Jason Crest: o tesouro esquecido do rock psicodélico inglês dos anos 1960


Muito já se sabe sobre a história do rock psicodélico, suas origens e as grandes bandas que dele vieram. Porém, como é de praxe na história da música, grandes nomes do gênero nos anos 1960 acabaram ficando para trás. 

Entre as inúmeros grupos que surgiram no período, e que, infelizmente, não tiveram tanto sucesso comercial, estava o Jason Crest. Formada originalmente em 1964 (Tonbridge, Reino Unido) pelos amigos Terry Dobson (guitarra), Terry Clark (bateria), Dave Tiffin (guitarra e vocal) e Ron Fowler (baixo, que em 1968 seria substituído por John Selley), a banda levava o nome de The Spurlyweeves. Com a saída de Tiffin vieram dois novos integrantes: o guitarrista Derek Smallcombe, que possibilitou a transição de Dobson para o órgão eletrônico e o mellotron, e o baterista Roger Siggery, fazendo com que Clark se concentrasse apenas nos vocais. 
Com uma nova imagem e as mãos cheias de composições próprias, a banda assina um contrato e começa a tocar no circuito dos pubs mais elegantes de Londres, apoiando e abrindo shows para grupos como The Moody Blues e The Who. Mas foi apenas no fim de 1967 que receberam sua primeira oferta de gravação pela EMI. Porém, antes mesmo do acordo ser fechado, Fritz Fryer, ex-baixista do Four Pennies, que estava trabalhando para a Phillips como A&R Man, viu uma das apresentações dos caras e ofereceu uma oferta de gravação com a Phillips imediatamente. Foi em estúdio para a gravação do seu primeiro disco que o grupo sugeriu o nome Justin Crest, vindo da canção "Collected Works of Justin Crest", sendo modificado depois para “somente Jason Crest. 

Em janeiro de 1968 são lançados os primeiros singles: "Good Life" e "Tourquoise Tandem Cycle". Nessas músicas é clara a influência do Procol Harum na sonoridade do Jason Crest. Baterias com reverberação, linhas de órgão altamente sintetizadas com efeitos de wah-wah e construções harmônicas complexas e excelentes. 


A banda nunca chegou a lançar seu disco de estreia e muito do seu trabalho caiu no esquecimento até 1984, quando a Bam-Caruso Records lança a coletânea The Rubble Collection em 20 volumes, com grandes nomes do rock psicodélico dos anos 1960. Entre os artistas presentes na coletânea estavam o Tomorrow, The Crazy World of Arthur Brown, e claro, Jason Crest. O grupo aparece apenas em três volumes da coletânea, com as músicas "Black Mass”, "Here We Go ‘Round the Lemon Tree" (cover do The Move), "A Place in the Sun" e "Tourquoise Tandem Cycle". 

Em 1998 a ACME Gramophone Recording Company resgatou todas as gravações do arquivo pessoal da banda e lançou em CD The Collected Works of Jason Crest, em clara alusão à música que deu origem ao nome do grupo. Esta mesma coletânea foi lançada em 1999 no formato vinil. Nela podemos perceber que, além do Procol Harum, o Jason Crest traz elementos muito claros da fase psicodélica dos Beatles, como nas músicas "The Collected Works of Justin Crest" e "Teagarden Lane". 


Em 1999 o selo britânico Tenth Planet lançou Jason Crest – Radio Sessions 68-69, um compilado das apresentações da banda em rádios pirata britânicas entre novembro de 1968 e novembro de 1969.

Como qualquer boa banda de rock psicodélico, o Jason Crest não deixava a desejar com sua instrumentação e sua linguagem musical: o uso de feedback e fuzz nas guitarras, a presença forte do órgão eletrônico e do mellotron, assim como a constante mudança de armaduras de clave característica da música psicodélica. 

O Jason Crest foi uma promissora banda dos anos 1960, com músicas e imaginação soberbamente trabalhadas para combinar, mas com um potencial insatisfeito.

Por André Carvalho

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