Pink Floyd e a trilha-sonora de 2001: Uma Odisséia no Espaço


Em 1968, Stanley Kubrick, diretor de cinema norte-americano, lançava o que muitos consideram até hoje a sua obra prima. 2001: Uma Odisseia no Espaço é reverenciado até hoje como um dos melhores filmes já feitos - para muitos, o melhor. Tratando sobre a evolução da nossa espécie desde seus primórdios até um futuro com robôs e viagens interplanetárias, Kubrick faz mais que um filme: promove uma obra de arte com fotografias impressionantes e uma trilha sonora espetacular. Mas você sabia que, dizem os boatos, a trilha-sonora da película poderia ter sido feita pelo Pink Floyd?

No fim de 1967 o Pink Floyd não era a sensação pela qual todos o conhecemos agora. O catálogo da banda consistia em dois singles (“See Emilly Play” e “Arnold Layne”) e um álbum de estúdio, a estreia The Piper at the Gates of Dawn. Apesar de pouco material, a banda já tinha feito duas faixas que pode ser classificadas como space-rock, “Astronomy Domine” e “Interstellar Overdrive”.


Já do outro lado da moeda, Kubrick ouvia todo tipo de música possível em busca da trilha ideal para o seu filme, fato já confirmado pelo próprio diretor numa entrevista com Jeremy Bernstein, em 1966. Por essa procura incessante de Kubrick, a sua filha já disse em entrevista que acha totalmente possível que ele tenha contatado a banda inglesa para trabalhar na trilha de 2001.

Kubrick me disse que achava que ele tinha ouvido quase todas as composições modernas disponíveis em registros, em um esforço para decidir o estilo de música que caberia no filme. Aqui, novamente, o problema era encontrar algo que soasse peculiar e distintivo, mas não tão incomum a ponto de ser uma distração. ”  - Jeremy Bernstein

Mas apesar de tudo isso parecer apenas especulação, há um forte indício de que esse contato realmente aconteceu. Em 1991, Nicholas Schaffner escreveu em A Saucerful of Secrets, uma das primeiras biografias respeitáveis do Pink Floyd, o seguinte parágrafo: "Roger Waters, ainda para recusar a associação à ficção científica, chegou a dizer que seu 'grande arrependimento' foi não ter feito a trilha sonora para 2001: Uma Odisseia no Espaço, onde partes da mesma, particularmente na longa, surpreendente e alucinante sequência perto do fim, parecem notavelmente Floydianas”. Schaffner, por algum motivo, não pôs a fonte da entrevista no livro, mas isso não impediu que diversos sites e revistas perpetuassem esse trecho como prova de que houve contato entre Kubrick e Pink Floyd para a trilha sonora de 2001


Entre tantas meias verdades, há algo muito curioso sobre esse caso. E tem a ver com a música “Echoes”, presente no sexto álbum de estúdio do Pink Floyd, Meddle (1971). A maioria de nós sabe do estranho sincronismo entre The Dark Side of the Moon (1973) e O Mágico de Oz (1939), mas esse não é o único caso desse tipo a acontecer com o Pink Floyd. Três anos depois do lançamento de 2001: Uma Odisseia no Espaço, o Pink Floyd lança o álbum Meddle, dando destaque a música “Echoes”, que com sua longa duração (23:29) ocupa todo o lado B do disco. Pois, curiosamente, se sincronizarmos a música com o quarto ato do filme, para qual Kubrick deu o nome de “Jupiter and Beyond the Infinite”, percebemos que a estrutura da canção se ajusta totalmente as cenas, até mesmo na duração. Assim chega a ser difícil dizer que a música não foi feita pensando no filme de 1968. 

Seria essa uma tentativa de Roger Waters se redimir consigo mesmo após ter se arrependido de negar o convite de Stanley Kubrick? Ou será que foi tudo mera coincidência? Acaso ou não, saímos ganhando na história, presenteados com obras de arte vindas de ambas as partes. 

Por Eduardo Palini

Comentários