Discoteca Básica Bizz #125: Led Zeppelin - Led Zeppelin III (1970)


O ano de 1970 teve dois tricampeões: o Brasil e o Led Zeppelin. Enquanto Pelé, Jairzinho e companhia papavam nosso terceiro título no México, Jimmy Page, Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham terminavam seu disco de número três. Já estabelecido como maior banda de rock do planeta, o grupo não precisava provar nada pra ninguém. Mas Jimmy Page tinha uma dívida consigo mesmo.

A imagem da banda pauleira o incomodava demais. Seus colegas também não dormiam bem com a ideia. "Era uma coisa de jornalismo burro, escroto mesmo", cuspiu Robert Plant, numa entrevista recente. "E sabe qual foi a melhor coisa que fizemos para nos livrar disso? Led Zeppelin III, um disco radicalmente diferente do que se esperava".

Jimmy Page resolveu descansar sua Les Paul 59, trocando-a por violões Harmony e Martin na maioria das faixas. Mas, muito além de simplesmente explorar o lado acústico da banda, o álbum revelou seus novos horizontes. "Friends" usava escalas orientais, "Gallow´s Pole" cavucava as raízes celtas, "Tangerine" tinha inspiração country.

A mudança só foi possível graças a uma paradinha estratégica. Depois de dois anos de intermináveis excursões e, consequentemente, rios de goró e toneladas de tietes, o Led deu uma limpada no carburador se isolando em um bucólico sítio no País de Gales, Bron-Yr-Aur. Naquele ambiente árcade, os cabeludos contiveram seus impulsos barulhentos e entregaram-se aos nobres raptos do folk. "Na época, acharam que era suicídio comercial", lembrou Robert Plant.


Quanta estupidez! Difícil não se contagiar pela alegria de "Bron-Y-Aur Stomp" ou pelo eletrizante slide de "Hats Off to (Roy) Harper". Impossível não acreditar no fascínio de obras-primas como "Tangerine" e "That's the Way". E não era só isso não. Os rocks da safra III, poucos e bons, são todos inesquecíveis. A começar pelo que abre o disco, "Immigrant Song", saga viking de pilhagens e estupros imaginada por Plant. "Celebration Day" tem Page infernal, acompanhando o banho de euforia dos vocais: "Ma-ma-ma, I'm so happy!". E, claro, "Out on the Tiles" (expressão que faz referência às noitadas ultra-mega-etílicas de John Bonham), um groove chumbado que é tudo o que Lenny Kravitz nunca vai conseguir fazer.

Nada disso, porém, se compara ao derramamento de sangue, suor e lágrimas promovido pelo bluesão (não ortodoxo no que tange aos doze compassos) fundo de poço "Since I´ve Been Loving You". Sete minutos de êxtase, gravados ao vivo no estúdio (John Paul Jones fez o baixo nos pedais do órgão). Para muitos, o momento mais emocionante do Led Zeppelin. Quando Robert Plant canta: "Can't you hear me? Can't you you hear me?", parece que o céu vai desabar. Ilusão pura. Nesta hora, o ouvinte é que está lá em cima, nas alturas.

Texto escrito por Pedro Só e publicado na Bizz #125, de dezembro de 1995

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