Discoteca Básica Bizz #130: Soft Cell - Non-Stop Erotic Cabaret (1981)


O começo dos anos 1980 foi marcado pelas duplas de tecnopop. Enquanto os Sparks atormentavam os Estados Unidos no final dos anos 1970 com uma visão cômica e freak da modernidade americana, no Reino Unido surgiam os responsáveis pela fusão do tecnopop com outros estilos. Haviam reedições do blues (Yazoo) e referências bregas - a cargo de Associates.

Mas a dupla mais espalhafatosa e genial foi o Soft Cell, misturando o kitsch com matizes rosa-choque às inesquecíveis, e por vezes dramáticas, melodias extraídas dos sintetizadores. O máximo do legado de Marc Almond (vocais) e David Ball (sintetizadores, tapes e outras geringonças) foi Non-Stop Erotic Cabaret, uma viagem ao submundo da pornografia, decadência e solidão.

Por conta de suas letras sarcásticas, recheadas de contos eroticamente subversivos, Almond se tornou um herói/vilão da cena clubber da época. Através dos timbres estrategicamente futuristas dos teclados de seu parceiro, o cantor ilustrava suas neuroses, tornando cada faixa de Non-Stop Erotic Cabaret um conto inesquecível. Registros como "Bedsitter", a versão imortalizada de "Tainted Love" (originalmente gravada por Gloria Jones), além das sardonicamente ferinas "Sex Dwarf" e "Frustration" - que abre de maneira histérica este clássico dos anos 1980 - ostentavam de maneira obsessiva um ponto de vista cínico e ao mesmo tempo romântico dos boêmios e atormentados seres que penavam no anonimato do underground londrino.


Em "Secret Life", Marc, sempre trágico, cantava um infame episódio da vida dupla de um homem casado, imaginando o escarcéu que seria se sua mulher descobrisse sua porção Marilyn. Em "Seedy Films", um de seus personagens participa de um discreto bas-fond numa sessão de filmes eróticos em uma espelunca qualquer - provavelmente nos arredores de Leicester Square.

Só que foi na bela "Say Hello, Wave Goodbye" que Almond imprimiu de maneira sublime toda sua teatralidade e sentimentalismo. A música é um dos momentos antológicos da dupla, com os teclados majestosamente orquestrados numa tórrida tentativa de arrancar soluços e lágrimas das almas solitárias.

Dois anos depois a dupla lançou The Art of Falling Apart (em bom português, "a arte de se arrasar") e chegou ao fim com o pesado This Last Night in Sodom. Marc Almond foi exorcizando gradativamente seus demônios com o Marc and The Mambas e discos tributo a seus ídolos. Dave Ball se afundou na tecnologia de ponta com os seus projetos English Boy on the Love Ranch e com o atual The Grid. Em 1995, Almond conseguiu algum destaque em revistas como Attitude e Gay Times numa retornada do high energy, seguindo os passos de seu coleguinha Jimmy Sommerville.

Texto escrito por Luiz A. Pecora e publicado na Bizz #130, de maio de 1996

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