Review: Childish Gambino - Awaken, My Love (2016)


Childish Gambino é o pseudônimo musical de Daniel Glover, ator e escritor norte-americano cujos trabalhos mais conhecidos são as séries 30 Rock e Girls - ah, e ele também faz a voz original do personagem Alpha Dawg em Apenas um Show e a de Miles Morales, o jovem Homem-Aranha, na animação Ultimate Spider-Man.

Awaken, My Love é o terceiro álbum de Gambino, sucedendo seus dois primeiros discos, Camp (2011) e Because the Internet (2013). No entanto, em relação aos anteriores, trata-se de um trabalho com uma sonoridade muito mais orgânica, que se afasta do hip-hop e vai em direção ao funk, ao soul e ao funk rock, explorando principalmente a estética sonora comum a esses gêneros durante a década de 1970.

O que temos aqui é um álbum conceitual, que tem como inspiração o nascimento do seu primeiro filho. Awaken, My Love usa as suas faixas para contar o relacionamento de Gambino com sua namorada, em um disco que traz uma enorme carga de um sentimento bonito e verdadeiro. Influências psicodélicas são encaixadas aqui e ali, e servem como trampolins que conduzem o ouvinte para realidades distintas. Percebe-se a herança de nomes como Funkadelic e Curtis Mayfield em diversas passagens, inspirações que só realçam o alto nível alcançado por Childish Gambino no disco.

As onze faixas contam uma história crescente e cheias de momentos marcantes. A abertura com “Me and Your Mama” já chama a atenção do ouvido, mostrando que algo bastante diferenciado está por vir. Sensual e espiritual, dançante e tocante, o disco é de uma beleza palpável. “Have Some Love” vem na escola do mestre George Clinton, assim como a sacolejante “Boogieman”. Em “Zombies" podemos encontrar referências mais contemporâneas como Maxwell, já “Redbone” é puro Prince.

A tríade final, com “Baby Boy”, “The Night Me and Your Mama Met” e “Stand Tall”, é o ponto mais alto do disco. A primeira é uma linda canção de ninar, e de amor, e de benção e agradecimento, feita por um pai para o seu filho. De arrepiar! A segunda traz um instrumental elegantemente sexy, com um bom gosto elogiável e que soa como se Jimi Hendrix e Eddie Hazel dessem ao mundo um improvável filho. Enquanto a guitarra conduz a canção, um coro celestial produz linhas vocais que harmonizam as melodias e arrepiam até o mais careca dos ouvintes. E “Stand Tall” é conduzida pelo belo vocal de Gambino e com um instrumental econômico, quase minimalista, vindo de um universo imaginativo similar ao habitado por Frank Ocean.

Awaken, My Love é um álbum confortante e ao mesmo tempo forte, que acaricia mas também dá umas espetadas bem-vindas quando necessário. Um disco em forma de relação entre um pai e um filho, cheio de momentos doces e marcantes, mas também com explosões sonoras definidoras. O fato de o álbum caminhar predominantemente por uma sonoridade que bebe muito e profundamente no funk e no rock negro setentista ajuda na degustação dos não familiarizados com a black music contemporânea, e é um convite para que apreciadores de outros gêneros aventurem-se por suas faixas.

Vale a experiência!

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