Review: Neil Young - Hitchhiker (2017)


Em 1976, Neil Young, então com 30 anos e no auge de sua força criativa, gravou em apenas uma sessão um álbum acústico intitulado Hitchhiker. Esse conjunto de canções acabou por nunca ser lançado no formato em que foi concebido: voz, violão e harmônica. Há também uma piano song, "The Old Country Waltz".

Na verdade, várias das canções foram se desdobrando e se encaixando em projetos posteriores do músico, e apenas dois temas permaneceram inéditos: "Hawaii" e "Give me Strength". Quanto ao restante, a radiografia é a seguinte - "The Old Country Waltz" foi gravada ao estilo country band em American Star N' Bars (1976); "Campaigner" entrou como faixa inédita da coletânea Decade (1978); "Human Highway" abre o lado B de Comes a Time (1978); "Pocahontas", "Powderfinger" e "Ride My Llma" se encaixaram em Rust Never Sleeps (1979); "Captain Kennedy" fecha o lado A do ainda subestimado Hawks and Doves (1980). E por último, a faixa título reapareceu elétrica em Le Noise (2010).

Com produção de David Briggs, as dez faixas acabaram por nunca serem lançadas nessa ordem. Auto sabotagem? Tentando entender os 'por quês' do projeto ter sido abortado, acredito que parte dessa decisão passe pela própria profusão artística do compositor. Apesar do minimalismo da produção, as canções de Young apontam para várias direções, há pouca unidade entre elas. No entanto, é uma amostra do poder de fogo de Neil Young, um compositor rumo ao topo, prestes a finalizar a década de 1970 como um dos mais respeitados músicos de seu tempo. E comparadas as gravações que acabamos conhecendo dos discos, hoje, muitas das músicas de Hitchhiker soam como demos de luxo. É o caso de "Powderfinger" e "The Old Country Waltz", completamente remodeladas em seus consequentes registros. Tanto que parte da ideia central da faixa título acabou virando outra música ("Like an Inca"), um dos melhores momentos do contestado álbum eletrônico Trans (1983). 

Na verdade, como registro histórico, o disco é fantástico. É Neil na ponta dos cascos (sem altos e baixos), prolífico e sintonizado com um recorte específico do final do século XX, mas que ainda soa atual e não apenas relevante, bem mais do que isso: genial! Genialidade que parece ter desbotado nos seus últimos discos, mais precisamente (e praticamente) em todos os álbuns que lançou na virada do ano 2000. Na minha opinião, depois de passar pela década de 1990 com um disco melhor que o outro, o último resquício extraordinário do músico canadense é o arrebatador Silver & Gold (2001). Mas falando ainda em tesouros, temos a certeza de que toda a prata e todo o ouro de Neil Young estão distribuídas em uma carreira brilhante. Sim, porque mesmo pilotando discos irregulares como Greendale (2003), essa bolacha contém pérolas como "Falling From Above, ou então Living with War (2006), play que nos deu temas como "The Restless Consumer", 

Mas que grande disco pra se abandonar é esse Hitchhiker! Só os gênios podem nos proporcionar essas bolhas soltas no tempo. Estou em plena viagem nessa trip.



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