Quadrinhos: Paper Girls Vol. 2, de Brian K. Vaughan e Cliff Chiang


O saudosismo em relação aos anos 1980 é o ponto de partida de Paper Girls, série em quadrinhos escrita por Brian K. Vaughan (Saga, Y: O Último Homem, Os Leões de Bagdá) e ilustrada por Cliff Chiang (Mulher-Maravilha, Arqueiro Verde & Canário Negro). Mas não no sentido de trazer de volta alguma atração, artista ou momento marcante daquela década, mas em outro sentido bem mais amplo: em Paper Girls, Vaughan e Chiang apresentam aos leitores atuais a diversão, o mistério e a aventura em doses gigantescas que fizeram dos filmes lançados naquele período (como Indiana Jones, De Volta para o Futuro, E.T., Os Caça-Fantasmas e outros) alguns dos maiores clássicos do cinema pipoca.

Em Paper Girls, que chega ao segundo volume aqui no Brasil, ambos lançados pela editora Devir, acompanhamos uma turma de entregadoras de jornal, todas entre 11 e 13 anos, que encontram pelo caminho indivíduos de outro mundo e se vêem envolvidas em uma trama com direito a viagens no tempo e outros conceitos de ficção científica.

O primeiro ponto de destaque de Paper Girls é o fato da série ser formada, quase exclusivamente, por personagens femininas. Todo o protagonismo é do quarteto de garotas, que são construídas com profundidade pelo roteiro e pelos diálogos bem escritos por Brian K. Vaughan. Cada uma delas - Erin, Mac, KJ e Tiffany - tem uma personalidade bem definida, e suas particularidades conversam de maneira complementar com cada uma das outras. Nesse aspecto, é interessante lembrar o quanto a figura feminina é recorrente na obra de Brian K. Vaughan, seja na já clássica Y: O Último Homem (onde todos os seres vivos com o cromossomo Y morrem subitamente, menos um garoto e seu macaco, e ambos passam a conviver em um mundo habitado exclusivamente por mulheres) ou na atual - e não menos excelente - Saga, em que a história é narrada pelo ponto de vista da pequena Hazel, filha do casal Alana e Marko, amantes apaixonados vindos de lados opostos de uma guerra centenária.


A narrativa de Vaughan prima pelo dinamismo e usa artifícios que remetem a filmes como Conta Comigo, em que a história também é construída tendo como alicerce central a amizade entre os personagens principais. Já a arte de Cliff Chiang vem com o traço bastante original do artista, devidamente intensificado pela escolha de retratar os personagens com um sutil toque vintage, ingrediente que fica especialmente visível nos rostos do quarteto de garotas. O uso criativo das cores, a cargo de Matthew Wilson (The Wicked + The Divine, Viúva Negra, Mulher-Maravilha), é outro ponto importante, pois utiliza o contraste como elemento narrativo e, em diversos momentos, reduz a palheta para um número reduzido de tons, criando um resultado que casa de maneira perfeita com o que está sendo contato pelo texto e pela arte.

Neste segundo volume, a história inicia em 1988 e dá um salto temporal até 2016, com as garotas entrando em contato e ficando maravilhadas com a tecnologia do nosso tempo. Isso gera boas situações e interações interessantes entre as personagens, ao mesmo tempo em que expõe a disparidade entre as aspirações e os sonhos adolescentes e a dura e nem sempre bela vida adulta ao colocar frente a frente uma das personagens e sua versão mais velha.


A edição da Devir é muito bonita e vem no formato 17x26, capa brochura, papel couchê e 128 páginas, e segue o padrão que a editora tem adotado para esse tipo de publicação.

Paper Girls é uma história deliciosa e que garante uma ótima leitura. Não à toa, a série foi premiada com vários Eisner Awards e recebeu também um Hugo Award. Publicada mensalmente pela Image, foi compilada em cinco encadernados lançados no mercado norte-americano, volumes esses que servem de molde para as edições da Devir. Agora, é esperar que os demais também saiam por aqui e que a editora brasileira não demore tanto  para disponibilizar o terceiro, quarto e quinto volumes da obra de Vaughan e Chiang - o primeiro saiu em março de 2017 e o segundo em agosto de 2018. 

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