Discoteca Básica Bizz #128: Yes - Fragile (1972)


Em meados de 1971, o rock progressivo estava na moda na imprensa britânica. Eram os "alternativos" da ocasião. E o Yes chamava a atenção da mídia por ter trocado o tecladista Tony Kaye por Rick Wakeman, ex-músico do estúdio de curta passagem pelo grupo Strawbs.

Fragile, que saiu em 4 de fevereiro de 1972, traz quatro faixas em arranjos coletivos do grupo e cinco solos. Wakeman se apresenta com um arranjo de um movimento da Quarta Sinfonia de Brahms, um exercício de substituição de timbres na era do sintetizador analógico (à moda de Walter Carlos). Jon Anderson se esmera em suas letras que só valem pela sonoridade em "We Have Heaven". Steve Howe e Chris Squire exibem seus dotes ao violão e baixo, respectivamente, e o baterista Bill Bruford indica que já andava com a cabeça em outros campos em sua faixa, "Five Per Cent for Nothing".

Fragile representa o ponto mais delicado do equilíbrio entre as figurinhas difíceis que formaram o Yes. Foi instituído um esquema de discussão de cada detalhe dos arranjos. A postura "hippie-chique" de Anderson, Squire e Howe era a que casava melhor com a proposta. Com anos de academia e estúdio, Wakeman se adaptou ao sistema, apesar de estar mais interessado no estrelato pop. Para o jazzista Bruford, tocar sem improvisos era uma camisa-de-força artística.


O álbum também indica o ponto em que se encontram o Yes pop e experimentador dos primeiros discos com a banda profissional, mas auto-referente, dos anos seguintes. A faixa "Roundabout" é um exemplo disso. Ela mantém-se acessível aos ouvintes de outras correntes do rock porque é fiel à estrutura do pop inglês do final dos anos 1960, adicionando ornamentos característicos do background musical dos integrantes do grupo. "Roundabout" tem uma levada pop que alterna as intervenções de inspiração erudita de Howe, tudo ligado pela refinada base harmônica de Wakeman, também muito preciso na escolha de sons de seu arsenal de teclados. Lá pela metade a música desvia para um "heavy caribenho", chance para Bruford mostrar suas habilidades.

"South Side of the Sky" repete a mesma ideia, só que experimentando um som mais pesado, enquanto "Heart of the Sunrise" carrega nas passagens dramáticas. Só "Long Distance Runaround" mostra uma construção diferente, com dois temas que se alternam até Chris Squire abrir seu solo, "The Fish".

O Yes mostrou em Fragile o que os jovens ingleses de classe média, treinados em conservatórios, poderiam fazer no rock sem fugir muito do entretenimento. Daí por diante eles começaram a se levar muito a sério.

Se o rock progressivo tinha algo de bom, era a liberdade de ousar misturar qualquer tipo de informação musical. Fragile foi a chance do Yes de encontrar seu ponto certo nessa mistura antes de envelhecer.

Texto escrito por Marcos Smirkoff e publicado na Bizz #128, de março de 1996


Comentários

  1. O Yes é muito chato, mas os seus músicos são de grande nível.Anderson tem uma voz chatíssima; Brufford é monstro; Wakeman e Howe,idem. E "Roundabout" é, sem dúvida,uma grande canção.

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  2. Squire também é genial.O progressivo - com poucas exceções - era chato.
    A banda que mais gostei delas todas foi o Eloy.

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