Exaltasamba escancara o que todo mundo sabe: pra tocar nas rádios brasileiras, só pagando


Em entrevista ao jornalista Chico Barney, do UOL - matéria completa aqui -, o grupo de pagode Exaltasamba foi claro e didático ao explicar o porque de o gênero, assim como o rock nacional, não tocar nas rádios Brasil afora: tem que pagar pra isso acontecer.

E por que estamos trazendo essa matéria para um site de rock, falando do Exalta por aqui? Porque a afirmação do grupo é fortíssima e escancara o que todo mundo que trabalha com o meio sabe há décadas: as rádios brasileiras são movidas por jabá e vendem espaço em suas programações musicais como se fossem anúncios de produtos. Isso é bastante sério e merecia uma investigação apurada, já que estamos falando de concessões públicas.

E mais: não pensem que isso acontece apenas nas rádios. Como já falamos inúmeras vezes aqui no site, a mídia especializada em heavy metal aqui no Brasil não tem nada de isenta e faz coisas semelhantes, oferecendo entrevistas bônus pela compra de um pacote de anúncios, garantias de notas elevadas se uma gravadora anunciar em suas páginas, ignorando bandas que não compram espaço em suas páginas e coisas do tipo.

Abaixo estão as declarações do Exaltasamba, onde é possível entender um pouco como as coisas funcionam no mercado musical brasileiro.


O pagode parece viver um momento de retração, com poucos artistas atingindo uma abrangência maior. O público do gênero envelheceu e está interessado apenas na nostalgia dos sucessos antigos?

O problema não se restringe ao pagode ou samba, porque o rock nacional, há mais de dois anos, não aparece uma única vez entre as cem músicas anualmente mais executadas nas rádios do Brasil. Nos últimos anos até o forró pé-de-serra vem perdendo espaço para o sertanejo universitário nas festividades dentro do São João no interior do nordeste.

O problema é que a música nacional como forma de expressão cultural começou a morrer quando as emissoras de rádio institucionalizaram o pagamento de forma obrigatória para que uma nova música, de qualquer gênero, seja executada. Faz mais de vinte anos que as FMs não vivem comercialmente mais de spots comerciais e, com isso, o sertanejo universitário, que chegou no mercado com investimentos de muitos capitalistas ligados à pecuária e/ou agricultura, tomou conta da programação.

É lamentável que uma concessão dada pelo Estado Brasileiro (onde pode entender-se povo brasileiro), como acontece com as emissoras de rádio FM ou AM, seja utilizada para liquidar a música brasileira como forma de expressão cultural. Vivemos uma fase de extinção da MPB. do rock nacional, forró, samba, pagode, brega e qualquer outro segmento musical que não tenha um caminhão de dinheiro.

É claro que o público tem grande interesse pelo chamado pagode retrô. São músicas que, em outras épocas, foram muito executadas pelas rádios em todo o Brasil e o público conhece e sabe cantar. Espaço para novos grupos e artistas existe, mas como um artista novo irá dispor de R$ 600 mil, R$ 800 mil, para gastar em emissoras de FM pelo Brasil, apenas em praças e/ou cidades importantes, a cada dois meses para tentar fazer uma música nova virar sucesso nacional? Essa é a grande realidade, um verdadeiro “segredo de polichinelo”, que todo mundo sabe, mas não comenta.

Como vivemos em um país de terceiro mundo, que sabe no futuro, assim como já acontece hoje no caso das universidades, onde existem cotas para pobres e afrodescendentes, em algum momento o governo vai ser obrigado a estabelecer cotas de horários que obriguem as emissoras de rádio FM e AM do Brasil e executarem músicas de novos artistas de quaisquer gêneros musicais. Se a gente imaginar que o Ministério da Cultura em 2017 começou o ano com um caixa zero para investimentos, vemos que não existe nenhuma preocupação das autoridades quanto à cultura no Brasil.

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