álbum auto-intitulado, misturando junto os diferentes elementos do shoegaze, post-rock, post-black metal, dark ambient, drone e experimental; seu primeiro álbum foi nada menos do que fascinante. Após o lançamento, houve uma variedade de artistas e bandas avant-garde – incluindo James Plotkin, Colin Marston e Blut Aus Nord – remixando o material do Pyramids; e tempos depois ocorreram algumas colaborações com nomes como Nadja, Wraiths, Horseback e Mamiffer, até enfim lançarem o seu segundo full-length, A Northern Meadow.

A grande e emblemática diferença no som da banda para qualquer outra, é que eles não podem ser enquadrados como uma banda de metal usando texturas shoegaze; ou uma banda emo utilizando texturas de metal; ou ainda uma banda avant-garde utilizando texturas pop, mas sim uma mistura uniforme e completa de todos os componentes.

Auxiliando o quarteto formado por M. Dean, D. William, M. Kraig e R. Loren, estão William Fowler Collins – um prolífico músico de dark ambient -, o guitarrista Colin Marston (Gorguts, Krallice) e Vindsval (Blut Aus Nord) na bateria eletrônica. A arte da capa merece destaque: uma mulher com mechas de cabelo espalhadas como tentáculos e presas na parede. Enigmática? Assustadora? Não. Apenas agonizante, suável e afrontante como uma rigidez catatônica.

“In Perfect Stillness, I’ve Only Found Sorrow” começa o álbum de uma forma fria e opressora, parecendo levar-nos a um labirinto onde os caminhos ficam cada vez mais escuros. Já em “The Substance of Grief Is Not Imaginary”, a música em si tem um pouco mais de black metal em uma forma épica, embora ainda com aqueles vocais limpos lindamente cantados. No entanto, há uma tendência de distorção no melhor estilo industrial e de amostragem que adiciona uma ‘crise’ perturbadora para esta faixa. E muitas vezes percebe-se que a utilização dos vocais ‘gritados’ – típicos do screamo – são uma inclusão para enfatizar as emoções.

Enquanto “I Am So Sorry, Goodbye”, como sugere o título, é uma canção extremamente triste e com as guitarras pingando melancolia; “My Father, Tall as Goliath” traz um trabalho com atmosferas e harmonias mais leves. “Consilience” provavelmente se encaixa no projeto de ser a ‘canção de exposição’, mostrando um pouco de tudo que o álbum já teve, mas fazendo isto de maneiras novas, menos abruptas e interessantes.

Nota 9

Por Giovanni Cabral, do Trajeto Alternativo


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