Quadrinhos: Badida, de Aldo e Camilo Solano


Toda cidade do interior tem os seus personagens pitorescos. Espumoso, pequeno município do interior do Rio Grande do Sul onde nasci e que tem apenas 15 mil habitantes, sempre teve os seus. O Bié tinha dificuldade pra falar, mas adorava subir em um caixote e fazer seus discursos declamando "batata" com afinco e paixão. O Cotê era um senhor pequenino que andava de um lado para o outro com um saco nas costas, e que os pais e mães diziam que “comia criancinhas”. Os irmãos Augusto e Francisco sempre andavam às turras um com o outro, principalmente depois que o segundo arranjou uma namorada chamada Juvelina, que segundo os entendidos era uma ex-professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que havia “enlouquecido”.

Pois bem. São Manuel, cidade do interior paulista, também tem a sua figura. A diferença é que ela virou um divertido quadrinho pelas mãos dos irmãos Aldo e Camilo Solano, também naturais de lá. Adriano Cella, o popular Badida, é conhecido de todos pela sua personalidade pitoresca e sua visão de mundo singular. Homenageando e eternizando algumas de suas histórias, os irmãos Solano publicaram em abril de 2017 a HQ Badida (formato 19 x 27,5 cm, papel pólen, 28 páginas, toda colorida), onde relatam duas das histórias mais surreais vividas pelo personagem.

Camilo Solano (Solzinho, Desengano, Semilunar) vem com o seu traço meio sujo e bastante influenciado por Robert Crumb, características que reforçam, de maneira simultânea, o clima interiorano e o aspecto cartunesco de nosso herói. Com um trabalho de cor forte e marcante, além de uma narrativa gráfica muito bem resolvida, Camilo conta o dia em que Badida quase acabou com o desfile de 7 de setembro em São Manuel.

Já Aldo Solano possui um traço mais limpo, mas que também mantém a expressividade propositalmente exagerada dos cartuns. Sua história conta o dia em que um desavisado visitante decidiu ir na barbearia do irmão de Badida no exato momento em que o próprio estava cuidando do local enquanto o seu irmão estava ausente. O que se desenrola a partir disso é nonsense puro.


Badida é uma HQ despretenciosa, extremamente divertida e que pode ser lida por pessoas de todas as idades. Além disso, é um recorte desses personagens pitorescos que habitam aos montes as pequenas cidades brasileiras, onde acabam virando lendas locais com seus "feitos" sobrevivendo ao tempo.

Conversando com o Aldo e o Camilo na Comic Con Floripa, fiquei sabendo que a HQ foi lançada com pompas em São Manuel, com direito a discurso do próprio Badida e execução do hino nacional, uma das paixões do indivíduo. Imagino que tenha sido um evento inesquecível.

A leitura é tão agradável que fica o desejo de mais aventuras do Badida, o que o número 1 estampado na capa deixa implícito. Tomara que tenhamos mais de seus causos no futuro.

Comentários