Minha Coleção: conheça a linda coleção de discos de Alexandre Citvaras


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome é Alexandre Citvaras, 41, sou engenheiro civil, casado com uma mulher incrível e tenho dois filhos maravilhosos. Trabalho com gestão de resíduos há quase 20 anos e coleciono LPs, CDs e livros há pelo menos 28 anos. 

A música faz parte da minha vida desde sempre. Me lembro de escutar discos de heavy metal com meus irmãos aos 7 ou 8 anos. Meus irmãos mais velhos e minha mãe foram minha principal influência inicial e sem dúvida a música foi determinante para minha formação. Já me desfiz de grandes quantidades de discos,  CDs e livros em diferentes momentos da minha vida por diferentes motivos, mas nunca deixei de pesquisar e acumular novos sons.

Algumas coisas foram fundamentais para moldar meu gosto musical. Posso dizer que meus irmãos André Citvaras e Marcelo Citvaras, o show do Kiss no Morumbi, o primeiro Rock in Rio, a Galeria do Rock e a Woodstock Discos marcaram minha infância e início da adolescência de forma inexplicável.

Quantos discos você tem em sua coleção?

Aproximadamente 3.000 LPs, 150 compactos, 150 livros sobre música e 800 CDs. Não sou de ficar contanto e catalogando tudo. Atualmente uso o Discogs para catalogar a coleção, mas estou muito defasado.

Quando você começou a colecionar discos?

Acho que aos 13 anos, pois foi o momento que comecei a notar que todos os amigos da escola me pediam para gravar fitas K7 do Appetite for Destruction do Guns e coletâneas de metal e hard rock. Neste momento a coleção era compartilhada entre eu e meus irmãos e já tínhamos algo entre 100 e 150 discos, principalmente Kiss, Iron Maiden, Scorpions, Accept, Twisted Sister, Guns N' Roses, entre outros. Acho esse momento marcante, pois é quando começo a nutrir aquele sentimento de orgulho e conforto que todo colecionador tem pelos seus discos.  

Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

O primeiro disco que comprei foi o da Turma do Balão Mágico em 1983, aos 7 anos de idade. Em casa já havia diversos discos de heavy e hard, mas todos eles eram dos meus irmãos e meu acesso a eles era limitado. Comprei o LP pois me sentia deslocado nas festas dos amigos da escola, pois todos cantavam as músicas do álbum e eu não as conhecia. Escutei uma ou duas vezes e nunca mais, não era o meu tipo de som (risos). Ele está na minha coleção até hoje. Já o segundo, não tenho a menor ideia qual foi.


Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Depois daquele momento aos 13 anos, enxergo hoje que esse processo foi contínuo. Quando entrei na Unicamp em 1994 e me deparei com um ambiente multi-cultural, a efervescência das bandas do interior de São Paulo (Muzzarelas, No Class, Língua Chula, etc), o Festival JuntaTribo, a banca de discos do IFCH, o sebo da Rua Barreto Leme, os sarais do Departamento de Música e a exposição contínua aos sons mais diversos culminou em uma busca constante por novos sons e no aumento exponencial da coleção. 

Em 1996 comecei a fazer um programa na Rádio Muda em conjunto com o também colecionador Rodrigo Hernandez por indicação do grande expert de música brasileira, DJ Paulão da Patuá Discos. Neste momento a busca por discos tomou uma proporção muito diferente dos anos anteriores e me tornei um real colecionador de discos.  

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Já organizei a coleção de várias formas. Atualmente ela está organizada em ordem alfabética nos seguintes sub-gêneros: 
Brasil
Artista e bandas de língua inglesa (EUA, Inglaterra, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia)
Europa Continental (menos Leste Europeu e Escandinávia)
Leste Europeu
Escandinávia
Ásia e África
América Latina (Bandas e Artistas do México ao Chile)

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo para guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Tenho uma grande estante na sala de estar do apartamento feita de cubos da Evolukit. Ela comporta cerca de 85% de tudo, o resto está em duas cômodas também localizadas na sala. Para mim é importante ter tudo junto e perto do som, não gosto da ideia de discos distribuídos pela casa. 


Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Todos os discos estão guardados com plástico interno, fora da capa e com dois plásticos externos cruzados e invariavelmente dispostos de pé e nunca muito apertados para desta forma evitar o famoso “ring wear” e garantir a ausência de poeira. Não costumo lavar os disco, somente quando estão muito sujos, e para limpeza uso o velho conjunto de limpeza da RCA. 

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

A essência do meu colecionismo é a música e não o objeto. O objeto é a forma física da obra de arte, o vinil é a tela e a música é a tinta, não existem separados, são forma e meio. O que eu quero dizer é não tenho discos pelo objeto, tenho discos pela música.

Escuto tudo, tenho pouquíssimos discos que ainda não escutei. O que não gosto guardo por um tempo e volto a escutar e muitas vezes tenho uma surpresa positiva. Se depois de algumas tentativas não acontecer a conexão ele vai para sacola de “trocas e vendas”. Escuto tudo e só tenho o que gosto.

Escuto meus discos diariamente depois de colocar as crianças para dormir. Somente quando estou viajando não os ouço, então apelo para o YouTube, que considero uma excelente fonte de pesquisa e de material visual. 

Escutar discos é parte essencial do meu dia. Mesmo que eu durma antes do Lado A acabar, faço questão de sentar na frente da vitrola todos os meus dias.

Outra coisa que faço com frequência é pesquisar coisas na internet. Como cresci assistindo videoclipes na TV, curto muito pesquisar o YouTube para assistir velharias, apresentações ao vivo, bandas novas, entrevistas e tudo que tiver disponível.  


Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

A viagem tem sido longa, mas posso dizer sem erro que meu gênero favorito é o rock, indo do heavy metal extremo ao soft rock, passando pelo progressivo, hard rock, southern e todas as suas vertentes e misturas. Ao mesmo tempo, posso dizer que mais que um gênero, meu foco está nos anos 1970, indo do final dos 60s ao começo dos 80s. Ou seja, praticamente tudo que aconteceu de 1966 a 1986 está na minha mira, tanto faz a língua ou a origem do artista. Mas também me interesso por muitos movimentos específicos dos anos 90s, 00s e 10s.

Sobre bandas favoritas, não tenho um nome único e nunca tive. Diferentes artistas já ocuparam essa posição, mas alguns que sempre estão no topo das minhas listas são Dust, Spirit, Traffic, Neil Young, New Model Army, Jards Macalé e Sepultura (fase Max). 

De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Não sou de completar coleções. Como disse anteriormente só tenho o que gosto, mesmo sendo um artista favorito da casa. Os artistas que tenho mais itens são Chico Buarque, Caetano Veloso, Spirit, Lucifer’s Friend e New Model Army, dos quais tenho aproximadamente duas dezenas de itens ou um pouco mais de cada.


Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

5 dos meus itens mais raros são:
Flaviola e O Bando do Sol - Flaviola e O Bando do Sol (Solar - LP - 100.002 - Brasil)
Satwa - Satwa (Experiência 1) (Rozenblit - LPP-005 - Brasil)
Dr. Strangely Strange - Heavy Petting (Vertigo - 6360 009 -  Inglaterra)
Flower Travellin' Band - Satori (Atlantic - P-8056A - Japão)
Pappo's Blues - Volumen 3 (Music Hall - 2.389 - Argentina)

Agora 5 dos itens que mais gosto atualmente:
Jards Macalé - Jards Macalé (Philips - 6349.045 - Brasil)
New Model Army - Impurity (EMI - EMC 3581 - Inglaterra)
Lucifer's Friend - Lucifer's Friend (Repertoire - RR 2059-LX - Alemanha)
Van Duren - Are You Serious? (Big Sound - BSLP-019 - EUA)
Pappo's Blues - Volumen 3 (Music Hall - 2.389 - Argentina)

Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Não vejo sentido em ter várias cópias do mesmo disco, a não ser que as capas sejam diferentes ou contenham músicas diferentes. Como disse, mesmo com as bandas que mais curto não me preocupo em ter os álbuns meia boca e que não gosto muito. Foco no que gosto e não em ter todos os discos de um determinado artista. Para mim não existe discografia perfeita, a não ser daqueles artistas que lançaram apenas um ou dois discos como o Dust ou o Truth and Janey.


Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Livros. Adoro livros sobre música, tenho aproximadamente 150 livros de biografias (de Renato Russo a Slayer), catálogos, histórias sobre movimentos e tudo o que houver sobre música. Acabei de ler a biografia do Kraftwerk e agora estou lendo a história do Movimento Black Rio, e já está na fila a biografia do Lemmy. Leio constantemente sobre música em livros, revistas e blogs.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Compro principalmente em lojas, mas também me utilizo da internet. A internet é legal, mas não confio no “grade” dado pelos vendedores de internet brasileiros (só confio no Eduardo Lemos da Melomano), então uso a internet principalmente para comprar no exterior. Minha última compra pela internet foram 15 títulos de bandas húngaras e polonesas de jazz-rock, fusion e progressivo de um húngaro que encontrei no Discogs. Adquiri discos de bandas fantásticas como Locomotiv GT, SBB, Skorpio, Syrius e Mini.

A loja de discos é o local onde realmente gosto de comprar LPs. O chamado “digging” é uma aventura, comprar um disco pela capa ou pela ficha técnica, trocar informações com o proprietário da loja e com os outros frequentadores, encontrar um disco que estava atrás há décadas e no final poder negociar um belo desconto. E sem dúvida no Brasil existem muitas lojas de alto nível que merecem nosso suporte.

Por causa do meu trabalho já pude visitar lojas em diferentes cidades brasileiras (Americana, Campinas, Florianópolis, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, João Pessoa e Rio de Janeiro) e diversas cidades do mundo (Los Angeles, Washington, Barcelona, Lisboa, Paris, Londres, Buenos Aires, Santiago e Montevideo). Sempre me esforço para conseguir conhecer uma loja em uma cidade diferente e sempre aparece uma oportunidade ou algo inesperado.  


Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Vou falar somente das lojas brasileiras que mais gosto, sendo que algumas frequento há muitos anos e tenho um ótimo relacionamento com os proprietários:

Big Papa Records: Rua Sete de Abril, 154 - Galeria Nova Barão - Piso Superior - Loja 30, São Paulo/SP 

Disco 7: Rua Sete de Abril, 154 - Galeria Nova Barão - Piso Superior - Loja 24, São Paulo/SP 

Blue Sonic: Rua Sete de Abril, 154 - Galeria Nova Barão - Piso Superior - Loja 37, São Paulo/SP

Heavy Metal Rock: Rua Trinta de Julho, 244 - Centro, Americana/SP

Sempre Música: Rua Corrêa Dutra, 99 - Loja 216 - Catete, Rio de Janeiro/RJ

Tropicália Discos: Praça Olavo Bilac, 28. 2º andar - Centro, Rio de Janeiro/RJ (Mercado das Flores)

Riva Rock Discos: Rua Luzitana, 1498 - Centro, Campinas/SP

Dom Pedro Discos: SCLN 412 Bloco C Loja 20 – Brasília/DF

Algumas lojas virtuais que gosto são: 
Melomano Discos: www.melomano.com.br
Discogs: www.discogs.com

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

No subsolo de um boteco em Salvador, úmido e bolorento. O espaço era pequeno e abarrotado de discos, todos desorganizados e maltratados. Consegui encontrar dois títulos em bom estado: o Batalhões de Estranhos do Camisa de Vênus e o One Way do Light Reflection. Isso aconteceu em uma viagem de família quando perguntei em um bar aonde poderia encontrar discos de vinil em Salvador e ele me indicou este boteco próximo. 


O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Meus amigos estão acostumados como meus discos e alguns deles são colecionadores. Na minha família também, meus discos não são nenhum espanto, afinal os três irmãos estão no negócio há muito tempo. Às vezes um desavisado chega aqui em casa e toma um susto, mas em seguida pede para colocar para tocar alguma coisa.

Acho que o maior estranhamento vem das pessoas do trabalho quando chego com um disco embaixo do braço quando retorno do almoço. Alguns acham excêntrico, outros interessante e outros perguntam sobre o retorno do mercado de discos e coisas do tipo. 

O lado bom das pessoas saberem da minha coleção e o quanto me importo com ela são as doações, atualmente não tão frequentes, mas ainda acontece. 

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Definitivamente ninguém. Não tenho um ídolo ou um espelho nesta jornada. Acho algumas coleções surpreendentes com as do Ed Motta e do Hans Pokora, mas não me vejo seguindo eles como um discípulo. 

Sobre inspiração é diferente. No início meus irmãos foram uma grande influência, mas isso durou até o início da faculdade, quando nossos gostos musicais divergiram. No final dos anos 1990 e começo dos 2000 os livros do Hans Pokora e as saudosas lojas Nuvem Nove (do José Damiano) e Medusa (do Ray e do Rogério) aguçaram minha curiosidade pelos discos obscuros, principalmente de bandas nacionais como Lula Côrtes e Zé Ramalho, Spectrum, Bango, Liverpool, Marconi Notaro, Módulo 1000 e de outros países como Toburk, Icecross, Svanfridur, etc. 

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

É arte. Qual o valor da arte? No meu ponto de vista, me vejo como um curador. É como montar uma exposição com quadros que você aprecia, o valor comercial é secundário. O que me importa é o quanto a música me atinge. Gosto de apreciar a capa, de ler os créditos, do ritual de colocar o disco para tocar e principalmente gosto de escutar discos, e tudo fica muito mais legal quando você faz isso com outras pessoas. É como abrir a galeria de arte para visitação. Não escondo meus discos, gosto de apresentá-los para as pessoas que gostam de música de forma a espalhar o gosto por ouvir música.


Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Sem dúvida sinto orgulho da coleção que montei e sei que por enquanto não vou parar, pois a música e a descoberta de novos sons continua sendo muito estimulante para mim. Talvez um dia eu pare, mas não sei dizer quando. Já passei temporadas adquirindo muito poucos discos, outras adquirindo muitos, já vendi lotes grandes de coisas que não interessavam mais, mas só o tempo dirá aonde está coleção vai chegar.   

O que significa ser um colecionador de discos?

Como disse anteriormente, me vejo como um curador de arte, mas também sou um pesquisador de sons, um amante da música, dos discos e do ócio criativo. Para mim um colecionador de discos é um guardador de pequenos tesouros criados pela criatividade humana e um amante incontrolável da boa música. 

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Tenho escutado muito os seguintes artistas: Van Duren, Les Dudek, Phil Manzanera e Gordon Haskell. E indico os seguintes novos nomes do rock nacional que todo mundo deveria conhecer: Necro, Cosmo Drah, Modulario e Marcenaria.

Gostaria de agradecer a oportunidade de falar sobre os discos de vinil que tanto aprecio e convidar a todos para conhecerem uma pouco mais sobre minha coleção em meu perfil no Instagram, @citvaras76. (www.instagram.com/citvaras76)

Forte abraço.

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