Review: Nick Lera - Nick Lera III (2017)


Ao pensarmos no rock gaúcho, os primeiros nomes que surgem são Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, DeFalla, Replicantes e alguns outros que vieram na segunda geração de bandas reveladas pelo estado e que conquistaram o Brasil - pega aí: Nenhum de Nós, Papas da Língua, Acústicos & Valvulados, Júpiter Maçã e Cachorro Grande.

No entanto, ao mensurar a influência que a geração de bandas surgida nos anos 1980 teve sobre a maneira de se fazer rock and roll no Rio Grande do Sul, uma banda está no topo e até hoje serve de referência maior pra todo mundo: o TNT. Formada em Porto Alegre em 1984 e contando com músicos como Charles Master (vocal e guitarra), Luís Henrique “Tchê" Gomes (guitarra), Márcio Petracco (guitarra), Felipe Jotz (bateria), Flávio Basso (vocal e guitarra,  futuro Júpiter Maçã), Nei Van Soria (guitarra) e outros, o quarteto construiu todos os arquétipos que são associados até hoje com o rock vindo do sul. Canções com estrutura básica, grande influência de rock inglês, refrãos fortes, o riff de guitarra como eixo principal, letras diretas e descomplicadas e inspiração clara em nomes como Beatles, Rolling Stones, The Who, The Kinks e toda a turma responsável pela invasão britânica de meados da década de 1960.

Esse legado é levado adiante por bandas como o Nick Lera. O trio formado por Fernando K. B. Lera (guitarra e vocal), Matheus Signor (baixo e vocal) e Mateus Spada (bateria e vocal) chega ao seu terceiro disco mantendo o melhor de sua identidade, mas também arriscando em novos caminhos sonoros. As dez faixas do trabalho trazem os integrantes se revezando nos vocais principais, ainda que o predomínio seja de Fernando na maioria das faixas. O rock direto e contagiante na linha de TNT dá o tom na maioria das canções, que trazem letras que falam principalmente sobre relacionamentos. Com essa pegada, os destaques vão para a grudenta “Vai Embora”, a melodia fácil de “Todas as Noites”, “O Meu Lugar” e “Hey Man”.


Como já havia feito no disco anterior, a banda varia o tom ao apostar em baladas bem construídas e que exploram uma ar mais contemplativo, como podemos ouvir na dobradinha “Sem Você” e “A Sua Ausência”. E ainda temos “Tão Feio”, que trilha as estradas do country rock com influência direta dos Cowboys Espirituais (não por acaso, liderada pelo ex-TNT Márcio Petracco).

Gostei muito do contraste entre as vozes de Fernando e Mateus. Enquanto o guitarrista segue mostrando diferentes nuances de seu timbre, o baterista conseguiu incluir uma dinâmica muito interessante com a sua voz, que possui um tom mais alto e vem com uma interpretação forte e com personalidade.

Ainda que pequenas variações na produção e nos timbres dos instrumentos sejam percebidos em uma ou outra faixa, Nick Lera III mostra uma banda seguindo atrás do seu sonho. Em um mundo que a cada dia exige mais de cada um de nós e em troca vai comendo o aspecto lúdico e sonhador tão fundamental para seguirmos em frente, ver o esforço de uma banda como Nick Lera em acreditar no seu propósito mesmo estando longe demais das capitais é inspirador. 

Rock direto ao ponto, honesto e verdadeiro: para alguns isto pode soar fora de moda, mas basta ouvir este novo álbum do Nick Lera para vermos o quanto ele ainda faz uma diferença danada em nossas vidas.


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