Discoteca Básica Bizz #081: The Supremes - Greatest Hits (1967)


Durante os anos 1960, os Beatles só tinham dois concorrentes em matéria de sucesso: Beach Boys e Supremes. O girl group mais bem sucedido da história foi responsável, nos EUA, por um total de doze primeiros lugares e vinte músicas no Top Ten.

Sua figura principal era Diana Ross, uma garota carismática, ambiciosa, esperta e com olhos gigantescos. Em 1959, com amigas de vizinhança do conjunto habitacional Brewster - igual a dezenas na feiosa Detroit - formou o grupo vocal The Primettes. Por dois anos pastaram em ensaios, bailinhos e concursos de calouros até que em 1961 foram contratadas pela Motown. Viraram então The Supremes.

Florence cantava melhor e Mary Wilson era mais bonita, mas era óbvio que quem tinha a estrela estampada na testa era Diana. Berry Gordy - dono, fundador e mentor da Motown - sabia disso desde o início, por isso a colocou como vocalista principal do grupo, apesar do ressentimento e reclamações de Florence.

Depois de alguns singles fracassados, Gordy resolveu jogar as Supremes nas mãos de um trio de compositores/produtores promissores: Eddie Holland, Lamont Dozier e Brian Holland. Foi um casamento dos céus. A partir do terceiro single produzido pelo trio, "Where Did Our Love Go?", as Supremes iniciaram sua conquista do mundo. Foi o primeiro de uma sequência de cinco números 1 americanos ("Baby Love", "Come See About Me", "Stop! In the Name of Love", "Back in My Arms Again"). No período 1966/1967 o grupo teria mais quatro músicas seguidas em primeiro: "You Can't Hurry Love", "You Keep Me Hangin’ On", "Love is Here and Now, You're Gone" e "The Happening".

Com esses sucessos, H-D-H estabeleceram os padrões do que ficou conhecido como o som Motown, um modelo de pop perfeito que foi seguido por quase todo mundo que queria se dar bem no ramo nas próximas décadas.


A Motown teve sensibilidade para o momento conseguindo se tornar, como seu slogan apregoava, "o som da América jovem". Havia a energia e a simplicidade do rock and roll (ou rhythm & blues), mas havia também uma sofisticação que refletia os gostos da nova juventude urbana, basicamente de classe média - tanto branca como negra. E nada melhor que os vocais doces das Supremes para fazer esse crossover. O segredo da confecção era alcançar a genialidade a partir da simplicidade: bastam os três ou quatro acordes certos e a química acontece.

Características clássicas do Motown Sound incluíam seção rítmica bem à frente, independência da linha de baixo em relação à batida, elementos mais refinados como violinos e sopros e refrãos imediatos. A produção era redondinha, bem polida e equilibrada.

Além da influência musical da Motown, Diana Ross lançou uma escola de vocal pop, leve e agudo (seguido por milhares de cantoras, como Madonna e Jody Watley). Os conceitos de sofisticação, cuidado e limpeza na música, até então inéditos no pop negro - sempre associado à rusticidade e agressividade -, viraram regra no setor: de Isaac Hayes ao som da Philadelphia, da disco à garage house, do swing beat a Earth, Wind & Fire.

Esta compilação fecha no último single das Supremes ("The Happening") antes de serem rebatizadas de Diana Ross & The Supremes. Gordy concretizava aí a ideia de trazer a verdadeira estrela para frente, preparando-a para uma milionária carreira solo.

As Supremes ainda teriam alguns sucessos sem Diana até meados dos anos 1970, e depois passariam a viver de shows de revival. Da formação original só ficou Mary Wilson. E dos anos dourados de sua carreira restaram alguns dos mais sublimes singles da história.

Texto escrito por Camilo Rocha e publicado na Bizz #081, de abril de 1992

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